Refúgio - Capítulo Oito

 



 Vendo minha dificuldade em falar, Will deu a ideia de que eu o deixasse ler tudo o que eu escrevi ao longo dos anos. 

 No começo, eu achei a ideia de deixá-lo ler minha alma apavorante. Várias perguntas permearam minha mente, enterrando garras de pânico em meu coração. Foram precisas muitas palavras de afirmação para que o temor se dissipasse.

 Tive muito medo de perder a única oportunidade de conforto que eu tinha encontrado em anos desde Bianca. Tive medo de que a sinceridade do que aquelas palavras expressavam o assustasse. Tive medo de que minhas confissões me tornassem um monstro a seus olhos.

 Mas aí...

...Will leu.

 Leu tudo.

 Cada palavra e cada vírgula. Cada curva que um dia a caneta fez no papel. Cada letra escrita num torpor de tristeza, de fúria, de lamento, de medo, de ódio, de angústia, de rancor, de melancolia e tantos outros sinônimos para raiva e insatisfação. Cada palavra deliberadamente escolhida ou que tivesse surgido no calor da escrita. Cada relato, história, confissão e fábula que eu decidira escrever em páginas e mais páginas.

 E nada mudou.

 Pelo menos, não para pior.

 Ele leu e eu não me tornei um monstro, como eu temia.

 Ele leu e eu me senti completamente visto pela primeira vez.

 Eu me senti compreendido.

 Eu me senti acolhido.

 Foi como tomar água gelada depois de passar muito tempo brincando de correr na rua. Foi como um aconchego embaixo das cobertas depois de um dia inteiro andando contra um vendaval. Foi como um bom café com leite depois de uma decepção amorosa. Foi uma espécie de alívio que alcançou até o tutano dos meus ossos.

 E Will fez isso. Will Solace causou tudo isso. Esse quentinho no meu coração, a incapacidade que adquiri de fazer cara feia, a vontade incontrolável de me afundar em cada abraço que ele me oferece. Pela primeira vez em muito tempo, sou abraçado por alguém e me permito relaxar nesse calor confortável e convidativo.

 Talvez, só talvez, ainda haja um lugar no mundo para mim além dessa casa na árvore. Só talvez eu possa contar com Will. Só talvez ele possa vir a ser o refúgio que eu sempre precisei desde que Bianca morreu. Não um lugar, fixo e estagnado, mas uma pessoa, amável e libertadora.

 E eu me permito chorar de alívio e felicidade. Porque eu sinto que finalmente posso seguir em frente, um passo de cada vez. Porque eu me sinto livre. Momentaneamente livre de todas as emoções ruins que me cercavam e capaz de lidar com elas se surgirem novamente. Capaz de me superar e superar tudo o que me trouxe até aqui.

 Finalmente.

 E quem sabe, com o tempo, eu me sinta capaz de amar alguém outra vez.

 Não posso ter certeza de nada sobre isso, mas...

 se acontecer...

 eu espero me apaixonar por Will Solace.



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