5 anos e oito meses depois
Faz tanto tempo que eu abandonei essa caixa que a poeira daqui a pouco vai se transformar num exército de bolinhas de poeira, alimentadas de todos esses traumas e histórias tristes que escrevi como válvula de escape.
Bem, eu tenho 20 anos agora. Estou no meio do quarto período da faculdade de Letras e achei essa caixa debaixo da minha cama quando fui arrumar meu quarto de adolescência para ver o que eu queria levar para meu novo apartamento.
Em retrospectiva, as coisas mudaram bastante.
Fiz terapia, me apeguei a escrita de contos e poesias e estou postando diariamente no meu Twitter, com centenas de pessoas me apoiando e me incentivando a compilar tudo em um livro. A ideia é maravilhosa e acho que pode funcionar.
Visito minha mãe na Itália durante as férias e visito meu pai quando a faculdade emenda algum feriado com o final de semana. Visito o túmulo da minha irmã no aniversário dela e no aniversário da morte dela sempre com um bolinho bem açucarado. São algumas das poucas datas nas quais Will não reclama dos doces que eu como.
Alias...
Eu e Will estamos namorando vai fazer uns quatro anos. Ele está fazendo Medicina, o que é fenomenal, e recentemente decidimos dividir um apartamento. É por isso que decidi fuçar meu antigo quarto. Para ver coisas que eu queira levar.
Achei essa caixa, inteiramente lacrada com rolos e rolos de fita desde o dia em que Will se tornou o meu principal ponto de apoio. Decidi lacrar meu passado como uma forma figurativa e metafórica de esquecê-lo. Meu passado não ia me atormentar e não ia fugir se estivesse completamente preso dentro de uma caixa. Will achou muito divertido gastar mais de 150 reais em fitas adesivas para isso.
Foi terapêutico e me ajudou muito a seguir em frente. E agora eu abri essa caixa e li cerca de 60% de tudo o que tem aqui, o que não é pouca coisa. Contos, histórias, fábulas, cartas, confissões, relatos, diários, poesias. Muita coisa. Muita, muita, muita, muita coisa.
Tem coisas muito boas aqui e talvez eu publique essas coisas. Preciso refletir mais sobre isso para decidir com certeza, mas é uma ideia.
Honestamente, não sei por que estou escrevendo essa carta, mas acho que é apenas uma forma de me comunicar com esse eu de 14/15 anos deprimido e sozinho com o qual eu não me identifico mais. Uma forma de responder à última coisa que eu escrevi, sobre ter esperança de melhorar.
Eu melhorei. Nós melhoramos. Encontramos nosso lugar no mundo, fizemos nosso lugar no mundo, e enfim podemos descansar de tudo o que tivemos que suportar sozinhos. Porque agora temos Will. E Reyna e Leo e Jason e Pipes e todo mundo que se dispôs a estar do nosso lado. Não estamos sozinhos. Nunca mais estaremos.
Com amor e carinho,
Nico Di Angelo
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