Nico Nico Baby - Two - Ain't that crazy

 



 Nico e eu nos tornamos melhores amigos logo nas primeiras semanas de convivência. Com dois dias juntos, eu já o amava. Claro, ele era pequeno demais pra brincar e precisava de muitos cuidados, mas eu estava sempre ajudando como podia sendo uma criança. 

 Aquela conexão que senti se mostrava cada dia mais verdadeira. Eu tinha nascido pra ser o dono de Nico e Nico nasceu pra ser o meu gatinho. Eu me sentia completo e satisfeito, como se tivesse cumprido meu propósito no mundo ao acariciar suas orelhas. 

 Um dia, eu caí e me machuquei. Comecei a chorar muito e muito alto. Eu tinha caído de barriga, batido o queixo e mordido o lábio. Lágrimas caíam incessantemente e sangue escorria pelo meu queixo. Nico miou alto, veio até mim e lambeu minha mão, choramingando ao me ver sofrendo. 

 Percy me levou pra Annie, que estancou o fluxo de sangue e avaliou o machucado. Ela disse que estava tudo bem e perguntou se eu queria sorvete. Concordei. Assistimos um filmes legal naquele dia. Wall-E. Eu amei, mas dormi no meio do filme por cansaço, me perguntando o porquê de Eva e Wall-E serem tão apegados um ao outro daquele jeito. 

 Um ano depois, eu ia começar a ir pra escola. Eu não queria. Ficar longe de Nico por tantas horas me angustiava profundamente. Além de que eu ia ter que conviver com estranhos, o que me apavorava. Implorei tanto pra não ir que concordaram em me ensinar em casa. E foi assim por anos.

 Eu me esforçava bastante e aprendia rápido, sempre interessado em aprender cada vez mais. Comecei a ler muitos livros como hobby. Lia livros de ficção científica, mitologia e suspense. Lia muitos livros distópicos, livros de não-ficção e livros de filosofia. Eu vivia num mundo onde só existia eu mesmo, Nico, livros e meus pais. 

 Infelizmente, comecei a escola a partir do sétimo ano. Antissocial como eu era, fiquei sozinho todo aquele ano. Não me interessei em fazer amigos ou fazer parte de um grupo. Afastei todos que tentaram se aproximar e fiz todos os trabalhos escolares sozinho com prazer. 

 Por causa da minha "arrogância", sofri bullying, mas nada me abalava. Fiquei no meu canto, vivendo feliz a minha maneira até ser colocado como dupla de Frank Zhang em uma gincana, quase no fim do oitavo ano. Ele era caladão, competente e gentil. Não quis se aproximar e eu não quis me aproximar dele. Éramos iguais, percebi. Páreos. 

 No ano seguinte, ele estava na minha sala e sentava do meu lado. Levou um semestre inteiro pra ficarmos amigos porque quase sempre ficávamos apenas em silêncio. Frank é legal. Uma vez, fizemos um trabalho na minha casa e Nico estranhou ele. Rosnou assim que o viu, mas se acostumou com a presença dele algumas horas depois. 


— Seu gato é muito fofinho. — Disse, acariciando as costas dele, que estava deitado na minha escrivaninha. 


 Nico aceitou o carinho e fechou os olhos, mas não ronronou. Estava resistindo. Sorri ao ver a cena, dei uma batidinha na perna e esperei. Nico pulou da escrivaninha, escalou minha perna cuidadosamente e se enroscou em meu pescoço, ronronando como uma britadeira. 

 Frank riu. 


— O amor que ele tem por você me lembra Hazel. 


— Quem é Hazel? 


— É uma égua do sítio da minha avó. Era da minha mãe. Ela tinha ganhado Hazel no dia em que eu nasci, como uma recompensa pelo parto difícil. 


— Que legal! Quantos anos tem a égua? 


— Hazel já tinha um ano quando minha mãe a ganhou, então hoje ela tem dezesseis. 


— Por que você disse "era da minha mãe"? 


— Hoje em dia, Hazel é minha. E minha mãe morreu quando eu tinha 2 anos. 


 Aí eu percebi que éramos mais iguais do que pensei. 



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