Primeira & Únicas Vezes -- IV de XXX -- Meu primeiro crush

 



 Pois é. Durante as férias de ano novo, adquiri uma leve queda por Will. Em janeiro, fiz doze anos e meus pais me convocaram para uma conversa constrangedora. Bianca riu de mim o tempo todo. Meu pai falou sobre essa fase em que eu estava entrando, a adolescência, e as mudanças que aconteceriam no meu corpo. Minha mãe contou a parte mais difícil.

 A inocência já era. Eu estava crescendo e precisava encarar o mundo real. Fiquei com vergonha quando o loiro me perguntou o que tinham me dito. Desviei de responder dizendo que eram os pais dele que teriam essa conversa. Ele não ficou muito contente, mas não me pressionou a falar mais nada sobre o assunto.

 Me senti mal porque a conversa com meus pais me fez refletir a respeito do que eu estava sentindo pelo Solace. Era disso que eu estava com vergonha: Dos meus sentimentos. Ainda mais por um garoto. Hades me daria a bronca do século se descobrisse. Minha mãe seria mais complacente, mas nem ela poderia acalmar os nervos do meu pai.

 Bia percebeu meu nervosismo e me questionou se estava tudo bem. Menti que era o resto do ano letivo que me preocupava. Ela não duvidou, falando que podia pedir a ajuda dela se quisesse. Odeio mentir para qualquer pessoa que seja, mas se eu contasse, seria apedrejado. Por outro lado, era só um crush. Que mal poderia fazer?

 Foi a primeira vez que escondi algo de Will, transgredindo nossa promessa de contar tudo um para o outro. Seria estranho você chegar no seu amigo e dizer: "Tenho uma queda por você, sabe.". É uma ideia louca, sem sentido nenhum, completamente inútil. Ele me veria como uma aberração por me interessar por ele.

 Só em abril, eu vi que não é bem assim que as coisas funcionam. Minha irmã apareceu namorando a minha amiga Reyna e meus pais aceitaram numa boa o fato de ser uma garota em um relacionamento com outra. Bianca me falou que é lésbica e me explicou o que era. Aceitei, sabendo que seria hipocrisia recriminá-la por ser quem é.

 Sabe, Reyna é bem legal. Ficamos bem amigos e as vezes ela age como se fosse minha irmã mais velha ao em vez de estar saindo com a minha. Sem me dar conta, percebi que a considero muito. Andrew até demonstrou ciúmes. Ri tanto da birra que ele fez por causa da minha relação com minha cunhada.

 De certa forma, saber que o que eu sinto não é tão inaceitável fez com que eu me sentisse menos culpado e condenado. Mas ainda receava contar ao Solace sobre isso. No fim, eu tinha um segredo pra manter selado no meu coração. Com certeza, demoraria a confidenciá-lo para qualquer outro.

 Terminamos o quinto ano com honras e aproveitamos ao máximo nossos três meses de férias. Leo e a família passou uma semana na praia, mas sem não antes nos convidar. Meu pai e Apolo acharam que era uma excelente ideia. Arrumamos as malas, determinados a gastar cada minuto na água, até anoitecer e virar o dia.

 Foi nessa praia que conheci Percy. Ele é bem legal, bonito e engraçado. Me deu tanta atenção que suspeitei que estava interessado em mim. Me apresentou até pra mãe dele. Sally é uma fofa. A única parte ruim foi quando ele tentou me beijar. Eu me afastei, assustado, e ele notou.


一 Desculpa. 一 Percy mordeu o lábio. 一 Eu pensei que você gostasse de... de...


一 Caras?


 Ele assentiu.


一 Olha, eu... 一 Suspirei. 一 Não sei ao certo.


 Talvez o meu olhar tenha me denunciado. Talvez a postura ou a maneira como fiquei pensativo fez ele entender que não era o problema e sim eu.


一 Gosta de outra pessoa, não é? 一 Perguntou.


 Não fingi que não e muito menos que sim.


一 Também não sei. É meio confuso, sabe... er... sentir tudo isso e não ter a menor ideia se é ou não pra valer.


 Percy parecia me entender.


一 Certo. 一 Ele coçou a nuca. 一 Que tal fingir que eu nunca tentei te beijar e eu finjo que você nunca me recusou?


一 É tão constrangedor assim ser recusado por um moleque de doze anos?


 Ele riu.


一 Se eu contar que alguém como você me rejeitou, viro piada o resto do ano. E você não parece ter doze anos, nem um pouco.


 Era até bonitinho as tentativas dele de me animar, mas eu me conhecia e sabia que não era lá aquelas coisas. Deixei ele tentar me convencer, pensando em como ele podia ser tão cego. Logo constataria que estava plenamente enganado a esse respeito.

 Ficamos conversando por um tempo. Falamos de séries, filmes, personagens favoritos, música e descobri que ele é disléxico, tópico livros não foi um bom começo. Logo era hora do jantar e eu nem tinha notado. Apenas quando surgiu uma figura loira, me dei conta.


一 Nico, tia Mah estava te chamando. 一 Disse Will, sem fôlego por ter corrido.


 Ele passou os olhos de mim para minha companhia, desconfiado. Temi que pudesse perceber o que rolou entre nós.


一 Quem é esse? 一 Me perguntou, o cenho franzido como se estivesse se referindo a um animal que eu trouxera da rua.


 Dei de ombros.


一 Um amigo.


 Como se aguardasse uma deixa, ele sorriu e estendeu a mão ao loiro.


一 Sou Percy. 一 Apresentou-se 一 Você é o William? Nico falou muito de você.


 O Solace pareceu surpreso, como se não esperasse que tivesse sido um dos principais assuntos em nossa conversa. Apertou a mão dele e assentiu. Eu sabia que odiava ser chamado pelo apelido por desconhecidos, então o mencionei pelo primeiro nome completo. Tentei parecer tranquilo, mas tinha a sensação de estar entre duas bombas. Qual delas explodiria? Isso eu não sabia.


一 Vocês alugaram uma casa por aqui? 一 Quis saber Percy, tentando ser gentil.


 Olhando para os dois, eu podia ver claras diferenças. Andrew tem cachos dourados e olhos azuis, além de ser mais atlético. O outro tem cabelos pretos e olhos verdes, como o mar. E tinha uma característica no loiro que eu gosto muito: As sardas pelo corpo. É tão bonito e já me peguei várias vezes contando de longe, morrendo de vontade de tocar.


一 A família de um amigo nosso tem uma casa de praia aqui perto. 一 Respondeu Will, pouco confortável enquanto falava com Percy.


 O moreno assentiu e disse onde era o seu chalé, para que o visitássemos. Nos despedimos , cada um indo para um lado. Fiquei nervoso a medida que seguíamos para a casa de Leo. Eu sabia que Solace não tinha gostado muito dele. Confesso que até eu fiquei com o pé atrás depois que ele tentou me beijar. Ele parecia tão constrangido quanto eu, na verdade.

 Ao chegarmos na porta, William parou e o esperei, pensando que ele estava arquitetando o que dizer, mas tinha uma feição angustiada no rosto. Fiquei preocupado e segurei sua mão. Ele não me repeliu. Apertou minha mão mais forte, respirando fundo antes de falar:


一 O que foi que aconteceu entre vocês?


 Fingi não saber.


一 Do que está falando?


一 Não minta pra mim. 一 Ele me encarou. 一 O que foi que aconteceu entre vocês? 


 Enganá-lo era inútil. Contei a ele. O vi cerrar o punho livre e trincar os dentes.


一 Vou socá-lo.


一 Não, não vai. 一 Afirmei, mantendo-o no lugar. 一 Está tudo bem.


 Omiti a parte em que Percy me perguntou se eu gostava de outra pessoa. Seria muito vergonhoso explicar isso a tal "outra pessoa". 


一 Como ele ousa? 一 Murmurou o loiro.


一 Tentar me beijar?


一 Achar que você é desse tipo de gente que sai ficando com todos por aí.


 Ele não me recriminou por não beijá-lo e não recriminou Percy por tentar "ficar" com um garoto. Aquilo me surpreendeu. Me aliviou.




Comentários