Em Brasas - III - mas não para mim


 


 Nico olha o céu nublado, desejando que o clima fosse mais ameno. Sempre amou chuva e poder ficar enrolado na cama, mas queria mais ainda ver Will de novo. A dupla tinha ido ao shopping depois da escola, na tarde de quinta-feira, e o moreno queria repetir a dose no final de semana. Mas não rolou por causa da chuva. 

 Até que Will o liga. 


— O que você tá fazendo agora? 


— Fotossíntese. E você?


— Vai na sua janela. 


 O moreno obedeceu, avistando uma figura loura debaixo de um guarda-chuva azul com um telefone no ouvido. Solace encarava a janela e sorriu ao vê-lo, sussurrando no celular:


— Oi! 


 Nico não acreditava em seus olhos. Foi até a porta na velocidade de um raio, encontrando ele na calçada. O loiro vestia uma calça jeans clara, uma camisa branca e all-star amarelo. Estava lindo, como sempre. Excepcionalmente lindo.


— O que você tá fazendo aqui?!?


 Will permaneceu calmamente inabalável.


— Eu queria te ver.


 E ele sabia que o Di Angelo sentia o mesmo, sabia que ele ficaria desconsertado com aquela declaração repentina. Na verdade, com qualquer declaração.


— Pega um guarda-chuva, um casaco e vamo simbora!


— Pra onde? 


 Solace sorriu com carinho. 


— Confie em mim. Eu tenho uma ideia. 


 Nico confiava. Entregaria sua vida nas mãos dele sem hesitar, mas não admitiria isso tão cedo. Calçou seu all-star preto, pegou o guarda-chuva da mesma cor e vestiu seu moletom favorito depressa. Após trancar a porta, o loiro passou um braço por sua cintura e o guiou pelas ruas. 

 Caminharam sob os olhares atentos de quem não tinha mais o que fazer da vida. Entraram em uma livraria perto do McDonald's. A loja tinha um ar aconchegante e era muito reconfortante ver os vários livros dispostos em mesas e estantes. O Di Angelo sempre amou esse tipo de ambiente, então estava amando ter entrado ali. 


— Vou pegar um livro que eu tô querendo comprar e depois a gente vai no McDonald's. — Avisou o Solace. — Fique a vontade. Eu já volto. 


 Will segue pelo corredor onde ficam os romances policiais e Nico foi pra parte de histórias LGBT. O loiro o olhava de vez em quando, tão bonito concentrado. Só os deuses sabem o quanto ama esse garoto. 

 Permaneceram entretidos por um tempo até irem ao caixa. Di Angelo tinha dois livros nos braços. Ninguém vai te ouvir gritar e Felix pra sempre. Will pegou-os e colocou junto com o que queria levar. O moreno olhou-o, surpreso. 


— O que você tá fazendo, Solace? 


— Eu vou levar os livros. — Deu de ombros. — Qual é o problema?


— O problema, seu cínico, é que você não pode pagar pelos meus livros. 


 Ele ainda teve a audácia de rir. 


— Tecnicamente, os livros ainda não são seus... Ai! E eu nem posso presentear quem eu gosto? 


 Nico não tinha argumentos e o loiro sabia, ele sempre sabia como deixá-lo sem fala e nem chão. Sabia como fazê-lo o amar ainda mais. 


— Merda, você é muito irritante. — Bufou, cruzando os braços e corando. 


 Solace sorriu e pegou o dinheiro na carteira, voltando a encarar o moreno nos olhos como ninguém nunca tinha feito antes.


— Eu também amo você, Emo Boy. 


 A atendente embalou os livros e os entregou em uma sacola. Will tirou uma foto deles quando saíram da livraria. Nico com um meio sorriso enquanto seu loiro favorito beijava sua têmpora, o braço em seus ombros. 


— Essa ficou muito boa. Vou postar no feed.


— Me marca, por favor.


— Por quê? Você nem vai ver. 


— Quem disse que não?


— Uma pessoa que não gosta de redes sociais.


 O coração do Di Angelo estava quentinho, então ele não se importava de ser meloso. 


— Há algumas coisas que valem a pena nesse tipo de porcaria, como ter você na palma da minha mão a hora que eu quiser e em qualquer lugar.


 Will corou porque não sabia o que responder. 


— Se ainda fizer questão dos livros, pode pagar um lanche no McDonald's. O combo tá 15 conto.


— Eu adoraria. 



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