Foi mais demorado do que se pode esperar que tenha sido. Falar é difícil e fica ainda mais difícil quando você não é acostumado a falar sobre nada. Vale lembrar também do meu voto de silêncio, que eu deliberadamente quebrei. Me arrependo? Não. Eu mal me lembrava do som da minha própria voz, na realidade.
No quesito de lembrar das coisas, eu sempre fui... péssimo, pra dizer o mínimo.
Não me lembro bem das expressões carregadas de afeto de Bianca com clareza. Não me lembro do calor dos braços na minha mãe. Não me lembro do timbre agradável que a voz do meu pai adquiria quando ele cantava para que eu dormisse. Não me lembro da voz suave da minha mãe. Não me lembro de seu amor.
Tudo é um borrão. Um borrão que me enche de uma saudade sufocante.
Será que parei de viver em algum ponto da minha existência?
Estou me perdendo de novo.
Eu sempre me perco. Somente a paciência infinita de Will me sustenta. Ele ouve cada uma das minhas viagens, cada palavra que foge do assunto principal. Acolhe em seu coração tudo o que eu tenho a divagar. Oferece seu ouvido e seus olhos para ouvir e ler cada palavra que eu preciso expurgar do meu coração.
Honestamente, eu não sei definir essa sensação tão reconfortante que ando sentindo. É como uma manta quentinha e confortável depois de um banho bem relaxante e uma refeição caprichada, tudo isso junto depois de anos de desnutrição e falta de descanso. Eu só quero afundar nessa sensação para sempre.
Will, além de imensuravelmente paciente, ele é muito carinhoso, mas sem desrespeitar limites. Ele parece perceber quando preciso de um toque amigável ou um abraço ou apenas um ombro onde me escorar. É uma percepção que eu aprecio, e muito.
Dotado de um olhar de amorosidade infindável, ele sempre consegue me vencer apenas com olhares. Basta apenas me encarar, seus olhos expressando todas as emoções que ele quer passar, e eu desmorono. Ele não precisa nem de palavras para me desconstruir por inteiro. E depois de anos em voto de silêncio, é alentador poder falar e ser ouvido.
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