Em Brasas - I - Eu escrevo cartas


 

 Querido Willie, 


 Eu sinto muito. Sinto tanto! Quando me apaixonei, pensei que nada poderia ser maior que isso. Ledo engano. Você me mostrou uma paixão que transbordou do meu peito. Eu me apaixonei pelas coisas que eu evitava e pela vida.

 Graças a isso, eu me abri mais pra sentir as coisas e tudo o que o mundo tinha pra me oferecer. E eu comecei a me amar. Mas você já sabe disso. Eu comecei a te amar também. Eu te amei com todo o meu coração e com toda a minha alma. Aí... Bem, eu não tive controle. 

 E eu sinto muito. Todos os dias. Sinto sua falta, sinto uma depressão muito profunda tomar conta de mim. Sinto que não consigo mais respirar em momentos que preciso me acalmar. Sinto que meus pensamentos fluem como uma tempestade e nada ao meu redor faz sentido. 

 Por sua causa. 

 E me mata por dentro saber que tudo o que aconteceu não tem volta. 


 Para sempre seu, 

 Neecks


X                            X                       X      



 Will ajeitou os cachos, observando o moreno ao seu lado comer o sanduíche que tinha feito pra ele. Era uma rotina confortável que ambos tinham estabelecido com a convivência. Nico ainda era ranzinza demais pra admitir que gostava de passar tempo com o Solace, mas estes eram uns dos poucos momentos de paz do seu dia. 


— Está bom dessa vez? 


 O emo franziu o cenho em confusão. 


— O que quer dizer com "dessa vez"? 


— O último sanduíche você disse que "dava pro gasto", como se não tivesse gostado. — Deu de ombros. — Eu fiquei chateado. 


 O loiro sempre era muito sincero e aberto em relação a suas percepções, sempre falando tudo muito na lata, o que surpreendia Nico pra caramba por estar mais acostumado a jogos emocionais e longas horas até fazer a pessoa se abrir. Solace só fala e deixa os outros lidarem com isso. É um contraste interessante. 


— Desculpe. — Sussurrou o garoto de preto. — Eu estava de mal-humor no dia e não devia ter descontado em você e seus sanduíches deliciosos. 


 O moreno conseguia ouvir e sorriso deslumbrante de Will antes de vê-lo após se desculpar. 


— Eu te perdoo, Emo Boy. Obrigado por entender.


 Nico sentiu o rosto arder. A cada semana, percebia uma pequena mudança em seu comportamento e na maneira como age em relação a certas coisas. Sabia que isso era fruto de sua constante convivência com o alecrim dourado, que simplesmente decidiu que o moreno valia a pena de passar tempo. 

 A amizade dos dois começou estranha por causa da dinâmica torta entre eles, mas foi se ajustando com o tempo. Agora, neste momento em que narro, ambos os garotos estão bem confortáveis com a personalidade um do outro. Há uma conexão inexplicável que os une. 


— Sabe, Nico... 


— O quê? 


— Eu pensei que você fosse ter um coração mais difícil de amolecer. 


 Di Angelo ergueu uma sobrancelha, provocativo. 


— Quem disse que estou amolecido? 


— Suas reações e ações para comigo. 


— Humpf! Não sou fácil, Solace. 


— Eu sei. Nunca disse isso. Só achei que seria mais difícil... Ai! 


 O soco de Nico em seu braço interrompeu a frase, que teria sido uma declaração melosa. 




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