Em Brasas - IX - Eu queimo elas


 

 Um dia, Nico estava em seu quarto, fazendo uma pesquisa para a faculdade, quando Bianca bateu à porta e entrou.

 — Precisa de algo, Bibi?


— Eu... tava pensando. — Disse ela, se encostando na parede e olhando pro nada, parecia profundamente abatida. — Faz dois anos que Will se foi. 


 O moreno parou. Sua irmã tocar no assunto daquele jeito era meio estranho, mas deixou que ela seguisse a própria linha de raciocínio. Era mais do que óbvio que ela tinha algo a dizer. 


— Você se lembra das primeiras semanas de luto? O absoluto choque de saber o que aconteceu? Você se lembra como foi as primeiras semanas depois daquele dia infeliz do acidente?


 Bianca o encarava, a esperava por uma resposta. O Di Angelo vasculhou a memória, mas por fim se limitou a balançar a cabeça. Percebeu que ela tinha algo na mão. Muitos papéis velhos. 


— Sabe... — Ela se sentou na cama. — Você está conseguindo lidar agora, mas os primeiros dias foram a definição de inferno para você. Talvez por isso não se lembre.


 A irmã de Nico olhou para os papéis em sua mão, os olhos marejados. 


— Incapaz de te ajudar, deixei que você entrasse numa bolha da própria depressão. — Uma lágrima caiu pelo rosto dela. — Eu te dei alguns papéis, na verdade te dei um caderno inteiro. Você frequentemente escrevia nele, guardava cartas e depois queimava junto com Reyna, como forma de desapegar. Eu queria ter te ajudado mais.


— Bia... 


 Nico se levantou com a intenção de abraçá-la, mas ela se afastou. 


— Um dia, você tava dormindo, sem pesadelos, e eu aproveitei pra limpar seu quarto. Encontrei essas cartas embaixo da cama. Eu não li. Apenas guardei. Eu só... queria que você percebesse como melhorou a partir dessas cartas.


 O moreno pegou as cartas estendidas por Bianca, cada vez mais preocupado por vê-la chorar.


— Obrigado, Bi. — Sussurrou. — Você salvou a minha vida.


 Ela foi até a porta, parou. Não se virou. 


— Eu queria que vocês tivessem tido mais tempo. 


 E saiu. 



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