I was kissed by Nico Di Angelo - Three - He got so brave with the drink in hand

 



一 E essa blusa? 一 Ergo a camisa no ar. Nunca usei ela e não estou gostando muito de como me imagino vestindo-a.


 Kay inclina a cabeça pro lado e franze o nariz, desaprovando.


一 Amarelo? Não combina com o seu cabelo nem com a camisa flanelada que você vai usar por cima. 一 Ela aponta para um dos cabides. 一 Pega aquela ali.


 É uma espécie de regata que o Liam me deu de presente no Dia do Cunhado (8 de junho) recentemente, como uma indireta ao Austin. A regata em questão é branca e é feita de um tecido muito gostoso e leve. É do tamanho perfeito pra não apertar meu corpo, mas não ficar folgado e valorizar a barriga seca que eu mantenho com exercícios diários.

 Pego a regata do cabide e a visto rapidamente, colocando a camisa de flanela xadrez verde que Kay comprou pra mim já faz um tempo. Deixo a camisa aberta. Me olho no espelho e fico feliz com o resultado. Combina com a calça jeans clara e o all-star bissexual pintado à mão. 

 Me sinto bonito de uma maneira que nunca tinha me sentido antes. 

 Essa festa promete muitas coisas. Talvez de agora em diante as pessoas me enxerguem diferente. Nunca mostrei que tenho "shape", nunca deixei nada claro sobre minha sexualidade, nunca deixei o cabelo tão volumoso como ele está agora.

 Minha irmã se levanta da minha cama e pega um potinho de glitter furta-cor. Com a pontinha do dedo, ela passa no canto externo dos meus olhos e nas maçãs do meu rosto. Pega um punhadinho com os dedos e anda ao meu redor, jogando glitter no meu cabelo.

 O resultado final é mágico, como se eu tivesse saído de um clipe de música ou de um filme queer. Estou assombrosamente bonito e confiante. Finalmente eu me pareço comigo mesmo. Não apenas um irmão zeloso, um estudante esforçado ou apenas um garoto dedicado os seus interesses pessoais, mas um garoto realmente bonito, com brilho próprio.

 Talvez mais literalmente do que figurativamente.


一 Você está perfeito, Will. 一 Ela dá pulinhos sem sair do lugar. 一 Como o mocinho de um filme de romance. Dá uma voltinha.


一 Um filme de baixo orçamento, ao que parece. 一 Respondo enquanto faço o que ela pediu.


一 Que baixo orçamento o quê. Deixa de ser bobo. Tá perfeito.


 Batidas na porta me tiram do torpor causado pela maravilha do look, mas não apagam minha felicidade. Se minha alegria fosse convertida em energia, ela poderia abastecer nossa casa pelos próximos dois meses inteiros. E olha que moram 4 pessoas aqui em casa. Olho para meus tênis, feliz com o que vão confirmar às pessoas.


一 Pode entrar. 一 Autorizo e Kay me passa um gloss de morango que ela ganhou de uma das namoradas e nunca usou. 一 É pra eu passar?


一 Claro, ué. Estou com um pressentimento de que você vai precisar. 一 Ela pisca pra mim, enigmática e implicante.


 Minha mãe entra no quarto bem na hora em que abro parcialmente a tampa. Levo ao nariz e inspiro. Tem um cheiro bem forte de morango. Eu amo morango. É a minha fruta favorita. Sempre gostei daquele desenho 2D da Moranguinho. Foi a minha obsessão de infância. Mainha se encosta no meu guarda-roupa e me olha de cima a baixo com um sorriso.


一 Você está lindo, filhote.


一 Obrigado, mãe.


一 Quer que eu te leve até a festa?


一 Não precisa, mas obrigado. Jason vai me buscar e posso vir de ônibus se ele acabar bebendo lá. Mas é improvável. Não sei se nem mesmo o Leo é capaz de convencê-lo a beber quando ele vai dirigindo.


 A expressão dela fica ligeiramente preocupada a menção do nome do meu melhor amigo.


一 Você já se acertou com ele?


 Sinto um aperto no peito.


一 Não.


 Kay saí do quarto, dando-nos privacidade para a lição de vida que está por vir.


一 Vai falar com ele em algum momento?


一 Vou, claro que vou, mas não consigo agora.


一 Espero que consiga em breve. É horrível perder amizades tão importantes.


 Meu coração palpita dolorosamente.


一 O que quer dizer com isso?


 Ela desencosta do meu guarda-roupa e senta na cama, tudo devagar e com o olhar distante. Tem algo por trás de seus comentários sobre a minha discussão com o Leo. Tem algo que ela está prestes a me contar. Ansioso, eu espero que ela fale.


一 Eu tive uma amiga muito próxima na escola. 一 Começa a contar rápido, como se estivesse tirando um bandeide. 一 Ela era muito talentosa. Escrevia músicas, poesias e histórias que me deixaram de queixo caído. Cantava tão belamente que eu sentia inveja dos aplausos e ficava cética de seu nervosismo. 


 Absorvi as palavras com certo choque.


一 Eu era amiga do seu pai na época. Ele era encantado por ela. Completamente apaixonado. Eu gostava dele, então sentia ciúmes. Passei muito tempo me sentindo mal com esses sentimentos porque ela sempre foi uma pessoa maravilhosa. Um anjo. E eu a odiava por nada mais do que sentimentos bobos por um garoto bonito que tinha dificuldades em se estabelecer em qualquer relacionamento que tivesse.


一 Você era amiga do papai?


一 Melhor amiga dele. Conhecia-o melhor do que ninguém. Por isso sabia que ele realmente a amava. Mais do que havia amado qualquer pessoa com quem tinha se relacionado. Ela era maravilhosa, mas não perfeita e ele amava que ela não fosse perfeita. 


一 O que aconteceu?


一 Briguei com ela. E com ele também. Conheci o pai de Lee, fui feliz por um tempo. Mas aí ele foi embora. Apolo voltou e experimentamos como seria. Não deu certo. Ele paga a pensão certinho e me deu guarda total. Não faço questão de vê-lo e você nunca fez questão de conhecê-lo. Tudo excelente. Mas... eu nunca recuperei a amizade que perdi com ela.


 O silêncio se assenta enquanto processo o que ela me contou. Uma amiga próxima, ciúmes, inveja, sentimentos bobos, uma discussão entre eles, uma amizade que ela não pode recuperar e um arrependimento profundo. É uma grande lição de vida.

 Ela me lança um olhar maternal e sorri, melancólica.


一 Faz as pazes com Leo. Promessa nenhuma custa uma amizade tão incrível.


 Concordo com a cabeça e ela se levanta, vem até mim e segura meu rosto com cuidado. Me inclino e ela beija minha testa. Seus olhos estão cheios de amor. Consigo perceber que ela me vê como seu menininho que aos 8 anos perseguia sapos pelo quintal.


一 Você está lindo, meu filho. Lindíssimo. 一 Ela vai até a porta e me olha por cima do ombro com uma sobrancelha arqueada. 一 Tá querendo impressionar alguém?


 Meu rosto esquenta e finjo estar bravo. Nem tinha pensado se Nico estaria na festa. Cruzo os braços e viro o rosto pra um lado.


一 Poxa, mãe. Esperava mais de você. Não estou arrumado pra ninguém. A senhora me conhece o suficiente pra saber que não sou disso, não.


 Ela ri e desfaço a carranca. Vou até o espelho e passo o gloss com cuidado. Com uma provadinha rápida, constato que tem gosto de morango mesmo. É docinho. E o gloss tem brilho também. Aposto que foi a Lavínia que deu isso pra Kay.


一 Will! O Jason vai chegar daqui a dois minutos! Você tá pronto? 一 Grita minha irmã.


 Olho pra porta e vejo minha mãe me observando. Ela sorri, se retirando sem dizer nada. Deve ter achado engraçado eu provando o gloss.


一 Já vou! 一 Grito em resposta.


 Coloco o gloss na bolsa que eu vou levar. Lá dentro tem meu celular, um carregador portátil, um punhadinho de dinheiro, minha carteira, minhas chaves, lixa de unha e fones de ouvido, se eu precisar atender alguma ligação ou ouvir um áudio em um lugar barulhento, o que provavelmente vai acontecer. Confiro pela última vez se está tudo certo e saio do quarto.

 No balcão da cozinha tem várias e várias caixas de confeitaria com os meus bolinhos especiais, como se eu os tivesse feito sob encomenda ou algo assim. Kay teve uma ideia de gênio de misturar um pouco da geleia caseira de morango dela com o chocolate que eu derreti pra cobertura e ficou absolutamente maravilhoso. Todos os bolinhos estão recheados com geleia de ameixa e cobertos com essa mistura incrível que ela fez.

 Vou precisar da ajuda de Austin e Kay pra levar pro porta-malas do carro de Jason e precisarei da ajuda dele e de Leo pra levar tudo para as mesas de comida da festa, mas vai valer a pena. Piper pediu que eu levasse considerando que talvez eu não pudesse fazer. Em contra-partida, eu fiz bolinhos suficientes para um batalhão.

 Pego meu celular para olhar as horas e Kay olha pra mim com a sobrancelha arqueada.


一 Tudo aí?


 Reviro os olhos. Tava demorando.


一 Sim.


一 Celular?


一 Sim.


一 Chaves?


一 Sim.


一 Carteira?


一 Sim.


一 Convite?


 Congelo.


一 Ops...


一 Vamos logo, Will!


 Quase que eu esqueço em casa. Corro pro quarto enquanto Jason buzina para nos alertar que chegou. Consigo vê-lo descendo do carro pela janela quando volto pra cozinha. Leo está com ele, descendo do banco do carona depois que Jason abre a porta pra ele.

 Vou agir normal com ele, colocar tudo no carro e ir pra essa festa de uma vez por todas. Estamos indo só um pouco mais cedo por causa da questão dos bolinhos, mas Piper já foi avisada. Tudo certo. Respiro fundo para me preparar.

 Meu coração está acelerado e penso, mais de uma vez, se isso não tem a ver com o pressentimento misterioso de Kay sobre a noite de hoje.


💋


 A viagem foi surpreendentemente tranquila. Sem farpas, comentários ou algo parecido. Leo pareceu meio surpreso por eu tratar-lo normalmente depois do que rolou, mas seguiu a onda sem questionar. Pareceu esperançoso quando ri de suas piadas. Vou chamá-lo para conversar depois que a festa acabar, isso se ele estiver em condições de conversar.

 Agora, na festa, tudo está em seus devidos lugares. Jason e Leo foram buscar um pessoal, então não estão aqui. A festa mal começou e já tem algumas poucas pessoas aqui na mansão da família McLean. A sensação é de que o salão vai ficar lotado em breve.


一 Tá batizado? 一 Rachel me pergunta, segurando o bolinho púrpura com cobertura levemente rosada em sua mão.


一 Não, não tem uma gota de bebida alcoólica aí. Pode comer sem medo.


 Ela sorri de um jeito levemente afetado e sei que está contemplando minha aparência.


一 Você está lindo, Will. 一 Elogia, por fim.


一 Obrigado. Você também.


一 Estou mesmo. 一 Ela dá de ombros, fazendo graça. 一 Obrigada.


 Abro um sorriso e observo-a ir enquanto tomo um gole pequeno do refrigerante que peguei. Rachel é próxima da Annabeth, que já fez alguns trabalhos em trio com o Leo e o Nico. Fico me perguntando se ela sabe de alguma coisa, mas é provável que não. A ruiva tem naturalmente esse ar de quem sabe algo que ninguém mais sabe e ela está descontraída demais perto de mim. Se ela sabe algo, não é sobre mim.

 Piper, a dona da festa, vem até a cozinha e sorri de orelha a orelha ao me ver, analisando meu visual de cima a baixo e parando nos meus tênis.


一 Você é bissexual!


一 Sim, eu sou.


一 Por que você nunca me contou?


一 Você nunca perguntou. 一 Dou um sorriso zombeteiro a ela e tomo mais um gole do meu copo. 一 Muita gente vai vir?


 Piper se apoia no balcão ao meu lado.


一 Umas 30 e poucas pessoas. Não duvido que entrem penetras, mas não me importo. É pra ser uma festa divertida. Só vou intervir se começarem a fazer bagunça.


 Assinto, sem muito mais o que fazer ou falar pra continuar a conversa. Ficamos em silêncio por um tempinho e eu torço fervorosamente que alguém a chame pra resolver algo da decoração, mas não acontece.


一 Então... 一 Ela começa, meio sem jeito. 一 Você e Leo.


 Arqueio uma sobrancelha.


一 O que tem?


一 Eu não imaginava que fossem tão próximos.


 Eu beijei ele, por acaso?, tenho vontade de dizer,

 Dou de ombros.


一 Ele é meu melhor amigo.


 Piper aperta os dedos uns nos outros e um músculo se contrai em sua mandíbula, como se soubesse de alguma coisa. Por que, Deus? É só comigo que essas cambadas aparecem...


一 Vocês nunca andaram juntos na escola. 


一 Eu não gosto de socializar na escola. 一 Respondo, com um ar de riso pra não parecer grosseiro. 一 Uso meu tempo pra estudar e fazer trabalhos. Já é cansativo o bastante revisar os conteúdos em casa. Prefiro assim.


 Ela concorda com a cabeça brevemente. Parece tão desconsertada. Quer saber? Que se foda também. Eu já desisti de esconder as coisas dos outros. Essa festa é o meu limite. Se Piper perguntar qualquer coisa sobre isso, eu vou responder honestamente. Eu tentei fazer Leo prometer e olha só o que rolou. Tudo em vão. Então foda-se também.


一 Vocês são amigos há muito tempo? 一 A morena pergunta, pegando um dos bolinhos que eu trouxe. 


一 Desde o quinto ano. Éramos de salas diferentes, mas jogávamos videogame juntos. Ninguém nunca tinha perguntado se éramos amigos, então nunca falamos nada.


一 É que você é todo fechado, sabe? O Leo é todo descontraído, zombeteiro. Ninguém pensou que duas personalidades tão distantes pudessem se dar tão bem.


一 Eu entendo o que você quer dizer. O nerd sério e o palhaço.


一 Will...


一 Por mais que eu entenda, não concordo. Não faz sentido nenhum.


 Ela arregala os olhos.


一 Do que está falando?


一 Você é a engraçada, a social, a amigável. Annabeth é séria, focada, estudiosa. Mesmo assim vocês se dão bem. São melhores amigas. 一 Beberico mais um gole do refrigerante. 一 Você não acredita que eu e Leo não seríamos amigos pela personalidade. Você acredita que não seríamos amigos por outra coisa... Se bem que o Leo é um dos caras mais nerd's que eu já conheci.


 Os olhos de Piper estão úmidos, percebo. É difícil notar por causa da luz púrpura que ela colocou na cozinha, mas percebo. Está chorando. Não sei por quê. Eu fui muito agressivo? Que merda. Meu estômago se revira.


一 Merda... Desculpa. Eu...


一 Não se desculpe. Você está certo. 一 Ela morde o bolinho e seus olhos ganham um brilho empolgado. 一 Por Afrodite, garoto! Seus bolinhos são incríveis!


一 Obrigado, Pipes.


一 Disponha... É que... Eu não quero acreditar que meu irmãozinho de consideração não me contou sobre você, se vocês realmente são tão próximos. Eu amo o Leo como se ele fosse sangue do meu sangue. Só...


一 Ficou mal com a possibilidade de ele não ter confiado em você?


一 Exatamente. 一 Ela morde o bolinho de novo. 一 Juro que eu vou começar a comprar qualquer doce que você fizer. Isso tá um manjar dos deuses.


 Sinto meu rosto esquentando. Austin fica falando dos meus feitos culinários pra todo mundo, mas nunca permiti que ninguém provasse. Acho que essa festa vai mudar muita coisa. Mostrar as pessoas coisas que elas nunca souberam. Talvez esse tenha sido o pressentimento de Kay. Algo vai acontecer e vai deixar a vida de alguém de cabeça pra baixo.


一 Honestamente... 一 Piper começa a dizer. 一 ...eu te adoro. Você é o cara mais esforçado que eu conheço e certamente o mais bonito. Se eu não fosse lésbica, com certeza estaria dando em cima de você fervorosamente.


一 Hm... Obrigado?


一 Você daria um fora em mim?


一 Olha, eu fico lisonjeado com os elogios, mas sim, eu daria um fora em você.


 Ela franze as sobrancelhas, indignada.


一 Por quê?


一 É que eu sou fiel a respirante.


 Piper cobre a boca e dá um gritinho. Ela é basicamente o braço direito do Cupido, então deve estar radiante com essa informação. Por que que eu fui falar? Ela se inclina na minha direção como quem vai ouvir um segredo.


一 Quem é? Eu conheço?


 Bebo um gole de refrigerante para disfarçar a vermelhidão que está começando a cobrir meu rosto inteiro e olho para a porta de entrada bem a tempo de ver a pessoa mais divinamente deslumbrante que eu já vi entrar. Engulo, com dificuldade por não lembrar como se faz isso, mas não importa. Essa conversa não importa. Essa festa não importa. A enormidade do que eu possa vir a falar não importa.

 Porque Nico Di Angelo chegou.



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