Deuses se disfarçam de adolescentes mortais e eu posso provar com a existência de Will Solace. Ele é bonito; inteligente, pois os professores sempre comentam dele como um exemplo; é carismático e gentil. Já ficou mais claro do que água que eu tenho um precipício por ele desde a nona série, quando estudávamos no mesmo turno. Então, num passe de mágica, ele vem estudar de manhã.
Falando assim, eu pareço gado nele, mas não tem muito o que posso fazer sobre isso. Eu sou o típico emo popular que anda com o palhaço popular da turma e o capitão do time de algum esporte da escola, ele também é popular. Somos um grupo controverso de gente popular que faz bagunça e é conhecido por ser um pedaço de mal caminho.
Já Will é aquele cara gente boa, estiloso e, suspeito que ele seja, nerd, que você bate o olho e só vê inocência e beleza. Ele parece um anjo com aqueles cachos dourados; os olhos azuis; a pele bronzeada e as sardas. Além de que ele é alto e bem fortinho. E também recentemente descobri o quanto a puberdade transforma a voz de uma pessoa, mas calma que eu já vou chegar nesse ponto.
Hazel, minha irmã, me acordou essa manhã com música clássica. Obviamente uma forma de me provocar porque eu detesto esse gênero musical com todas as minhas forças. A pior parte é que era Beethoven. Correr atrás dela não ia adiantar de nada, então apenas a xinguei e expulsei-a do meu quarto, irritado com sua ousadia. Eram só seis e meia da manhã.
Já que minha irmã mais nova tinha feito o favor de me acordar, fui tomar banho para tirar a cama das costas. Escolher a roupa foi, com certeza, a parte mais tranquila do meu dia. Peguei uma camiseta de manga comprida com a imagem de uma caveira; calça jeans preta com uns rasgos; uma corrente pendurada no passador da calça; luvas com desenho de ossos da mão; colar de prata e all-star preto. Fora o lápis de olho que eu passei.
Sim, eu sou gótico, mas não daquele tipo que você vê na internet quando pesquisa por isso. Eu meio que "inventei" meu próprio estilo gótico com elementos do estilo original. Se tu buscar por emo no Google, vai achar cada bizarrice que não passa no Discovery Channel por uma boa razão. É cada atrocidade que eu tenho vontade de vomitar. Se for pesquisar, faça isso no Pinterest.
Fui para a cozinha comer alguma coisa e minha mãe estava lá, conversando com Bianca, minha irmã mais velha, enquanto alimentava Macária, de quatro para cinco anos de idade. Já aviso que minha família é meio confusa, mas feliz. Depois eu tiro um tempinho só pra explicar como tudo funciona. Agora não dá.
一 Bom dia, mio angelo. Como está? Dormiu bem esta noite? 一 Maria se voltou para mim, buscando algo em minha expressão.
一 Dormi bem e acordei péssimo. 一 Peguei um bolinho na geladeira. 一 Quem deu ideia a Haz?
Bianca levantou a mão.
一 Culpada. 一 Declarou. sorrindo.
Mostrei minha língua a ela e Macária me imitou, rindo depois. Minha mãe fingiu roubar o nariz da pequena para distrai-la, me olhando feio pelo canto do olho. Revirei os meus, recebendo um tapa no braço. Hazel chegou pouco depois, um sorriso travesso no rosto ao mesmo tempo que Melinoe, a irmã gêmea de Macária, observava tudo sem entender.
一 Que legal ver a família toda reunida. 一 Perséfone disse, se aproximando de nós.
Minha mãe sorriu com a presença da recém-chegada e Haz desviou sua atenção enquanto elas se beijavam. Admito, eu também evitei encará-las nesse momento. Resumo breve no próximo parágrafo do que essa porra que acabou de acontecer significa. Pego Macária no colo e troco olhares de "vamos embora" com Bianca. Ela assente e vou pegar minha mochila.
Meu pai, Hades, se relacionou com quatro pessoas em sua vida. Minha mãe; Marie Levesque, falecida mãe de Hazel; Perséfone e Tânatos, seu atual companheiro. Maria Di Angelo e Perséfone Garder tiveram a sorte de se encontrarem durante períodos difíceis da vida e se apaixonaram. Simples. Não é tão difícil de entender.
Olhei as horas no celular, constatando que os portões abririam em dez minutos. Minha madrasta pegou a filha dos meus braços e me deu bom dia, desejando boa aula ao passo em que eu saía para pegar carona com a minha irmã, que é professora de Geografia. A parte engraçada? Bia é casada com a professora de História, Reyna Á. Ramírez Arellano.
Ao chegar na escola, Leo veio até mim, dizendo que Connor, seu crush secreto, tinha colado um papel de "chute-me" em suas costas. Disse a ele para revidar e qual foi a minha surpresa quando ele teve uma ideia? Nenhuma. Leo é um cara vingativo e travesso, é meio lógico que já teria bolado algum plano que não me envolvesse. Ou era o que eu achava.
一 Preciso da sua ajuda. 一 Ele disse, me parando no corredor, um sorriso amarelo no rosto.
Fechei a cara.
一 Com o que?
一 Vigia a porta enquanto eu pego umas coisinhas do Connor. 一 Fingiu inocência, mas eu sabia o que eram as "coisinhas" que ele queria roubar.
Bufei e dei de ombros.
一 Pode ser. Só vamos logo.
Leo deu pulos de alegria, comemorando, e me puxou até a sala do 2oD. Não tinha ninguém, mas várias mochilas e alguns lugares ocupados por elas. Também não tinha uma alma no corredor das salas. Valdez entrou, sorrateiro, e me encostei perto da porta, atento a qualquer pessoa que se aproximasse.
Foi quando o vi. Vestia camisa branca sem mangas, calça jeans clara e all-star amarelo. A mochila estava passada por um dos ombros e um papel na mão que não segurava a alça da mochila. Os cachos batiam um pouco nos olhos, mas ele os afastou jogando a cabeça para o lado. Deuses do Olimpo. A perfeição em carne, osso e beleza extrema.
Os olhos azuis estavam focados, passando das placas das salas para a folha na mão. Andava como se não ligasse para porra nenhuma e eu adoro caras que andam como se não ligassem para porra nenhuma. Will tinha um ar de pessoa inteligente e intimidante com a qual você não vai querer pegar inimizade nem que custe sua honra.
Ele parou a poucos metros de mim, o que fez meu coração virar uma escola de samba. Por um momento, prendi a respiração. Para minha sorte, ele não pareceu me notar, então aproveitei para me recompor, mas não consegui desviar o olhar dele. O loiro me olhou e, porra, eu tremi todo por dentro. Nunca senti nada tão intenso.
Tava eu, Nico Di Angelo, todo boiola porque meu crush olhou nos meus olhos. Meu coração parou de bater tão rápido, mas batia forte contra a minha caixa torácica. Senti um frio na barriga que nunca tinha sentido antes perto de alguém. Mordi o interior da bochecha e me forcei a dizer algo.
一 Tênis legal...
Segurei um suspiro.
Will Solace sorriu. Sorriu, pra mim.
一 Obrigado. 一 Ele agradeceu, as orelhas um pouco rosadas e os olhos cheios de simpatia.
E entrou na sala. Observei-o até sumir da minha vista, colocando a mão no peito para ter certeza de que estava vivo. Soltei o suspiro que estava segurando, sentindo uma repentina vontade de gritar de felicidade e euforia. Puta que pariu. Quando foi que eu me apaixonei por ele nesse nível?
一 Niccolò Di Angelo! Você concordou em vigiar a porta e nem me avisou sobre o loiro estiloso.
Evitei olhar para Leo, com vergonha do meu bi panic. Puxei-o pelo pulso, levando meu melhor amigo para o mais longe possível dali.
一 Vai me contar o que houve?
一 Mais tarde, mas... Loiro estiloso?
一 Com "estiloso", quero dizer corajoso. 一 Valdez sorriu. 一 Ele veio de camisa branca para escola.
一 Eu diria estiloso, no sentido bom.
Leo riu com deboche.
一 Interessado nele, Di Angelo?
Desviei os olhos, pensando no que senti quando trocamos olhares.
一 Sendo sincero, sim. 一 Respondi, ajeitando minha luva. 一 Ele vale a pena.
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