"Tó"



 Se alguém dissesse ao filho de Hades que havia um ser mais carinhoso e dedicado a demonstrar seus sentimentos do que Will Solace, jamais acreditaria e, potencialmente, daria uma surra na pessoa por ser tão estúpida. O filho de Apolo fazia de tudo pra mostrar ao moreno o quanto ele era totalmente apaixonado por si.

 Eram presentes, frases de afirmação, tempo de qualidade, toque físico, atos de serviço quase que o tempo inteiro, mas sem enjoar. O loiro fazia essas coisas sem forçar, acontecia de forma natural. Nico era travado demais no quesito demonstrações de carinho pra retribuir da mesma maneira, mas tinha seu jeitinho bruto de dizer que o amava.


一 Nico, aconteceu algo muito louco hoje. 一 Disse o garoto, já invadindo o espaço do namorado ao sentar-se ao lado dele.


一 E o que foi? 一 Quis saber, fechando o livro sobre mitologia que lia até aquele momento.


一 Deixaram uma marmita no meu escritório no almoço.


 O moreno arqueou uma sobrancelha.


一 Você não ficou na enfermaria o dia todo? Ter uma marmita lá foi bom pra que você comesse enquanto trabalhava sendo o mais habilidoso curandeiro do acampamento.


一 É, eu sei, mas... Eu queria saber quem mandou.


 Nico bufou, voltando a leitura. Will observou-o, decorando cada pequeno detalhe de sua feição concentrada. Claro, o Di Angelo tinha TDAH e notou o loiro o olhando, o que deixou-o nervoso. 


一 O que você quer?


一 Um beijo de boas-vindas? 一 Sugeriu, sugestivo.


 O filho de Hades revirou os olhos, mas se inclinou e o beijou de leve. O Solace se manteve perto por mais alguns segundos, prolongando o toque como se nunca quisesse se afastar. Quando enfim o fizeram, o curandeiro o olhava com carinho.


一 Obrigado, Garoto da Morte.


一 Como assim? 一 O garoto franziu o cenho. 一 Do que está falando?


一 Pelo beijo e, especialmente, pela marmita hoje mais cedo.


 Nico se afastou, os olhos arregalados.


一 Eu sei que foi você. 一 Continuou. 一 E muito obrigado por cuidar de mim.


一 Como?


一 Ninguém mais sabe que minha sobremesa favorita é bombom de chocolate branco, mio angelo. Deveria se esforçar mais se não queria que eu soubesse.


 Di Angelo se encolheu, tentando se concentrar nas palavras sobre mitos gregos antigos que eram vitais para sua sobrevivência.


一 Preciso estudar, pisca-pisca. Depois a gente conversa.


 E eles não conversaram depois. Jantaram no refeitório lá pelas sete, tomaram banho e dormiram, mas não conversaram. No dia seguinte, teve Captura a Bandeira após o café da manhã, o que deixou Will atolado de trabalho a tarde. No horário do almoço, Nico apareceu na enfermaria com um embrulho nas mãos pálidas.


一 Nico. 一 Cumprimentou Kayla. 一 O que está fazendo aqui?


一 Poderia chamar Will pra mim, por favor?


 Ela assentiu, desaparecendo entre os feridos logo em seguida. Austin arrumava as macas, dizendo as pessoas a onde ir, mas estava obviamente sobrecarregado. Não demorou muito para que uma figura loira fosse avistada desviando-se do caminho dos semideuses com talhas e gesso espalhadas pelo local.


一 Boa tarde, meu amor. 一 Sorriu o filho de Apolo. 一 Já almoçou? Se alimentou bem?


一 Boa tarde. Já, sim. Vai demorar muito pra você terminar o trabalho?


一 Umas seis ou cinco horas. Por quê?


 Nico sentiu o rosto ficar vermelho. Sabia que tinha que ser mais aberto a receber e demonstrar afeição pelas pessoas que ama, mas não tinha ideia de por onde começar. Até que ele pesquisou sobre linguagens de amor e escolheu uma destas para usar como demonstração. Atos de serviço. Parecia algo mais útil e menos brega, algo que era menos doloroso de praticar.


一 Tó. 一 Disse ele, estendendo o embrulho para o loiro. 


 Solace não sabia como reagir. Pegou o embrulho e o desenrolou. Uma marmita, igual a do dia anterior. Olhou para o moreno, um sorriso brincando no canto de sua boca. Com um passo pra frente, ficou mais próximo do namorado, se inclinou e beijou-o, o pegando de surpresa.


一 Obrigado, mio angelo.


 O garoto assentiu, desejando-lhe uma boa refeição aos gaguejos e saiu.

 Will continuou seu dia com tranquilidade, cuidando de cada campista ferido com dedicação para que sarassem logo. Depois de todas as horas que tinha dito ao Di Angelo que demoraria, se sentia exausto. O jantar veio e Jerry lhe entregou um prato. Ao perguntar quem tinha montado, seu irmão lhe respondeu que fora Nico.

 O curandeiro quase dormiu sobre a mesa de seu escritório após o jantar, lá pelas oito e meia, mas mordiscou uma barrinha de energia, tomou água e entregou o comando da enfermaria para Grace. Foi direto para o chalé treze, dar um beijo de boa noite no moreno antes de ir para seu próprio chalé e apagar em sua cama.

 No dia seguinte, pôs todos os campistas de Apolo em ordem e foi para o chalé quatro. Katie estava na porta, cuidando de algumas plantas da entrada. Ela chamou por Miranda, a conselheira chefe, para atender o pedido do filho de Apolo.

 Eram oito horas da manhã quando chegou ao chalé de Hades. Começou a bater na porta incessantemente, sem falar uma palavra. O loiro pode ouvir o menor xingar em italiano, a voz meio sonolenta, mas definitivamente irritada. Nico abriu a porta com raiva, até ver seu raio de sol. 


一 Solace? Bom dia. Eu...


一 Tó.


 Sem acrescentar mais nada, estendeu ao outro uma rosa amarela. O moreno sentiu o rosto esquentar. Pegou a flor da mão do namorado, não entendendo muito bem o por que daquilo.


一 Mas o que car-


 Will o interrompeu com um selinho. Sorria tanto que poderia cegá-lo.


一 Bom dia pra você também, Garoto da Morte. 一 Disse, enfim. 一 Pronto pra mais um dia? Faz uma semana que você disse que ia me dar aulas de esgrima. Hoje parece o dia perfeito pra começar.


 Di Angelo revirou os olhos, abrindo um sorriso tímido logo em seguida.


一 Deixa eu só me arrumar e aí a gente vai.


一 Depois de comer alguma coisa, né?


 Nico bufou.


一 Claro, claro.


一 Ordens médicas, Niccolò.


一 Eu sei, amor. Já, já vamos.


 Will nunca se importou de parecer um bobo apaixonado quando se tratava de fazer pequenos e grandes gestos a Nico, porque, no fim das contas, realmente era muito bobo e apaixonado por aquele semideus.




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