NTL -- "Desculpa" (XX)

 



 Era um fato inegável e incorrigível: Bianca estava morta. Não havia muito o que ser feito. Nico não tinha forças para lidar com isso e nem tinha notícias de Thalia. A garota por quem sua irmã era apaixonada sumiu depois que ficou sabendo. Outra coisa muito difícil de não se notar era que seu pai não havia comparecido a nenhum dos enterros, no de sua mãe e de Bia, e não tinha se manisfestado ainda, deixando o ômega desconfiado.

 O grande evento inadiável que poderia acabar avacalhando com tudo era conhecer os pais de Will, seus sogros, e causar uma boa primeira impressão, mas como fazer isso com todo o vazio que sentia? De certa forma, tentou ao máximo ser gentil e responder a tudo que lhe foi perguntado.

 Apolo foi muito compreensivo, apesar de não saber o que estava acontecendo. Lídia, por outro lado, era muito persistente, não de um jeito bom. Era invasiva na maioria das perguntas e não achava que poderia estar incomodando, o que o irritava. Odiava pessoas assim. Bryce era assim. Octavian derivava disso. Drew era assim, mas sabia que estava incomodando e gostava de incomodar.

 Nico só esperava que a madrasta de Will tomasse juízo e começasse a filtrar o que dizia. Não queria mais problemas. Nem para ele, nem para o alfa. Já era difícil para ele falar sobre sua adolescência, imagine ter algum problema com seus pais agora, depois de adulto. O menor sabia que um dos maiores medos do loiro era não ter a aprovação do pai. E se ele o puxasse de canto e dissesse: "Não fique mais nem um minuto perto desse ômega. É apenas bagagem emocional pra você e pro resto da sua vida. Não vê isso?"

 A possibilidade da bondade de Apolo ser uma farsa, um fingimento, o apavorava. Mas, em contrapartida, o que poderia fazer? Não conseguia controlar a visão das pessoas e nem a percepção que elas teriam de si. Precisava se recompor o quanto antes e lidar com isso, senão acabaria enlouquecendo.

 Will já estava sendo gentil o suficiente estando do seu lado nesse momento difícil. Rebatia friamente cada comentário insinuoso da madrasta. Jason estava longe, ocupado com a própria vida. Leo tinha seus próprios problemas. Piper e Annabeth construíam sua vida juntas. Percy também era outro ocupado com os próprios anseios. Onde Nico se encaixava nessa confusão toda?

 A culpa o atingia mais forte do que qualquer coisa. Bianca tinha morrido, indiretamente por sua causa. Se ela não tivesse planejado uma visita surpresa, não estaria a sete palmos de terra neste exato momento. Como não se culpar? Como? Di Angelo não sabia.




☀    🌙  ✲  🌙  ✲  




 Acordara de sobressalto depois de um pesadelo, mas Will o puxou para se deitar outra vez. Beijou sua têmpora e o abraçou, apertando sua cintura para que não se afastasse. Nico ficou imóvel por um instante, sentindo a respiração quente de Will contra sua nuca. O corpo dele colava-se ao seu. Pele com pele. Sem impendimentos.

 Se não estivesse de luto, a sensação seria o suficiente para fazê-lo estremecer da cabeça aos pés, mas sua inquietação emocional não permitiu que se excitasse com o toque do alfa. Suspirou, corando. Ainda não conseguia se acostumar com o corpo dele com o seu depois de acordar. Era quase impossível.

 Apertou um dos braços que rodeavam seu corpo com a mão fria, considerando se virar para ficar de frente com o namorado. Surpreso, sentiu a mão de Will subir até chegar ao seu ombro. O agarrou e o virou, dando de cara com seus olhos incrivelmente azuis. Contemplou-os por um tempo, sentindo o rosto esquentar.

 Solace sorriu, levando uma de suas mechas negras para detrás de sua orelha. Puxou seu rosto levemente de encontro com o dele e beijou-o. Leve, calmo. Di Angelo repousou sua mão sobre a dele, correspondendo de imediato. Aprofundaram o beijo juntos, na mesma sincronia que desenvolveram um para com o outro.

O loiro, com a mão livre, puxou-o pela cintura para ainda mais perto. Em pouco tempo, Will estava sobre o ômega, beijando seu pescoço com vigor. Nico o puxou para mais perto, fazendo suas intimidades se tocarem. Atacou seus lábios, com fome, com fogo, com tudo. Seu hálito levemente azedo não o incomodava. Era o menor dos problemas.


一 Meninos? Já tão de pé? 一 Chamou Lídia, incerta. 一 O café já está pronto. Venham rangar. Se já tão acordados, né...


 Will, muito a contragosto, separou seus lábios dos dele, levando-se ao ouvido.


一 Apesar de estar bem irritado com minha "querida" madrasta... 一 Começou, devorando o ômega com o olhar. 一 ... não é apenas meu amigo que está faminto agora.


 Nico corou da cabeça aos pés. Sabia muito bem do quanto esse "amigo" estava faminto, pressionado contra sua coxa. Preferiu focar na outra parte da frase que afirmava que ele estava com fome. Abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Solace o calou com a dele.


一 Então... 一 Disse, depois de se afastar. 一 Vamos comer?





☀  ✲  🌙  ✲  🌙  ✲  ☀




 O olhar esquisito de Lídia era o que mais fazia com que Nico quisesse evaporar. Era aquele olhar que suspeitava de coisas e acusava descaradamente. Isso é exatamente o que a madrasta de Will sente e não tem vergonha de transparecer. Achava que eles tinham feito... coisas no quarto... e acusava o ômega com o segundo olhar mais severo que ele já tinha recebido na vida.

 Apolo, ao perceber o constrangimento do genro e o olhar de poucos amigos da esposa, suspirou, cansado. O alfa com quem Di Angelo mantinha um relacionamento demorou um pouquinho para notar, mas, quando aconteceu, segurou a mão do menor por debaixo da mesa e entrelaçou seus dedos.

 Lídia não perdoava, mesmo quando não havia acontecido nada. O olhar dela a fez lembrar-se do olhar que seu pai lhe lançava quando acidentalmente tropeçava em suas pernas. Era apenas uma criança, mas Hades brigava e discutia como se a culpa de ter caído fosse dele. Maria era o único que conseguia contê-lo e agora...


一 Então, Nico. 一 O pai de Will chamou sua atenção, querendo quebrar o gelo. 一 Você parece um menino inteligente. Fez uma faculdade legal?


 O rosto do ômega se fechou no mesmo instante, ficando tão mórbido e sério que a temperatura pareceu abaixar até chegar em números negativos. Suas íris negras se fixaram nos pães que tinha a sua frente, cortando-os com garfo e faca. Eram bolinhos recheados e o conteúdo escorreu pelo prato. Nico molhou a massa no caldo e colocou na boca, mastigando furiosamente enquanto segurava as lágrimas.

 Apolo continuou encarando, esperando uma resposta. Não precisou de meio segundo para entender que tinha entrado em um assunto proibido. Will olhou para o namorado com o canto dos olhos e suspirou. Pegou sua mão, livrando-a da faca, e levou aos lábios, beijando a junta de seus dedos com delicadeza.


一 O pai de Nico o expulsou de casa ainda no início de sua adolescência. Alegou a escola que ele tinha largado os estudos e não tardou muito para que conseguisse a emancipação, se livrando de suas responsabilidades como pai. 一 Disse Will em um tom complacente, não desviando os olhos azuis do rosto do menor por nada.


 Ninguém falou. Nada ocorreu. O silêncio simplesmente se fez presente e continuou por ali. Nico até preferia que ficasse dessa maneira. Não gostava que sentissem pena dele e o mais cômico nessa história trágica era que havia muitos acontecimentos na sua vida que seriam dignos de pena.

Lídia não reagiu, ou "ignorou" seja a melhor palavra para definir o que fez. Ao contrário dela:


一 Perdoe-me, Nico. 一 Implorou Apolo, entristecido. 一 Não pude imaginar que tenha passado uma barbaridade como essa.


一 Tudo bem. Eu sei. 一 Suspirou Di Angelo. Desejou que tudo pudesse ser esquecido. 一 Não tem problema, sr. Solace.


 Tudo o que queria era que tudo se esvaísse. Queria apenas se encolher num cantinho e lamentar a infância mal vivida, a adolescência que não teve direito, a mãe que morreu repentinamente e a irmã que também falecera de modo tão abrupto. Queria se encolher e apenas chorar até soluçar, esperando que sua angustia se dissipar junto com as lágrimas.




☀  ✲  🌙  ✲  🌙  ✲  ☀




 一 Então, querido... 


 Nico odiava quando a madrasta de Will usava esse tom e esse adjetivo para lhe chamar. Qual era mania de chamarem a atenção das pessoas dizendo "então"? Qual era a graça nisso? No começo, pensou que fosse apenas convívio, mas, depois de mais algumas frases iniciadas da mesma forma, passou a lhe dar nos nervos.


一 Sim...?


一 Tem planos para ficar muito tempo?


 O.K. Tinha quase certeza absoluta que ela estava lhe dispensando, mas resolveu não ser precipitado. Ela vinha sendo mais ácida desde de manhã, quando fora chamar ele e William para o café da manhã, mas achou ter ouvido coisas que não devia. Fala sério! O ruído de beijos molhados não quer dizer nada.

 Di Angelo apenas formulou uma resposta simples, mas que não fosse grossa, em milissegundos, forçando-se a dizer as palavras no tom mais claro e inocente que seu desconforto permitia.


一 Não temos pretensão de permanecer por muito tempo. 


一 Não precisará se incomodar muito conosco. 一 Completou Will, ainda mais ácido.


 Nico se levantou, deixando os dois sozinhos. Perguntou à Apolo se precisava de ajuda com o jantar, o que ele aceitou de bom grado, visto que o deixaram sozinho com os ingredientes da lasanha e Lídia praticamente mandou-o se virar. O menor não riu do que provavelmente deveria ser uma piada.

 O alfa mais velho suspirou e pôs a mão sobre seu ombro.


一 Peço perdão pela minha esposa, Nico. 一 Disse ele. Parecia exausto. 一 Não consigo imaginar o que tenha passado e o que esteja remoendo dentro de si para ter que lidar com o temperamento louco de Lídia. Eu só sei que Will te ama, e ama muito, pra deixar que ela saia por cima. Respeito a decisão de meu filho, mas sou o pacifista nesta situação. Não gosto de vê-los brigar, entretanto...


 O moreno olhou para os pés, sem saber o que dizer. Apolo suspirou novamente, cansado.


一 Sabe. Apesar de tudo o que venho observando e todas as vezes que o clima não foi dos melhores. Estou orgulhoso do meu filho. 一 Nico olhou-o, surpreso. Surpreendeu-se ainda mais quando viu que era sincero. 一 Estou orgulhoso das escolhas que fez e como deu um rumo à própria vida. E fico ainda mais feliz e orgulhoso da pessoa que ele escolheu para estar ao lado dele pelo resto dela.


一 Senhor...


一 Ora, core. 一 Riu ele. 一 É muito óbvio que Will não planeja ficar apenas de namorinho com você. Ele te ama mais do que amou qualquer pessoa nesta vida. Acho que perder você ou terminarem está longe de suas percepções. 


一 Eu...


一 Ora, ora, ora, Di Angelo. Me deixe terminar.


一 Certo. Desculpe-me...


一 Tudo bem. 一 Sorriu. 一 Eu tenho certeza que Will planeja casar contigo e só posso pensar que a escolha foi perfeita. 一 E Apolo olhou fundo nos seus olhos, um sorriso satisfeito no rosto. 一 Estou orgulhoso do homem que meu filho se tornou e do ômega por quem se apaixonou. Acredite você em mim ou não...


 E Nico corou, o peito batendo dolorido de tanto amor e de tanta tristeza. A angustia era pela irmã. Queria que ela estivesse ali e pudesse ouvir tudo aquilo. A felicidade era por ter a mais absoluta certeza de que Will o amava. Não planejava se separar dele e nunca deixaria isso acontecer. Deu um abraço em Apolo e voltou para o lado do alfa, com um conflito no peito que não sabia quando terminaria.




☀  ✲  🌙  ✲  🌙  ✲  ☀




 A lasanha estava ótima, mas os comentários poucos amigáveis de Lídia não eram um bom acompanhamento. Qual era o problema dela, afinal? Como se Will não pudesse ter uma vida sexual. O ômega não queria focar nisso naquele momento. Não queria gerar intriga quando o clima estava melhor do que o de manhã.

 Estava tudo ocorrendo normalmente. Até que...


一 Você já fez teste para ver se é estéril, querido?


 A pergunta fez o corpo de Nico gelar.


一 Por que quer saber?


 Ela deu de ombros, os cabelos loiros escorrendo por eles como cascata.


一 Will sempre quis filhos. Só quis saber se conseguirá realizar esse desejo dele.


一 Não acha que consigo? 一 Ergueu uma sobrancelha para ela.


 Lídia pareceu desconcertada de ter sido confrontada. Apolo tentou acalmar a situação, mas Nico já estava se sentindo incapaz. Observou seu prato, mais especificamente a lasanha. Lembrou-se de sua mãe. Ela e sua irmã ficavam toda de segredinhos na véspera do seu aniversário, planejando o que comprar para fazer esse mesmo prato.

 Lembrou-se do dia que compareceu no hospital. O corpo imóvel do que um dia tinha sido sua irmã. O rosto continha muitos cortes sangrentos, a perna esquerda estava quebrada, a fratura no crânio havia sido fatal e as lesões que tinha pelo cadáver eram incontáveis. A hemorragia interna tinha sido causada quando a costela dela quebrou e atingiu o pulmão, enchendo-o de sangue a impedindo de respirar.

 Antes que pirasse com a lembrança, Nico se levantou bruscamente da mesa. A cadeira caiu atrás dele, mas não se importou. Inspirou com dificuldade, tentando manter a mente limpa da visão do corpo de Bianca. Will olhou-o meio surpreso e já ia se levantando, mas o ômega o impediu.


一 Está tudo bem. 一 Mentiu. 一 Eu só... Vou tomar um ar.


一 Não vai terminar de comer? 一 Perguntou Apolo, esperançoso.


一 Estou satisfeito. Obrigado.


 E saiu.

 O lado de fora parecia mil vezes mais agradável do que lá dentro. Pensou em Lídia e no ar tempestuoso que ela causou. Não sabia o que poderia ter feito de tão grave para irritá-la daquela maneira. Se ela era escandalosa com tão pouco como havia se mostrado, tinha pena de Will em sua adolescência.

 A lua não era visível naquela noite, deixando o céu em um tom tão escuro que, por poucos segundos, Nico sentiu inveja. A recordação da noite que tinha chegado em casa, com um Jason muito curioso fazendo perguntas, voltou a sua mente. Estava tão escura quanto essa, mas tinha sido naquela ocasião que tinha beijado alguém pela primeira vez. Tinha beijado Will pela primeira vez.

 Relembrou do beijo. Desde aquele momento, sentia-se tão perto do céu quanto perto do inferno. Era uma mistura perfeita, viciosa e completamente irresistível. Will era assim: Perfeito, vicioso e irresistível. Não foi atoa que Drew não aceitou quando não deu certo com ele. As vezes pensava se poderia existir alguém tão perfeito quanto. Alguém que a sintonia fosse maior do que a que tinha com ele.

 Nesse momento de reflexão, recebeu uma mensagem. Pegou o celular no bolso e desbloqueou a tela. A mensagem em questão era de Jason. Antes de clicar nela, percebeu algo diferente no contato de Leo: A foto de perfil. Estava com Frank e uma outra garota negra do lado. Resolveu nem questionar. Selecionou o contato de Jason e respondeu-o.



Super-Homem do Paraguaí: Oi, Nick!

Como você está?

Gostando dos sogros?

Fala pra mim

Como tá as coisas em relação a... Bianca?


Você: Oi, Jas

Sendo bem sincero, a madrasta de Will é um porre

No começo ela já era inconveniente. Perguntas estranhas, olhares bizarros, vocabulário esquisito...

Foi ela cismar que eu transei com Will no antigo quarto dele que ela se transformou



Super-Homem do Paraguaí: Eita...

Ela perguntou sobre seus pais, gravidez, netos...?



Você: Exatamente!

Você tem bola de cristal?



Super-Homem do Paraguaí: Cruzes!

Não queria estar no seu lugar

Juro que não tenho

Mas peraí...

Ela simplesmente cismou que vcs transaram?



Você: Sim!!!

Juro que não fizemos nada, mas ela não deixa a gente nem falar



Super-Homem do Paraguaí: Louca

Mas e o pai do Will?

Como ele é?



Você: Tal pai tal filho

Apolo é um doce de pessoa

No começo, tive muito medo de que me odiasse

Mas, no fim, ele foi super gente boa e me confirmou muitas coisas que eu tinha certeza



Super-Homem do Paraguaí: Pelo menos, né

Imagina se os dois fossem escandalosos?



Você: Ia ser o inferno



Super-Homem do Paraguaí: Mas...

E aí?

Como vai a "situação Bianca"?

Você... tá bem?



Você: ...

Não muito, admito

Ela era minha irmã, Jason

É difícil superar tão rápido



Super-Homem do Paraguaí: Entendo...

Você se sente culpado?



Você: Como não me sentir culpado?

Ela morreu porque foi me visitar

Ela morreu por minha causa

O que diabos eu poderia fazer para evitar me sentir tão...



Super-Homem do Paraguaí: Inútil?



Você: Uhum...



Super-Homem do Paraguaí: Olhe (leia)

Eu sei que é difícil focar em outra coisa quando a situação é tão terrível como essa

Mas...

Bia ia querer que você sorrisse

Pense no que ela iria querer que você fizesse



Você: O que isso vai me ajudar, Jason?



Super-Homem do Paraguaí: Não, não

Confia em mim

O que ela ia querer que você fizesse agora?



Você: Ok...

Ela ia querer que eu me sentasse com você no sofá



Super-Homem do Paraguaí: E o que mais?



Você: Ia querer que eu te trollasse quando acordasse

Que eu viajasse com amigos

Que eu continuasse minha vida como se ela nunca tivesse partido, em geral



Super-Homem do Paraguaí: Isso!

E não se esqueça do que ela disse naquele dia que a gente maratonou filmes com ela



Você: No dia dos namorados?



Super-Homem do Paraguaí: Isso



Você: Não lembro do que ela disse

:(



Super-Homem do Paraguaí: Já esperava...

"Não esqueça, Nick. Se um dia eu morrer, espero que seja enquanto você e o Will estiverem produzindo meus sobrinhos!"



Você: Deuses...



Super-Homem do Paraguaí: Kkkkkkkkkkk



Você: Eu tinha esquecido o quanto ela gostava de me constranger com essas coisas



Super-Homem do Paraguaí: Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Poisé

Ela adorava fazer isso



Você: E mesmo depois de morta ela ainda consegue



Super-Homem do Paraguaí: Kkkkkkkkkkkkkkkkk

Sente-se melhor agora?



Você: Muito

Obg <3



Super-Homem do Paraguaí: Disponha, fantasminha

É sempre um prazer conversar com vc



Você: Jason



Super-Homem do Paraguaí: Hum



Você: Obrigado

Só vc mesmo pra me fazer rir em uma situação dessas



Super-Homem do Paraguaí: Ao seu dispor, Nico

As vezes, sinto que não fiz o suficiente depois da morte da tia Maria



Você: Não precisa pensar assim

Você esteve lá comigo da mesma forma que está aqui

Acredite, você me ajuda muito mais do que eu posso recompensar



Super-Homem do Paraguaí: Que nada

Eu que agradeço por ter você do meu lado

Eu te amo, fantasminha




Você: Eu tbm, Garoto Relâmpago

<3

Até depois de amanhã



Super-Homem do Paraguaí: Até <3

Esperarei




 E ali estava Nico, sorrindo para o telefone enquanto via o contato ficando offline. Suspirou. No fim das contas, Bia devia estar bem. Seus últimos momentos de vida poderiam não ter sido lindos e nem calmos, mas agora ela estava aonde devia estar: No céu. Agora ela devia ser uma daquelas estrelas brilhantes, como Maria Di Angelo contava aos filhos que as pessoas boas que morreriam se tornavam astros no nosso sistema solar.

 A calma o invadia quando sentiu um puxão. Quando se virou, a porta da casa bateu e ouviu gritos, gritos femininos.


一 Droga...


 Coisa boa não era e tinha quase certeza que algo desastroso estava prestes a acontecer.




☀  ✲  🌙  ✲  🌙  ✲  ☀




 Acompanhar a corrida frenética de Lídia era difícil, mas não impossível. Porém, ela subiu no sofá, escalando uma mesa mais alta depois. Tudo isso para impedir Nico de recuperar o próprio aparelho telefone. Ela gritava xingamentos e coisas inexas, deixando o ômega muito confuso. O que diabos estava acontecendo agora?

 Apolo e Will estavam arrumando a mesa pós-jantar e se entreolharam como se tudo fosse explodir e eles estivessem conversando silenciosamente sobre o que salvar primeiro. A loira, por outro lado, não estava nem aí. Gritava, xingava e tentara chutar Di Angelo para longe dela. Seu rosto estava vermelho de raiva.


一 Mentiroso! Canalha! Enganador! Prostituto! Imbecil! Manipulador!


 Nico franziu o cenho, sem saber o por quê de ela dirigir todos aqueles insultos para ele. "Prostituto"? Sério?


一 Amor... 一 O pai de Andrew se pôs ao seu lado, parecendo preocupado. 一 Desce daí.


一 Nunca! 一 E se afastou ainda mais. 一 Esse enganadorzinho de merda está nos manipulando! Está fazendo a sua cabeça e mentindo para nós!


一 Senhora Solace. 一 Começou Nico, tentando ser o mais educado possível. 一 Quero que saiba que sempre fui um péssimo mentiroso. 一 Enfatizou. 一 Nunca fui desse tipo de gente. Não entendo o que está querendo dizer.


一 Mentiroso! 一 Insistiu ela. 一 Você sabe muito bem do que tô falando. Tá nos manipulando desde que chegou! Acha que não sei?!?


 Will suspirou e pôs a mão sobre o ombro do ômega. O menor lançou-lhe um olhar que era uma mistura de dúvida, inocência e aflição. Não conseguia entender o que estava acontecendo e o alfa também não parecia saber de uma mísera agulha dessa história.


一 Se Nico diz que não entende, ent...


一 Veja aí! 一 Exaltou-se. 一 Tá confundindo sua cabeça. Manipulador!


 Nico não sabia o que estava acontecendo e tinha muito medo de descobrir, mas viu que era o único jeito de resolver aquele problema.


一 Tá bem. O que você quer? 一 Perguntou após um suspiro. 一 Só me diga o que quer com o meu telefone.


 Suas narinas se inflaram, claramente ofendida.


一 COMO SE ATREVE A FALAR DESSE JEITO COMIGO?!?!?


 Foi a vez de Will suspirar. Os ouvidos do menor doíam e tinha absoluta certeza que ficaria com uma baita dor de cabeça.


一 Querida... 一 Insistiu Apolo. 一 Desça daí e nos diga o que houve.


 Lídia persistiu mais um pouco, mas foi forçada a descer da mesa quando o pai de Andrew a pegou no braço e a pôs no chão. Depois de estar em terra novamente, se recusou a se aproximar de Nico, o que o próprio considerou ser um milagre, mas seu breve alívio não durou muito quando ela se recusou a lhe entregar o celular.

 William lhe lançou um olhar apreensivo e acabou correspondendo. Não era todo dia que um barraco como aquele acontecia. E, pelo jeito como reagia, não esperava que aquele escarcéu todo fosse acontecer nem naquela noite e nem nunca. Por um instante, Di Angelo desejo nunca ter vindo.

 A esposa de seu sogro esquivou-se dos braços do marido, seguindo para a cozinha enquanto tentava desbloquear o aparelho do menor.


一 Qual a senha? QUAL É A SENHA DESSA JOÇA, SEU VAGABUNDO DE MERDA!一 Vociferou, transtornada. 一 DIZ LOGO!!!


 Assustado com as ações dela, murmurou.


一 "WillieJasLeoPipesAnniePercy".


一 Tudo junto? 一 Perguntou Apolo, em um tom mais doce.


一 Uhum...


 Observou a madrasta de Will desbloquear seu celular e o vasculhar, impotente. Quando encontrou o que queria, riu como a Malévola. Clicou mais algumas vezes na tela e um sorriso maldoso surgiu em seus lábios. Ela pigarreou, toda confiante.


一 "Kkkkkkkkkk. Sente-se melhor agora?" 一 Ela leu, olhando por um tempinho para Nico.


 Era aquele olhar que queria ver a reação da pessoa, confirmar suas suspeitas. E pelo jeito que os olhos escuros do menor se arregalaram, ela conseguiu a reação que queria. O que diabos ela queria lendo suas conversas na frente de todo mundo?


一 "Muito. Obg". 一 Continuou, tendo certeza que estava arrasando. 一 "Disponha, fantasminha. É sempre um prazer conversar com vc" 


 Will a olhou, a expressão tão neutra que não sabia dizer o que estava pensando. A única certeza que tinha era que ele sabia que aquelas eram mensagens do Jason. Seu primo era o único que o chamava dessa forma.


一 "Jason". "Hum". "Obrigado. Só vc mesmo pra me fazer rir em uma situação dessas."


 Ela continuou lendo e lançando ao ômega olhares desdenhosos. Enfatizou principalmente os corações que tinha mandado ao Grace. Foi enquanto Lídia lia que entendeu a intenção dela. Queria difamá-lo, deixar Will e Apolo com uma má impressão dele. Queria que a conversa soasse como traição. Ela nem sabia quem era. Devia ter certeza de que era isso do que se tratava.

 Depois que as mensagens acabaram, ela deixou o celular cair no piso de madeira, intencionalmente fora do tapete. A tele devia ter trincado, mas Nico não se importava. A raiva, o luto e, principalmente, ódio queimavam em seu peito, nublavam seus pensamentos coerentes. Estava farto de tudo aquilo. Estava farto de pessoas como ela. Hades o havia reprimido durante todo o tempo e até depois que morou com ele, Drew quase destruiu seu relacionamento, Octavian só faltava estuprá-lo na época da escola, Bryce... Bem, não podia permitir que seus demônios continuassem o assombrando.


一 Então...?


一 Então, o que, garoto? 一 Disse ela, ríspida. 一 Provei que estava certa. Você realmente nos enganou.


一 O que usa como prova?


一 Estas mensagens estúpidas, óbvio. 一 Enfatizou pisando no celular jogado.


 Nico colocou os dedos na estrutura do nariz e lançou a Will um olhar que dizia tudo o que sentia e o que pretendia fazer. Suas íris azuis demonstravam determinação e ele concordou com a cabeça, confirmando. Suspirou, tentando manter a calma o máximo que conseguiria.


一 Deixe-me ver se eu entendi. 一 Começou, surpreendentemente tranquilo. 一 Você acha que essa conversinha serve como prova?


一 Eu não acho. Tenho certeza! 一 Gritou ela. 一 Você traiu Will e nos enganou! Admita!


 Apolo ergueu a mão para colocá-la sobre o ombro da esposa, mas ela se esquivou, irritada. 


一 Por onde eu devo começar? 一 Ponderou por um tempo. 一 Ah, sim. 一 Limpou a garganta. 一 Eu não traí Will! Nunca fiz, nunca tive vontade de fazer e nunca farei!


 Apolo olhou-o com aprovação e Lída... bem, ela estava irada naquele momento.


一 Ao menos sabe do que a conversa que leu se trata? 一 Perguntou em um tom um pouco mais alto. 一 Eu estava falando com o meu primo sobre a morte da minha irmã. Se você tivesse lido tudo teria visto do que falávamos e que não tinha nada demais.


 A mulher foi perdendo a ira no olhar, vendo que seus motivos e suas justificativas para tanto escândalo estava se esvaindo. 


一 Minha irmã, Bianca Di Angelo, morreu há mais de um mês. 一 Prosseguiu Nico, sentindo o cansaço o abater. 一 Era sobre isso o que falávamos. Você quer ler de novo? Quer?


 Lídia retirou o pé do aparelho. Seus olhos escuros estavam incrédulos. Ela pegou o telefone do chão, constrangida. Ninguém disse nada. Os olhos do ômega se encheram de lágrimas que ele não pôde segurar. Will não o tocou e nem tentou dizer nada, era melhor daquela maneira. Falaria com ele depois, em particular.


一 Me chamou de mentiroso. 一 Disse quase sem forças quando as primeiras lágrimas caíram. 一 Me xingou de todas as forças possíveis, roubou meu telefone, leu minhas conversas, viu meus aplicativos e ainda o quebrou.


 A esposa de Apolo nada tentou falar. Nico balançou a cabeça em descrença e caminhou furiosamente para o antigo quarto de Will. Apolo não disse nada e nem Andrew. Apenas lançou um olhar mortal e furioso na direção da madrasta e acompanhou o namorado cômodo adentro.




☀  ✲  🌙  ✲  🌙  ✲  ☀




 Nico entrou no quarto de paredes claras e decoração escura. Seus pesados passos eram facilmente ouvidos, não se precisava fazer muito esforço para notar sua ira. Parou um pouco perto da parede azul-clara, mordendo o punho para conter gritos frustrados que entalavam em sua garganta.

 Will passou pela porta pouco depois, fechando-a atrás de si. Estava, sobre toda e qualquer coisa, preocupado. Sua madrasta tinha feito coisas horríveis, acusado e dito outras abomináveis e não se orgulhava de ter ficado só observando. Não havia como defendê-la e nem o faria se quisesse.

 Seu nervosismo era tão perceptível quanto os tremores pelo corpo do ômega. Queria abraçá-lo e consolá-lo, mas algo o impedia. Porra! Namoravam há quase 3 anos e não sabia como ele reagiria em um momento de raiva? Que tipo de namorado Will poderia se considerar? Engoliu em seco.


一 Nico, me perdoa. Eu nunca teria imaginado que ela criaria essa cena e falaria essas coisas. Eu não pensei que...


 Parou quando viu seu corpo tremer com mais violência. Foi até ele e o abraçou por trás, ouvindo mais nitidamente suas tentativas de conter o choro.


一 Desculpa. 一 Ele soluçou. 一 Desculpa por te fazer passar por isso.


一 Ei, não tem problema. Não tinha como você saber.


 O loiro beijou seu ombro antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, puxando para encostar a cabeça em sua clavícula. Quando feito, deslizou o nariz por suas bochechas molhadas, acalmando-o.


一 Eu que deveria pedir desculpas. 一 Prosseguiu o alfa depois de um tempo de silêncio. 一 Desculpa por ter te trazido até aqui quando as coisas estão tão difíceis. 


 Nico se virou nos braços de Will, apertando sua cintura em um abraço mútuo. 


一 Eu te perdoo. 一 Disse meio trêmulo. 一 Há algumas coisas que você não pode prever. Da mesma forma que há algumas dores que eu passo que você não consegue compreender. Nada disso é culpa sua.


 William beijou-lhe o rosto, receoso.


一 Mesmo assim, eu sinto muito.


一 Eu sei. 一 Riu. 一 Mas tá perdoado do mesmo jeito.


 



☀  ✲  🌙  ✲  🌙  ✲  ☀




 Na manhã seguinte, Will não estava do seu lado. Olhou para as finas cortinas. Deviam ser tão velhas que quase eram transparentes pela forma como o sol conseguia fazer com que seus raios adentrassem o cômodo. A estante, o guarda-roupas e até a antiga escrivaninha de Solace ainda estavam empoeiradas, apesar das tentativas de limpá-las.

 Nem se atreveu a levantar. Sua cabeça latejava e seu corpo doía. Lembrou-se da discussão com a madrasta de Andrew. Ela era uma das poucas pessoas que o fizeram levantar a voz em tantos anos. Devia se considerar uma pessoa de sorte por ter saído viva, por sua vontade foi de esganá-la.

 A dor inebriou seus pensamentos por um momento, o suficiente para que, em pouco tempo, visse ninguém menos que Will entrar ali. Sua feição era tão séria que ele parecia tão mórbido quanto o ômega imaginava que estava. Ele se sentou ao seu lado, colocando uma bandeja com algumas guloseimas na cômoda próxima a cama.


一 Como se sente? 一 Perguntou com cuidado no tom.


一 Péssimo. 一 Admitiu. 一 Parece que entrei em uma briga com uma víbora.


 O alfa riu, parecendo mais aliviado. Pegou sua mão na dele e beijou as juntas. Vinha fazendo muito aquilo nos últimos tempos. Olhe, Nico não estava reclamando. Achava o gesto fofo e reconfortante. Seu rosto involuntariamente corou.


一 Realmente. 一 Brincou. Seu humor parecia melhor. 一 Mas não perdeu. 


一 Não. 一 Riu junto. 一 Eu não perdi.


 Will sorriu mais abertamente, mas então sua expressão foi morrendo, como se sua mente estivesse focando em outra coisa naquele momento. Seus olhos azuis oscilaram por um instante e ele ficou com uma feição mais dura.


一 Falando em perder...


 Ele colocou a mão no bolso e pegou o próprio celular.


一 Você perdeu uma ligação. 


 Nico franziu as sobrancelhas.


一 De quem?


 Will deu de ombros, dizendo que não sabia. Poucos segundos depois, o aparelho começou a vibrar e um número desconhecido apareceu na tela.


一 Falando no demônio. 一 Brincou, mais ríspido.


 O loiro atendeu e pôs no ouvido, dizendo o costumeiro "alô". Dava para ver que ele se esforçava para ser gentil, mas sua paciência não estava lá aquelas coisas. Nico nada ouviu estando perto dele, mas pressentiu que não era algo tão bom. Andrew concordou com alguma coisa com "uhum". Um mal pressentimento inflamou no peito do ômega e o pânico tomou conta por um segundo depois que Will disse "Já estou passando", colocando o telefone em seu ouvido.


一 A-alô?


 Uma voz ríspida ressoou em seus ouvidos, fazendo-o estremecer. Pensava que aquele pesadelo já tinha acabado, mas, depois de tantos anos, seu maior medo voltava para atormentá-lo. Ouviu todas as exigências sem dizer uma palavra e, quando o monólogo acabou, concordou monossilábico e desligou.


一 Então? 一 Will questionou, uma das sobrancelhas erguidas. 一 O que houve?


 Nico suspirou, trêmulo. Sabia que aquele dia chegaria. Só não esperava que tão cedo.


一 Solace, temos um compromisso.






C O N T I N U A






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