Mesmo Que...



 Aviso: Contém gatilhos e alerta sobre depressão.






 Norman era um detetive muito respeitado em Manhattan, mas começou a desacelerar no trabalho por causa de problemas pessoais. Muitos de seus colegas de trabalho perguntaram o que tinha acontecido, porém, apenas os mais próximos sabiam da verdade.

 O albino guardou para si toda a tristeza que verdadeiramente sentia no peito. Chorava baixinho pelo desamparo recente, mas não expôs à ninguém sua dor. Não gostava que os outros demonstrassem piedade ao lhe verem perdido. Não lhe parecia sincero. Portanto, qualquer anseio de desabafar sobre estava estritamente proibido.

 Mesmo achando isso difícil, engoliu todas as vontades de chorar em público e reservou toda aquela melancolia para quando estivesse sozinho. Já era complicado o suficiente se focar no trabalho e nos casos que tinha que resolver, ter essas "distrações" com frequência tornaria tudo ainda mais difícil.

 Com o tempo, viu que suas atitudes eram as mesmas que Ray escolheu seguir: Não demonstrar seus reais sentimentos, se esconder e não procurar ajuda. Por quanto tempo Norman aguentaria desse jeito, se nem Ray aguentou tanto?

 No fim das contas, decidiu fazer diferente, tomando como exemplo as decisões que o moreno tinha tomado e o resultado que isso deu. Buscou ajuda de um psicólogo e esse mesmo lhe passou uma medicação que o auxiliaria nesse processo.

 Claro, não foi nada fácil, mas pouco a pouco, Norman ia superando.

 Então, o albino passou por um lugar nostálgico: O orfanato onde passou sua infância. Todo o território tinha o nome de Grace Field e aquela mansão também foi nomeada assim. E mesmo com a cidade em que o orfanato se encontrava mudando de nome, O "Grace Field" permaneceu pra sempre.

 Até os 14 anos, o albino viveu ali com Ray, dia após dia na companhia dele, mas, quando completou seu décimo quarto aniversário, foi adotado. Era inevitável que eles perdessem o contato. Mas somente depois de adultos voltaram a se falar, já que tinham se encontrado por volta dos 19 anos, em um café aleatório.

 Os dois trocaram números e não pararam de conversar por um segundo. O.K., talvez um pouco pra tomar café, mas não pararam muito. Eles confidenciaram tudo da vida um do outro. Ray estava fazendo faculdade de Letras, enquanto Norman tentava fazer a prova para ser policial.

 De certa forma, foi bom revê-lo. Ambos não se desgrudaram depois disso. Chegaram até a começar a namorar, mas não comentavam muito sobre isso com outros amigos porque tinham vergonha, e um bocadinho de medo do julgamento das pessoas.

 Anos depois, o moreno publicou seu primeiro livro: Um romance baseado na própria vida. Uma criança que se apaixonou por um amigo no orfanato; eles não puderam ficar juntos, mas depois se reencontram e fazem suas vidas um ao lado do outro. Obviamente, tinha outros empecilhos e obstáculos. Alguns acontecimentos dramáticos, mas, fora isso, era a sua vida.

 Norman estava agora no imenso jardim do orfanato Grace Field, perto das árvores mortas. O local tinha sido abandonado depois de um grande massacre na cidade e a proprietária teve seu imóvel confiscado pelo governo. Todas as crianças foram encaminhadas, de uma vez, para lares adotivos e nada restou da mansão que já tinha pertencido à uma família nobre.

 O de cabelos brancos se lembrava perfeitamente daquele lugar. Passara tantas horas correndo com outras crianças. Ray e ele, às vezes, se escondiam na floresta para ficarem à sós. Na época, não entendia por que era tão fascinado pelo moreno, porém, agora sabia.

 Sempre foi amor. Não tinha como negar isso.

 A melancolia o atingiu e o fez recordar das coisas mais recentes. Ray estava escondendo uma depressão desde que Norman tinha sido adotado. Mesmo depois de tê-lo reencontrado, já estava em um estágio muito grave para sair tão facilmente. Essa sobrecarga emocional o consumiu e o moreno não achou outra solução além de tirar a própria vida.

 Foi sua única forma de conseguir alívio. Ele sofreu por anos a fio e não disse nada, até mesmo para o albino. Isso era algo que o detetive Ratri não conseguia processar direito. Era como se seu cérebro fosse um computador tentando ler um disco e que dá tela azul em seguida.

 Queria imaginar que ele estava bem agora. Possivelmente, estava pensando com mais clareza e refletia sobre as próprias ações, no céu.

 Verônica se agitou no colo do dono. A cadelinha não gostava quando Norman ficava triste e começou a lamber sua mão, mas ele ignorou. Continuava pensando em Ray. Imaginava-o ali, lhe observando com pesar, como se quisesse lhe pedir desculpas. Só havia uma questão: As aceitaria?

 O de olhos azuis recordou todos os momentos coloridos que tinham vivido, mas, em contra-partida, veio as lembranças não tão coloridas. Todas eram importantes e fizeram o albino derramar uma lágrima de saudade. Por que ele escondeu de si que estava passando por um problema tão grande? Por que não confiou esse segredo consigo, como fez com tantos outros? O que tinha feito de errado?


一 M.mesmo que eu consiga assimilar... Como eu vou poder te perdoar?


 Mais uma vez em várias, enxugou as lágrimas. Uma brisa, suave como o sorriso de Ray era, soprou seu rosto. Lembrou-se de uma vez que ele tinha dormido debaixo de uma árvore. Tinha assoprado sua cara para que acordasse. Dessa vez, era Norman quem precisava acordar, mas para enfrentar a realidade dos fatos.


一 Bom... Acho que com o tempo eu conseguirei te desculpar...



 "Te amo"





Fanart não é minha.




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