Vida campestre -- Emi & Raviel -- Capítulo Um

 



 A vida nos guia por caminhos deveras esquisitos a medida que desvendamos quem somos. Vamos descobrindo o que sentimos e, num passe de mágica, ganhamos mais coisas para sentir e remoer, embora remoer não seja lá a melhor coisa do mundo pra se fazer.

 Quando a situação foge do controle, não temos mais o que fazer. Perdemos um pouco de quem somos e do nosso senso de direção quando o controle das nossas emoções nos é arrancado. Ao perder algo, perdemos mais ainda. Como isso pode ser possível? Simples. Sentimos que perdemos e perdemos o sentido. Um ciclo que gira de forma constante.

 Onde Emi se encaixa nisso? Após perder o emprego e ser despejada do apartamento na cidade, não vê alternativa além de mudar um pouco os ares. Ela precisava de um recomeço mais que tudo, relaxar depois de vários anos de uma vida corrida onde não tinha tempo para suas maiores paixões. 

 Uma casa no campo sempre pareceu algo de série de época, mas continha uma pequena vontade de experienciar esse tipo de paz de espírito. A oportunidade dançou diante de seus olhos, sua prima anunciando que a casa de sua avó, agora falecida, estava disponível. Depois de angustiantes semanas, empacotou suas coisas e imediatamente aceitou a casa de presente. Estava precisando e a pessoa que ficou com ela de herança, não via utilidade em um "casebre" como aquele.

 A viagem até o vilarejo da casa durou por volta de duas horas e meia de um verdadeiro tédio. Não havia nada PIOR do que ficar enfurnada em um carro, vagando por um trecho esburacado de estrada sem nada para se distrair. As músicas de seu tio eram as piores possíveis para se ouvir e não faziam muito sentido.

 Sua nova residência em si era bem conservada, mas precisava de reparos e uma personalização especial. Emi reconhecia que era um bom lugar para chamar de lar, que ficaria ótima com uma nova ademão de tinta e a energia do ambiente era de muita calma, como se estivesse novamente nas saias de sua mãe a espera de que o bolo ficasse pronto.

 Concentrou-se, principalmente, em pensar e planejar onde guardaria e de que forma guardaria suas coisas. Alguns móveis novos e menos poeirentos chegariam na tarde seguinte, trazidas pelo carpinteiro e seus ajudantes, então teria, além de uma casa nova, mobília feita sob medida. Sua tia lhe entregou as chaves do lugar, dizendo que fizesse bom proveito.

 Outra questão que entrou em jogo: Emprego. Emi se formou em Design Gráfico, mas seu sonho de infância era ser bombeira ou botânica. Gosta de desenhar, muito. Só que considera mais um hobby do que algo que levaria como profissão. Não houve muito pensamento na hora de escolher o curso. Conseguirá pontos o bastante para Design e assim o selecionou.

 Ao passar pela cidadezinha próxima a sua nova casa, viu uma floricultura. Era linda e causava uma boa impressão logo de cara. Resolveu entrar. Um rapaz veio ao seu encontro assim que o sino tocou, anunciando sua presença. Não prestou muita atenção em sua aparência, estava focada em saber se tinha alguma vaga lá.

 O sorriso dele foi gigante, pois estavam quase fechando por não dar conta de tudo o que tinham pra fazer ali. Precisou de algumas perguntas técnicas para que vaga fosse de Emi. Um problema a menos. Tinha conseguido um emprego com uma facilidade que realmente não esperava. Por que tudo estava correndo tão bem agora?

 Não quis fazer mais perguntas, apenas aceitou que sua vida estava voltando pros eixos e seguiu seu caminho. Fez suas compras, uma janta decente e dormiu após a refeição. No dia seguinte, recebeu os móveis, os reorganizou e colocou todas as suas coisas nos lugares que achou apropriado. Logo tudo tinha um ar mais Emi do que casa mal-cuidada.


一 É um belo lugar. 一 Sussurrou para si mesma.


 Olhou em volta, começando a acreditar que aquele espaço era seu.


一 É... Eu consigo fazer a vida aqui...






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