Acordei em uma cama macia. O colchão era grande e muito confortável. Dava pra ficar ali pra sempre. Os travesseiros tinham estampa de sol e símbolos musicais. Os lençóis eram a coisa mais gostosa na qual eu já me enrolara. Fiz questão de ficar parecendo um casulo de borboleta gigante. Céus, eu ia virar a Bela Adormecida e dormir por mil anos.
Mas meu paraíso durou pouco porque minha cabeça começou a doer como se fosse explodir. Me encolhi de dor. Adivinha? Não adiantou porra nenhuma. Como se fosse, eu hein. Tava lá me contorcendo quando um peso se fez presente ao meu lado. Senti uma mão massagear minhas costas e tirei o rosto do meio das cobertas. Meu solzinho.
一 Bom dia, meu anjo. 一 Ele sussurrou, alisando a maçã da minha face.
一 Bom dia, Willie...
一 Vou te dar um remédio para enxaqueca, tudo bem? O remédio vai te ajudar a melhorar. 一 Disse enquanto saía para buscar o tal.
Assenti, vendo-o se levantar e morrendo de vontade de pedir a ele para ficar. Will é lindo, pensei. Inacreditavelmente maravilhoso em todos os aspectos possíveis. Refletir a perfeição que meu namorado é me distraiu da dor. Eu poderia passar horas só recordando de momentos nossos. São tanto e eu não descartaria nenhum deles, mesmo sob grande ameaça. É mais provável que a dor tenha me inebriado.
O loiro chegou, trazendo um copo em uma mão e um comprimido em outra. Sentei, meio decepcionado pelo remédio não ser líquido. Sempre, e eu nem sei por quê, tive dificuldade de engolir capsulas. Vários anos mais tarde foi que descobri que era algo psicológico e passei a tratar isso.
一 Pode demorar de trinta minutos a duas horas para fazer efeito. 一 Avisou ele. 一 Se quiser, podemos ficar aqui mais um pouco ou ir embora.
Franzi o cenho.
一 Para onde? Pra sua casa?
一 Pra sua casa, Di Angelo.
Olhei ao redor. O quarto de Andrew estava diferente, mas os móveis e objetos eram exatamente os mesmos. Eu tinha uma estranha sensação de que não reconhecia aquele espaço.
一 Onde estamos?
Ele sorriu.
一 No meu apartamento, oras.
Me levantei, o que só me causou tontura, mas me apoiei em um móvel. Solace não me impedir de continuar. Saí do quarto, ficando completamente surpreso com o resto assim que pus o pé pra fora. O que era aquilo? Tava tudo diferente. A sala consistia de sofá e uma mesinha de centro. A cozinha era uma geladeira, um fogão e armários.
Eu estava acostumado com o apartamento da família Solace o bastante para achar o lugar estranho pra casete. Quase caí pra trás de susto. O loiro fez foi rir de mim. Não... Rir é muito pouco para descrever. Ele gargalhou da minha reação. Gargalhou alto pra desgraça. Fiz cara feia e ele parou, enxugando lágrimas do canto dos olhos.
一 Certo... Desculpa. 一 Ele disse. 一 Quer assistir um filme comigo?
一 Não fuja do assunto. Como assim seu apartamento?
Andrew abriu um sorriso radiante. Me pegou pela mão e me guiou de volta ao seu quarto. Franzi o cenho, sem entender. Perguntou se faria mal ele se ausentar um pouco para tomar banho. Irritado, gritei com ele. Will disse que estava brincando enquanto se sentava do meu lado. Fuzilei-o com o olhar. Ele agiu como se nada tivesse acontecido.
一 Como assim seu apartamento? 一 Repeti.
Ele sorriu, amarelo.
一 É tarde pra te contar que me emancipei dos meus pais? 一 Arriscou.
Arregalei os olhos.
一 Você o que?!?
一 Sou prematuramente independente.
一 Há quanto tempo?
一 Uns três meses, mais ou menos.
一 Por que não me contou?
Solace mordeu o lábio, nervoso.
一 Era pra ser uma surpresa pra você. 一 Confessou. 一 Faz um tempo considerável que venho pensando em comprar a minha antiga casa.
一 A perto da minha?
Ele assentiu.
一 Meu pai está trabalhando muito e minha mãe ficava só a maior parte do tempo. Comentou que queria voltar a cantar. Foi a última gota. Tomei coragem e falei com eles a respeito.
Sorri. Will sempre foi muito altruísta e amo isso nele. Percebi que a dor de cabeça infernal que eu estava enfrentando passou. Puxei-o pela camisa, selando seus lábios com os meus. Seu corpo ficou tenso por alguns momentos, como se eu o tivesse pego de surpresa. Suas mãos percorreram a minha cintura e senti meu corpo esquentar.
Me separei dele, colando nossas testas. Amo seu jeito carinhoso durante um beijo mais demorado. Amo o quão intenso é o seu olhar ao encontrar o meu. Amo seu cheiro. Amo o sabor do seu beijo. E eu só conseguia pensar nessa sensação quente entre nós, em como tudo em mim arde e formiga. Eu queria mais dessa sensação boa e viciosa.
一 Muito gentil da sua parte pensar nas vontades dela antes das suas. 一 Sussurrei, o coração batendo mais forte.
Ele suspirou, descendo o rosto até aninhá-lo no meu pescoço. Sua respiração contra minha pele me causou arrepios, arrepios bons. Fiz-lhe um cafuné.
一 Amo minha mãe, mas as vezes sinto que estou me privando de coisas que gosto demais. 一 Desabafou ele. 一 Gostaria de poder me jogar nessa cama e não me preocupar com a comida que vou gastar em uma simples refeição. Não quero pensar no quanto isso ou aquilo custa. No quanto posso economizar para comprar uma lâmpada nova que substitua a que queimou. É cansativo.
Meu coração se apertou no peito. Confortei-o da melhor forma que podia.
一 Não compreendo bem o que está passando porque ninguém realmente entende a outra até carregar o mesmo fardo, mas dá pra ver o quão pesado é. 一 Peguei seu rosto em minhas mãos, olhando bem fundo em seus olhos. 一 Eu amo você, Will. Não quero que passe por isso sozinho.
一 Nico...
一 Permita-me te ajudar.
Will comprimiu os lábios até se tornarem uma linha fina. Abracei-o e ele correspondeu. A tensão em seus ombros caiu e o loiro relaxou em meus braços. Ficamos ali por um tempo considerável. O meu sol estava exausto. Era muito jovem. Eram responsabilidades demais para um adolescente. Ele não podia lidar com isso só. Eu não ia deixá-lo só.
Quando o abraço terminou, ele perguntou se eu queria alguma coisa e se eu ainda estava com dor de cabeça ou enjoo. Respondi que não para ambos os questionamentos. O loiro disse que iria me levar para casa depois de tomar banho. Liguei para Bianca, que quis saber se eu estava bem. Disse que sim e avisei que logo estaria chegando.
Menos de vinte minutos após isso, Andrew já estava chamando um uber. Pedi que fosse comigo e ele aceitou. Tive uma pequena ideia enquanto ele estava banhando. Estava ansioso, por isso fiquei batendo o pé o tempo todo. Sorrir foi inevitável. Eu realmente gostei da ideia e mal podia esperar pela reação de uma certa pessoa.
O uber parou na frente da minha casa e eu pedi que ele esperasse um pouco. Corri para o meu quarto, lá pegando um objeto muito precioso que eu guardo em um canto secreto. Voltei lá fora com tanta pressa quanto saí. O loiro me encarou de cima a baixo, como se tentasse me ler pelo comportamento e pela postura.
一 Aqui. 一 Entreguei o meu pote a ele.
William arregalou os olhos.
一 Nico! Eu não posso aceitar.
一 Minhas economias não tem devolução, Sole.
Ele parecia incrédulo com o meu sorriso.
一 Mas sãos as suas economias!
一 Não são mais.
一 Di Angelo!
一 Solace!
一 Eu já te disse. Eu não pos...
Puxei-o para perto, calando-o com um abraço.
一 Permita-me te ajudar. 一 Sussurrei.
一 Nico... 一 Sua voz falhou, chorosa.
一 Eu amo você.
Ouvi-o soluçar de leve.
一 Não te deixarei passar por isso sozinho. Nunca.
Comentários
Postar um comentário