Will gemeu, suspirando de alívio depois. Nico perguntou mais uma vez se era uma boa ideia, mas o alfa insistiu.
一 Continua massageando. 一 Murmurou ele. 一 Você tá indo bem.
一 Você está muito tenso...
一 Lá no hospital, eu fico muito tempo em pé. Também fico muito inclinado sobre os paciente nas macas. E isso tudo acaba com as minhas costas.
Nico riu e fez círculos no rombóide maior, subindo para o rombóide menor gradativamente.
一 Dá pra ver o estrago.
Will suspirou, sentindo a tensão esvair a medida que o ômega massageava suas costas. Era seu dia de folga e seu namorado estava contando a história de Leo e seu término traumático. Seu amigo podia tê-lo atualizado sobre isso pessoalmente ou por telefone, mas o loiro estava tão ocupado e sobrecarregado que não sobrava tempo.
Quando Di Angelo terminou sua seção de massagem, Andrew se sentia novinho em folha. Bem melhor do que poderia estar em semanas. Se sentou na cama, com Nico a sua frente, e o puxou para deitar com ele. Depois de bem acomodados, começou a acariciar o cabelo dele e cantarolar uma música italiana que conhecia.
一 Continua. 一 Disse depois de um tempo de silêncio.
Nico franziu o cenho.
一 O que exatamente?
一 Continua contando aquele negócio do Jason. 一 Esclareceu. 一 Você me disse que se arrependeu da sua escolha de palavras. Me conta o que você fez.
O ômega suspirou, se aconchegando mais no peito de Will. E mergulhou nas lembranças.
🌙 ✲ 🌙
A conversa se seguiu normalmente depois que Nico explicou que aquela era a filha da amante de seu pai, Hades, o que fazia dela sua meia-irmã. Hazel não ficou nada desconfortável quando a apresentou dessa forma. Ela também pareceu muito feliz de tê-lo conhecido e de saber que tinham amigos em comum.
Jason, apesar da raiva que estava de Frank, foi gentil e iniciou a conversa com um assunto leve. O menor se sentiu ressentido pela maneira como havia respondido a pergunta dele sobre ainda não ter tido nada com Will, mas decidiu que falaria com ele sobre mais tarde.
Quando deu dezesseis horas e trinta minutos, começou a anoitecer. Todos juntaram as vasilhas vazias, pratos engordurados e talheres sujos, colando dentro de suas cestas conforme identificavam a quem cada item pertencia. Leo se despediu de todo mundo e foi o primeiro a sair. Frank foi atrás para conversar enquanto Hazel e Nico continuaram trocando histórias de infância, apesar de as dela serem melhores e bem mais alegres.
O chinês pediu gentilmente para que fossem embora e arrastou o ômega latino com ele, insistindo que passaria a noite no apartamento dele, já que a Levesque já iria embora na manhã do dia seguinte. Foi uma pena ela não poder adiar a passagem para mais alguns dias, mas era melhor daquela maneira.
Percy foi na frente pegar o carro e o moreno aproveitou para se aproximar de Jason, mesmo não tendo ideia de como iria pedir desculpas e as palavras que usaria para isso. O loiro analisou-o com surpresa, como se não esperasse que permanecesse ali mesmo depois de todos terem ido.
一 Jay, eu... Quero falar com você. 一 Encetou, nervoso.
O alfa sorriu, os olhos reluzindo através das lentes dos óculos.
一 Contanto que não me diga que adotou uma criança, sou todo ouvidos.
A brincadeira e sua risada não o fizeram se sentir melhor. Na verdade, se recordou sobre a pergunta infame sobre o teste de infertilidade. Acho que todos aqui se lembram dessa situação desagradável.
一 Jason, é serio.
O tom de Nico, frio e austero, fez o Grace gelar até os ossos. Eram poucas as vezes que ele usava esse tom, lê-se nunca, então a coisa devia ser muito importante.
一 Pode falar. Ouvirei cada palavra.
Essas palavras eram a gota que precisava para seu copo de culpa transbordar. Odiava ver Jason pesaroso daquele jeito. Odiava falar as coisas de maneira errada. Odiava quando se deixava levar pelo incômodo e pela emoção. Odiava entristecer as pessoas que amava. Foi por isso que lágrimas brotaram nos seus olhos, fazendo o loiro se desesperar.
一 Ei, ei. Tá tudo bem. O que houve?
一 D-desculpa... 一 Fungou.
Nico esfregou os olhos na manga o casaco amarrado a sua cintura, sem conseguir controlar os soluços. O Grace passou as mãos pelos seus ombros, o puxando para um abraço. O ômega não reagiu, apenas ficou pensando que não era exatamente assim que planejava pedir desculpas.
一 Desculpa? 一 Repetiu Jason, confuso. 一 Pelo que?
一 Pelo o que eu disse! 一 Respondeu. 一 Eu... Eu disse que você era uma má influência. Insinuei que era um degenerado.
一 E eu reconheci que contar aquela história de maneira tão positiva não foi tão bom.
一 Mas... Eu disse...
一 Eu sei o que você disse. 一 Interrompeu ele. 一 E sei que não disse por mal. Além do mais, eu toquei em uma ferida sua que tinha prometido a mim mesmo não encostar. A maneira como eu disse e o que eu disse também não foi legal. Você apenas me respondeu a altura do insulto.
一 Não foi um insulto! 一 Protestou.
一 Mas doeu tanto quanto fosse.
一 Eu...
一 Shiii.... 一 Jason fez com a boca, o apertando de novo contra o peito. 一 Tá tudo bem. Eu sei que não fez por mal e que não era essa a sua intenção. Será que podemos esquecer isso?
Nico o abraçou de volta.
一 Acho que sim. 一 Murmurou. 一 Me perdoa?
一 Você sabe que sim. 一 Suspirou o loiro, beijando sua testa afetuosamente. 一 É normal que alguns desentendimentos aconteçam entre irmãos, Nico. Eu sinto falta dessas nossas briguinhas e os pedidos de desculpas depois.
一 Eu também...
Jason se separou, percorrendo o rosto úmido do menor com os olhos azuis. Ele não parecia mais aflito. Lembrou-se dele quando eram crianças: O rosto infantil; o sorriso despreocupado; o olhar travesso e, ao mesmo tempo, doce; a voz melodiosa, que não mudou nada, e o jeito simples com o qual agia.
Era impossível não comparar. Nico era um adulto. Tinha sofrido muito e superado. Estava feliz, com os problemas pessoais resolvidos e havia toda uma vida pela frente. Os olhos escuros continham o mesmo brilho e transparência de antes; o sorriso é carregado de segurança; a voz, como já dito, ainda é melodiosa; o rosto deixou de ser infantil para se tornar angelical e podemos listar outra característica, uma sensualidade natural.
Apesar de todas as mudanças, boas ou ruins, o Di Angelo era, é e sempre seria seu irmãozinho de consideração. Tinha cuidado dele e testemunhado momentos que poucos fariam ao longo de sua vida. Tinha dado apoio em tudo e nunca conseguira se imaginar sem conviver com, em disparada, uma das pessoas que mais ama no mundo.
一 Entenda de uma vez, Nico Di Angelo. Você é meu irmãozinho mais novo. 一 Fez uma pausa dramática como só ele conseguia fazer. 一 Não poderia ter mais orgulho de você.
O moreno enxugou outra lágrima de emoção e abraçou Jason mais uma vez para demonstrar sua gratidão. Um peso em sua garganta não o permitiu demonstrar com palavras que sentia o mesmo em relação a ele. Ficaram uns minutinhos assim até Percy chegar com o carro.
一 Ei, quer uma carona? 一 Ofereceu o Grace. 一 Podemos te levar em casa antes de irmos para a nossa.
一 Claro. 一 Concordou com um sorriso. 一 Seria um prazer ficar na companhia de vocês por mais meia hora.
一 E o seu carro? 一 Questionou Percy.
Nico riu.
一 Eu vim de ônibus. Vamos?
一 Claro. Entra aí.
🌙 ✲ 🌙
O filme Por Lugares Incríveis foi um acompanhamento perfeito para aquela noite. Era um filme lindo apesar de muito emotivo. E depois que ele acabou, Will ainda estava emocionado. Não só ele, devo acrescentar. Os olhos incrivelmente azuis do alfa estavam marejados, o traço por onde lágrimas haviam passado ainda estava visível.
Ele apertou sua mão e desligou a TV.
一 Uau. 一 Foi o que conseguiu dizer.
Nico forçou um sorriso, mesmo estando a beira de uma nova onde de lágrimas.
一 Eu sei. Foi... intenso.
一 É mais do que isso. 一 Will encostou a cabeça no encosto do sofá. 一 Foi tão...
一 Libertador?
一 Isso!
O ômega sorriu.
一 Também acho. 一 Disse, acariciando a mão do loiro com o polegar. 一 Todo o filme é um grande aviso e toda uma lição a se aprender. Eu gostei bastante.
一 Eu não poderia ter dito melhor, estrelinha.
Nico franziu a testa.
一 Eu não sou uma "estrelinha", Solace.
Will riu.
一 Pra mim é.
Se virou para ele, apenas para olhá-lo fundo nos olhos.
一 Você é a minha estrela guia, Nico. Sempre foi.
O menor corou sob a intensidade de seu olhar, mas não discutiu.
一 Obrigado.
As palavras de Andrew verberaram em seu coração, mas não entendia o por quê de ele ter dito isso. Repassou na mente o que poderia ter feito para merecer um "obrigado" tão carregado de amor, mas não conseguiu chegar a uma conclusão. Não tinha feito um almoço decente, não tinha passado o pano no chão, não tinha lavado a roupa, não tinha limpado a tela da TV. Então, por que?
一 Pelo que?
一 Por estar aqui.
Nico se virou para encará-lo novamente. Ele o observava com tanta ternura que temeu derreter no sofá.
一 Por existir, basicamente. 一 Will continuou. 一 Você passou pela perda da sua mãe, pela perda da Bia, perdeu o contato com Thalia, soube que tinha uma meia-irmã, descobriu a verdade sobre o seu pai, tolerou toda uma infância mal vivida, uma adolescência não apreciada, mas continua firme. E eu agradeço por isso. Então. obrigado, Nico.
E sentiu que tudo aquilo era genuíno. O menor não podia se sentir mais amado. Sorriu, contendo o choro, e apertou mais os dedos do Solace nos seus.
一 Se é assim... De nada. Por... basicamente tudo.
E eles riram, tendo a infinita certeza de que nada seria mais perfeito do que aquele momento.
C O N T I N U A
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