Em Brasas - IV - ou um de meus amigos


 


 Nico só descobri que Will gostava dele por causa das redes sociais, especificamente por causa do Instagram. Quem diria que o loiro tinha um destaque só pra fatos de sua paixão no perfil? Claro que somente os marcados nos melhores amigos conseguiam ver e Solace vivia colocando-o lá pra ver alguma postagem que tinha feito e depois tirava. O moreno nunca teria reparado, mas, por um descuido, ele reparou. 

 A única rede social que Nico mantinha era uma conta privada no Instagram, ao qual ele controlava quem o seguia e mal postava algo. Mas, uma vez, Will disse pra ele ver as fotos que tinha postado com Yuri, um amigo próximo dos dois. Acabou começando ver os destaques do loiro. E o Di Angelo estava nos melhores amigos dele. 

 Teve acesso a muitas fotos que nem fazia ideia, os destaques pereceram ficar três vezes maiores e mais um apareceu no perfil do garoto favorito de Nico, entitulado "Meu tudo" e um coração preto. O do próprio emo acelerou ao ver aquilo. 


— O que diabos é isso? 


 E clicou pra ver. 

 Tinha quase 100 fotos e vídeos! O destaque estava quase no limite de capacidade. 

 E eram todas fotos e vídeos de Nico. Cada foto era de um momento que passara com o Solace. Comendo sanduíches, sorrindo por causa de uma piada de Jason, fazendo o dever, escrevendo no quadro, brincando com Bob Pequeno, dormindo na aula, fazendo pose com o próprio Will. Até fotos daquele dia que eles foram na livraria juntos. Em especial aquela foto. 

 Todos os stories tinham alguma declaração fofa, e vez ou outra uma musiquinha. Uma declaração que se repetia bastante era: "Eu amo esse garoto!". Tinha vídeos dos dois zoando e implicando um com o outro. 

 Will sempre valorizou seus amigos e tinha um destaque onde colocava os melhores momentos com todos, mas Nico tinha um destaque inteiro permeado de confissões e dedicação, com fotos que até não podiam ser as melhores, só que eram especiais mesmo assim. 

 Nico nunca se sentira tão amado. 

 E idiota. 

 Terrivelmente idiota. 


— Merda! Como eu não notei antes? 


 Talvez ele nunca tivesse notado se não fosse esse pequeno descuido. Will sempre encobriu muito bem seu atos e todos os indícios de seu amor absolutamente visceral pelo Di Angelo. O loiro era especialista nisso de esconder coisas, então teria sido difícil descobrir. Praticamente impossível. 

 O moreno ficou remoendo a grandiosidade de sua descoberta durante toda a madrugada. Até foi mais cedo pra escola, atordoado por pensamentos. Sentou-se no canto perto da parede com uma opinião bem formada sobre a situação: Gostava dele de volta, na mesma intensidade talvez. E céus, esse sentimento o queimava de dentro pra fora e o consumia. 

 Bem, o professor estava arrumando os materiais na mesa quando Will chegou correndo na sala. Di Angelo fingiu não perceber o ser ofegante vindo em direção a sua mesa, até que ele ocupou o lugar ao seu lado e se tornou impossível ignorar. Aí ele ralhou:


— Onde você estava? Eu fui na sua casa pra gente vir junto, como sempre, mas fiquei plantado lá. 


— Eu vim mais cedo. — Respondeu de cabeça baixa. — Esqueci de avisar. Desculpa.


 O olhar de Will era duro, toda a sua expressão estava assim, na verdade. De um minuto para outro, não sabia o que fazer e cono reagir. 


— Esqueceu?!? — Ele gritou, fazendo o moreno fechar os olhos. — Eu falo com você praticamente toda hora! Como você esqueceu? 


 A sala parecia uma plateia e Nico se sentia num palco, apresentando um show. Queria se encolher e simplesmente não existir. Queria sumir e fugir dessa situação. Mas não podia. Tinha que se explicar. 


— Will, eu te juro que tenho um motivo pra isso. Apenas me deixe... 


— Que tal os dois se resolverem lá fora. — O professor mais mandou do que sugeriu. — Voltem quando estiverem mais calmos. 


 Solace se levantou depressa, pisando duro ao sair da sala. Nico foi logo atrás, embora sem a mesma energia. Seu coração estava acelerado. Estava com medo do que poderia acontecer. 

 No corredor, Solace o encarava, exigindo respostas e explicações de forma silenciosa. Nico respirou fundo pra manter a calma e para colocar seus pensamentos tumultuados em ordem. A medida que cogitava uma abordagem e bolava um discurso, percebia que ia ser terrivelmente difícil se explicar de forma calma e controlada. 

 Estava entrando em pânico. Conseguia ouvir seus batimentos acelerados, a mente ficando em branco e o corpo começando a tremer bem de leve. Will ainda estava com raiva, perdendo a paciência. 


— Você disse que tem um motivo. — As palavras foram expelidas rudemente, com o intuito de apressá-lo. — Estou esperando. 


— Will... Eu não sei por onde começar. 


— Então será mesmo que existe um motivo? 


— Will! Claro que tem. 


— Me diga, Nico. Por que você não me avisou que veio mais cedo? Por que você não viu minhas mensagens de bom dia? Por que você veio mais cedo, pra início de conversa? 


— Will... 


— Por que, Nico? Por quê? 


— Eu vi o destaque, Will. 


 O grito de Nico ecoou pelo corredor, mas não importava. Aquelas palavras não diziam nada a quem escutasse por acaso. Para os dois, significava uma mudança imprevisível no relacionamento deles. A revelação deixou o rosto de Will lívido e o coração, disparado. 


— Você... 


— Eu vi. Eu vi que você gosta de mim romanticamente. Apenas... fiquei surpreso e precisei de tempo pra pensar. Passei horas refletindo sobre meus sentimentos por você. 


— Nico, me perdoa. Eu... 


 Solace estava a beira das lágrimas. O peito apertado de culpa por ter gritado e se exaltado. Agora temia ter assustado seu amor. 


— Meu sol, não chore. 


— Eu não deveria ter ficado com raiva. 


— Você está no seu direito. Eu te deixei plantado e você se importa comigo, me quer perto o bastante pra sentir saudade. Me perdoa? 


 O loiro suspirou e abraçou Di Angelo. 


— Sempre, Emo Boy. Sempre. 


— Podemos conversar melhor depois? — Perguntou, a voz abafada e frágil. 


 Will sentiu-se aquecer com a possibilidade em sua mente, desejando com todas as forças. 


— Claro, Neecks. Quando achar melhor. 



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