O dia havia começado tranquilo. O ar cheirava a rosas-chá, trazendo uma leve melancolia e as lembranças agradáveis das manhãs de sol na casa dos Di Angelo. Absolutamente todos os móveis brilhavam com leves camadas de poeira. O chão era fervorosamente esfregado na tentativa de limpar os resquícios de café que ali já tinham caído.
Will apenas ficou observando, meio emburrado. O queixo repousava na palma da mão. O cotovelo estava apoiado no braço do sofá. Um balde de pipoca com calda de morango descansava no colo, intocado. Os cachos loiros ainda estavam úmidos do banho recém-tomado e os olhos azuis, entendiados.
一 Eu já disse que posso ajudar. 一 Resmungou o alfa.
一 E eu já disse que não preciso. 一 Retruquei.
Se eu precisasse de ajuda, teria pedido. Não gostava que pensassem que eu fosse incapaz de fazer alguma coisa simples como passar pano. Desde que Will vinha trabalhando em tempo integral, passei a me concentrar ávidamente aos deveres de casa e comecei a odiar quando as coisas ficavam fora do lugar.
Eu estava contente, acima de tudo, por ter algo com o que me ocupar, mas ficava meio solitário enquanto meu namorado trabalhava incansavelmente para termos uma renda fixa e suficiente. Por isso, nas suas poucas folgas, passamos o tempo todo grudados um no outro. Jason já fez cara feia pra mim, mas se esforçou para entender o que eu sentia com a ausência de Will.
Falando nele, sentia seu olhar ávido acompanhando meus movimentos, quase me devorando, sem dúvida. Eu não ligava para esse olhar mais, chegava a gostar. Me recordo que tinha muita vergonha no início, mas tive que me acostumar a saber que era desejado de alguma forma, o que não foi lá um sacrifício.
Will é lindo, atencioso, respeitoso, companheiro, cheio de amor pra me dar. E por que eu reclamaria de ter tanta sorte em namorá-lo? Aquele alfa semideitado no sofá é o meu mundo, minha alma, minha vida, tem meu coração nas mãos. Eu o amo mais do que tudo no universo.
Nem se eu passasse cem por cento do meu tempo admirando-o, beijando-o, acariciando-o e contemplando-o, não seria o bastante para expressar o tamanho do sentimento que ele me traz. Essa era a principal questão. Nunca seria suficiente. E parecia que, com o passar do tempo, eu o amava ainda mais e me apaixonava cada vez mais.
Por isso e muito mais, pretendia fazer de tudo para merecer pelo menos um pouquinho dele. Tudo para merecer ao menos um pedaço. Acho, só acho, que ele sabe dessa minha linha de raciocínio, pois continua me dizendo e repetindo para o mundo inteiro o quão incrível eu sou e que me deseja e me ama por inteiro.
一 Me ama... 一 Suspirei, repetindo cada sílaba para apreciá-las melhor. 一 Sem exceções?
一 Como poderia haver exceções, meu anjo? 一 Ele indagou, beijando-me na têmpora.
Não fui capaz de responder, senão o listaria meus defeitos de personalidade e corpo, mas ele adivinhou tudo o que eu pensava só olhando pra mim, nos olhos. Eu sempre amei os dele, mas vê-lo tão entorpecido apenas falando minhas perfeições e sem conseguir enumerar tanto para si mesmo quanto para mim o que achava tão extraordinário.
一 Nico, entenda uma coisa muito, muito importante. 一 Will me disse, sem sair daquela posição, apenas sussurrando em meu ouvido. 一 Outras pessoas podem pensar o que quiserem sobre sua personalidade, sua aparência, seu linguajar, seu comportamento. Mas, para mim, não há nada e nem ninguém mais adorável, mais amável, mais compassivo, mais perfeito, mais bonito e mais sensual do que você. Você, e apenas você, consegue me fazer o alfa mais sortudo do mundo. Você é o ômega que me completa e aquele que eu pretendo me atar para o resto da vida, querendo você ou não.
Suas palavras me comoveram. Não houveram palavras para descrever o sentimento que me invadiu. Eu me sentia tão bem, tão amado, tão... vivo. E ali, nos braços dele, eu repassei na cabeça nossa história. Três anos. Mas fazia alguns meses a mais que nos conhecíamos. Três anos e dez meses. Dez meses de amizade e três anos de namoro.
Tanto havia acontecido nesse período que chega a ficar difícil lembrar, mas os pontos altos eram os mais dolorosos e os mais importantes. Entre eles: Drew, a ex-namorada maluca e completamente possessiva de Will. Manipuladora e impulsiva, fez de tudo para acabar com o nosso relacionamento, conseguindo nos separar e guardar mágoas um do outro por algumas semanas infelizes. Experiência que eu não pretendia repetir.
Outro ponto importante que veio logo em seguida foi a morte da minha mãe.
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