Em Brasas - VIII - as cartas que escrevo


 



 Querido Will, 


 Ainda é doloroso, mas a terapia tem me ajudado a entender a minha dor. Faz um tempo que você morreu, mas tudo o que eu sinto em relação a sua morte parece muito recente. Há sempre uma camada nova de sentimentos e pensamentos pra entender quando eu penso que acabou.

 É um pouco exaustivo, confuso. 

 Mas tem me feito um bem absurdo. 

 Leo continua por perto, respeitando meu tempo e me levando pra sair quando concordo. Converso sobre tudo com ele, o que se revelou um excelente meio de desestressar. Assistimos algumas séries juntos e estou voltando, bem aos poucos, a usar minhas redes sociais. 

 Está sendo um período de lentas mudanças, tentando me ajustar a vida sem você e bolando um novo normal pra mim. Sua morte significa a morte de tudo o que eu sabia ser. Significou a morte de metade da minha alma. Você era um pedaço enorme de mim, de quem eu era, e agora é uma parte morta de mim. Uma parte morta que vai apodrecer comigo enquanto eu viver. 

 Bem... Divaguei aqui. 

 Desculpa a carta mais curta. Essa semana eu me joguei nos estudos pra entrar naquela faculdade que te falei e não tem muito sobre o que falar. A prova avaliativa é amanhã, então depois de amanhã eu te escrevo como foi. 

 Te amo, Will. Sempre amei e sempre vou amar. Com toda a minha alma. 


Para sempre seu, 

 seu Neecks


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 Dizer que Bianca reagiu com tranquilidade aos sentimentos de Nico por Will é um eufemismo. Ela literalmente pulou de alegria, quase sambando pela sala.


— Tudo isso por que eu gosto dele?


— Porque tava na cara! — Ela diz, revirando os olhos. — Vocês se gostam há meses! São amigos há mais de um ano e cá estou eu, vendo vocês se apaixonarem cada dia mais. 


— Bianca...


 Ela parou de saltitar, encarando o irmão sentado no sofá.


— O quê? Vai me dizer que "ele não gosta de mim" não, que eu sei que ele gosta. 


— Bia!


— Tá na cara. Estou só apontando um fato.


— Bia, Will e eu estamos namorando.


 Os olhos dela se arregalam, um sorriso surgindo. De repente, ela puxa Nico e o abraça, dando gritinhos de felicidade. Bianca rodopia junto ao irmão, extasiada.


— Por que você tá assim? 


— Céus, Nico. Porque você tá realmente apaixonado e vivendo a vida sem medo. Eu me lembro de uma época em que você só tinha o Leo e achava que nunca ia ser feliz! Ver você tão mais leve, sorridente e apaixonado é a realização das minhas, muitas, preces. 


 Nico sorriu, se sentindo bem em saber que sua irmã estava sempre de olho nele, atenta, disposta a apoiá-lo em todas as situações. 


— Vou fazer um bolo pra ele. — Declarou Bia por fim, indo pra cozinha. 


 O moreno foi pro quarto, sabendo que era impossível pará-la. Will ia gostar da aprovação do namoro e do bolo de Bianca, famoso por ser bem chocolatudo e cheio de cobertura. 



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