P&UV -- IX -- Meu primeiro amor

 



 A queda que eu tinha por Will se transformou em penhasco. Pensei que logo iria desencanar dele e partir para o próximo crush, mas eu nem tive a oportunidade de vislumbrar isso. Não houve outro crush, não houve outra paixão. Virou amor. Comecei a amá-lo. Amar! Cara... Amar!

 Com ele mais longe, a tendência foi ficar cada vez mais perto na escola. Nos falávamos por mensagem, mas não era a mesma coisa. Alternávamos os fins de semana na casa um do outro, mesmo que nossos pais estivessem furiosos conosco ou com o mundo. Isso durou por muito tempo.

 O primeiro ano do ensino médio foi muito legal. Curti cada momento dele. Não fez muito tempo depois do meu aniversário de 16 anos, ainda na nona série, Jason disse que tinha uma surpresa especial pra mim. Quando perguntei o que era, ele replicou que era surpresa e que eu teria que esperar para descobrir. Quis saber quanto tempo isso levaria e o Grace só sorriu.

 Aguardei que ele me dissesse mais algo, mas nada ocorreu. A surpresa estava demorando tanto que me esqueci dela totalmente. Deixei pra lá, voltando a focar nos meus estudos e nas minhas amizades. Comecei também a pensar no curso que queria fazer na faculdade. Estudava e assistia algumas coisas de psicologia no meu tempo livre. O sonho dele sempre foi ser médico e ajudar pessoas. Além do mais, ele tem talento pra isso. Aptidão.

 Bom, vou contar algo triste. Minha mãe morreu nas férias de Natal. Ela era uma mulher incrível, foi uma excelente mãe e uma esposa fiel, dedicada àquilo que amava. Durante as compras para a ceia, houve um ataque no mercado no qual ela estava. Não sei como ela reagiu, só sei que ela ligou pra mim e pediu para que eu colocasse no viva-voz. Obedeci.


一 Hades... 一 Chamou ela.


一 Estou aqui, meu amor. 一 Respondeu meu pai.


 Tiros e gritos soaram do outro lado da linha.


一 Eu sei. 一 Disse, chorando. 一 Eu sei de tudo. Cada detalhe. Eu sei.


 Lágrimas se formaram no rosto do meu pai.


一 Querida...


一 Tá tudo bem. Tá tudo bem. 一 Minha mãe sussurrou, calma. 一 Não o culpo por isso. Eu te amo.


 Hades chorou, evitando soluços.


一 Bianca, minha filha...


一 Oi, mãe. 一 Minha irmã tremia de tristeza.


一 Eu sei. Eu sei do bebê.


 Os tiros ficaram mais altos.


一 Nico... Meu garoto...


一 Mãe, saí daí. Se esconde, corre, chama ajuda. 一 Disse apavorado. 一 Por favor.


 Mais tiros e gritos chorosos.


一 Eu sei que você ama Will, Nico. 一 Ela confessou. as pressas. 一 Você o ama e eu aprovo totalmente. Só não tenha medo de errar, de ser humano.


 Um homem ao longe gritou, bravo.


一 Eu amo vocês. 一 Ela disse. 一 Amo tanto.


 Ouvi outro tiro, dessa vez, mais perto e não voltamos a escutar sua voz. Gritei, chamando por ela, mas ninguém respondeu. Pouco depois, a chamada caiu. Eu tremia tanto que o celular despencou da minha mão. Gritei. De dor, de tristeza, de angústia e tudo o mais que a morte dela me causou. Bianca fez o mesmo. chorando alto e berrando. Hades estava em prantos, em silêncio. Havia choque e dor em seu rosto, como se ele não soubesse o que fazer.

 Poucos minutos mais tarde, a família Solace apareceu. O abraço de Will foi tudo o que eu precisei. Naomi chorou horrores pela morte da melhor amiga e Apolo consolou meu pai como dava. Andrew pareceu abalado pela morte da minha mãe e soltou algumas lágrimas amargas, mas me deu mais assistência do que qualquer outra coisa naquele dia.



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 Tudo foi esclarecido. Meu pai confessou que tinha outra filha, Hazel e ela passou a morar com a gente no quarto de Bianca. Contei a eles sobre meus sentimentos pelo filho do dr. Solace e minhas inseguranças em relação a isso. Bia disse que estava grávida. Com todas as cartas na mesa, lamentamos a morte de Maria Di Angelo. Nunca chorei tanto na vida.


一 Queria que ela estivesse aqui. 一 Sussurrei a Will em um dos nossos fins de semana alternados.


 Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos.


一 Eu sei que quer. 一 Ele respondeu. 一 E sinto muito por ela ter partido.


 Tudo doía. As vezes, ficava difícil respirar. Só conseguia pensar nas palavras dela. Ela sabia que eu amo o loiro. Ela sabia. Não que eu gostava, estava apaixonado ou tinha uma queda por ele. Ela sabia que eu o amo. E estava bem com isso. Desejei que mamãe pudesse me falar mais, me aconselhar.

 William apertou minha mão e me deu um beijo no rosto. Deitei a cabeça em seu ombro, aproveitando o aconchego. Era bom tê-lo perto. Ele me abraçou, deitando na cama e me puxando junto. Permiti me perder naquele toque. Não ligava mais para limites físicos ou o meu antigo mantra: Somos apenas melhores amigos. O loiro não faria isso se não quisesse. Eu não estava forçando ninguém.

 Mantive-me colado a ele até adormecer em seus braços. Seu calor me acolheu quando senti frio. Suas carícias me espantaram o desconforto. Sua presença me trouxe de volta da solidão. Ao acordar, ele ainda estava lá, dormindo também. Deixei-lhe um selinho nos lábios e me levantei com cautela.



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 Alguns meses se passaram e, de repente, já era setembro. Primeiro ano do ensino médio. Oh, coisa boa. Maravilha. Mas, enfim. Lembra da surpresa? Então. Nem eu me lembrava. Jason me disse que eu veria o que era no dia seguinte. Percebi o quanto ele estava feliz e tentei adivinhar o que podia ser, mas me contentei em esperar mais um dia.

 Na manhã seguinte, eu estava ao lado do armário do Grace quando ele apareceu, trazendo alguém junto com ele. A dupla parou na minha frente e reconheci o acompanhante de Jason. Cabelos negros, pele bronzeada, sorriso perfeito. os olhos... As roupas eram diferentes das quais ele usava quando o conheci, mas tinha certeza de quem era.


一 Percy! 一 Sorri pra ele.


 Jay pareceu confuso, mas só havia um par de olhos verde-mar assim.


一 Oi, Nico. 一 O Jackson sorriu de volta. 一 Que mundo pequeno, não é?


 Concordei e me virei para meu primo.


一 Então esse é o garoto que você disse que tava apaixonado há uns quatro anos?


 O loiro corou e Percy riu.


一 Estamos namorando, Nico. 一 Respondeu-me o Grace. 一 Ele veio passar o último ano comigo.


 Felicitei-os. Eu sabia que Percy é uma boa pessoa e não podia estar na companhia de alguém melhor. Conversamos bastante sobre várias coisas e Jason fez questão que o namorado soubesse do meu primeiro beijo e o boato do meu suposto relacionamento com o dito-cujo que eu beijei. Foi muito divertido, apesar disso.

 O sinal da primeira aula tocou e eu me dirigi até a minha sala. Passei o dia tentando focar nos estudos. Eram muitos assuntos novos, mas frequentemente me cutucavam pra falar da vida amorosa do meu primo. Tive que dar um tapa em alguém. Que sacrifício... Enfim. O recado foi dado e ninguém mais implicou com o novo casal.

 Mais tarde, eu e Jackson ficamos conversando no corredor, quando era perto do horário de largar. O clima estava bem leve até ele falar.


一 Eu soube da sua mãe...


 O sorriso sumiu do meu rosto.


一 Eu... Ela...


 Lágrimas me vieram aos olhos. Eu amo vocês.

 Percy me abraçou pra me consolar.


一 Desculpa. Eu não devia ter falado isso. 一 Ele sussurrou, se sentindo culpado.


一 Tá tudo bem...


 Seu abraço era quente, mas me lembrou outra pessoa. Nos separamos, as mãos dele nos meus ombros. Ele sorriu e ia me perguntar mais alguma coisa, contudo se interrompeu. Seus olhos se fixaram em outro lugar, atrás de mim, mas parecia distante. Depois de analisar algo por alguns segundos, ele franziu o cenho e me questionou:


一 Você o conhece?


 Arqueei uma sobrancelha e tentei ver por sobre o ombro. O que eu vi me surpreendeu. Corei e assenti, dizendo que o conhecia e muito bem. Na hora de ir embora, só tinha uma coisa na cabeça: O olhar penetrante de Will em mim.





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