Querido Nico,
Eu estava tão cansado que não concluí meu raciocínio. Apenas encerrei a carta, guardei-a no envelope e a pus na minha gaveta. Hoje é um novo dia e pretendo não terminar as coisas por casualidades inconvenientes. Não vou deixar de finalizar as cartas adequadamente por nenhum motivo que surgir.
Enfim... Retomando de onde parei.
Terceira das onze coisas que amo em você: sua voz. Sua voz é um dos sons mais belos que já tive o prazer de escutar. Sua voz tem o timbre perfeito em meus ouvidos. Eu te ouviria falar sem parar sobre qualquer coisa pela eternidade, se isso fosse possível. Se eu morrer, quero passar meu pós-vida num limbo onde tudo o que eu faça seja ouvir sua voz melodiosa falar comigo pra sempre.
Eu sei que você acha sua voz menos grossa do que gostaria que ela fosse, mas, para mim, é perfeita. Não é grave demais, mas não é nenhum pouco fina. Eu adoro quando você chama meu nome em diferentes tons, evocando-me com diferentes sentimentos. É tão bonito. A primeira vez que te ouvi chamar meu nome, pensei que fosse morrer.
Por que estou mencionando sua voz? Porque eu, você e Leo ficamos como um trio para o trabalho de geografia, lembra? Eu fiquei com a parte de pesquisar e escrever os textos, Leo ficou com a parte de mandar o pdf que seria enviado para o professor e você ficou com a parte da apresentação pra classe.
Ouvir você falar sobre tipos de bioma foi a coisa mais linda e fascinante do mundo. Absorvi cada palavra, completamente despreocupado se parecia um bobo apaixonado na frente da sala enquanto te encarava. Se você continuar tão fofo e gostoso assim, meu coração não vai suportar, Di Angelo.
Sabe... Ter sua companhia tem sido um presente. Estamos ficando cada vez mais próximos, nos tornando amigos cada vez mais queridos um do outro. Eu consigo perceber que você me considera um pouco mais a cada dia e sou eternamente grato a qualquer deus que tenha ouvido minhas preces. Acho que eu soei muito patético na minha primeira carta e resolveram me abençoar com a sua amizade.
Seja lá o que tenha acontecido lá em cima, estou muito feliz. Estou feliz porque eu tenho você, de alguma forma. A amizade que nós temos é melhor do que o nada que eu tinha antes. E... eu te amo mais ainda a medida que convivemos. Pode parecer impossível, mas eu te amo mais a medida que vou descobrindo coisas sobre você.
Eu não sei se você me vê de forma semelhante. Eu não sei se você está se apaixonando por mim. Eu não sei se você me enxerga como um potencial romântico. Eu não sei se você me quer desse jeito avassalador que eu te quero. Mas tudo bem se não. Porque você é um ser humano tão complexo quanto eu e sentimentos são imprevisíveis. Eu só... tenho esperanças.
☀ ✲ ☀
一 Eu sempre gostei de música. 一 Você diz, virando para mim por um momento. 一 Rock, em especial. Hoje em dia evoluiu para um Pop Rock, mas ainda tenho uma playlist velha de Rock que ouço de vez em quando. Os ritmos apocalípticos e frenéticos são bem legais.
E eu assinto, bebendo sua voz a cada sílaba que você pronuncia. Estou estático, maravilhado com a melodia que sai da sua boca.
一 Deixa eu ver sua playlist?
Sorrio.
一 Claro. 一 Respondo, pegando meu celular e abrindo a lista de playlist's. 一 Aqui.
Você pega o celular delicadamente da minha mão, lendo os títulos e abrindo uma ou outra. Deito-me de costas no chão novamente, encarando o teto do meu quarto. Eu finalmente trouxe você aqui. É surreal. Estava um pouco bagunçado porque eu estava estudando, mas consegui esconder as cartas que escrevi para que você não as encontrasse mesmo que vasculhasse, o que você educadamente não fez.
一 Pop music é legal. 一 Você diz, por fim, me devolvendo o aparelho. 一 Suas playlist são bem variadas. Para estudar, para escrever, para faxinar, para dormir... Você escreve algo além das suas músicas?
一 Escrevo, mas geralmente ficam guardadas junto das minhas composições.
一 O que você escreve?
一 Histórias curtas, poemas, cartas...
一 Você escreve cartas? Para quem?
Comprimo os lábios, temendo que a verdade me escape. Não quero contar. Não vou contar.
一 Para muitas pessoas. Pessoas que eu convivi, pessoas que sinto saudade, pessoas que me fizeram mal, pessoas com as quais eu não posso dizer exatamente como me sinto. Meu terapeuta disse que era bom.
一 Você se reprime muito, né? 一 Você diz, os olhos que eu tanto amo parecendo enxergar a minha alma. Há tanto sentimento na sua voz que fico meio atordoado.
一 Sim... Desenvolvi esse mecanismo de defesa de não falar meus sentimentos. Acaba me sufocando. Melhorei muito depois de começar a escrever cartas e a guardá-las, mas não estou cem por cento. Eu estou me expressando muito melhor, só que...
一 ...não verbalmente?
一 É...
Você se deita mais perto de mim, a mão perigosamente roçando na minha. Quero entrelaçar nossos dedos. Quero segurar seu rosto em minhas mãos e te beijar. Quero confessar o que sinto, mas fica entalado na garganta. Não posso concretizar nenhum de meus desejos. Eu te amo mais do que palavras podem expressar e não posso demonstrar isso plenamente. Porque somos amigos agora. E te beijar agora talvez estrague isso pra sempre.
一 Eu sei como é. 一 Você sussurra. 一 Sentir tanto por alguém e não conseguir dizer. Parece que você está engolindo mais do que consegue suportar. As palavras crescem, se multiplicam ao ponto de você pensar que vai explodir, mas simplesmente não consegue colocar pra fora.
一 Essa foi uma boa metáfora. Mas me trouxe uma péssima imagem mental.
一 Essa era a ideia.
Seus dedos roçam nos meus, mas sem nunca realmente se entrelaçarem. Olho para o teto enquanto você encara nossas mãos. Sinto meu olhar em seu rosto. Sua voz reverbera em mim, a metáfora criando raízes em meu ser. Se encaixa bem com o que sinto em relação a querer me confessar. É por isso que estou escrevendo essas cartas. É uma forma de me aliviar da tensão de querer falar sobre o quanto eu amo você, listar coisinha por coisinha que admiro em você é uma válvula de escape. Se está funcionando... não sei, talvez.
Com amor e dedicação,
Will Solace <3
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