一 Will, está se sentindo bem? 一 Ouço Gracie me perguntar enquanto reviro a comida em meu prato, sem um mísero pingo de fome.
Sentimentos diversos se engalfinham em meu estômago. São muitos sentimentos e pensamentos para processar. Estou confuso com tudo isso, com a complexidade de toda essa situação. Talvez eu esteja tendo uma crise agora, na mesa de jantar, mas não consigo sair daqui e me isolar para enfrentar isso com calma.
Há um caroço em minha garganta, me impedindo de falar. Não consigo olhar para ninguém na mesa. Não consigo prestar atenção em nada do que dizem. Estou em um mundo a parte deles. Um mundo caótico que quer comer meu fígado.
Não respondo Gracie. Não ouço mais nada dito por ninguém. Não olho para Kayla, do meu lado esquerdo. Não olho para Nico, do meu lado direito.
Tenho a breve noção de que ele se explicou para meu irmãos e estes o perdoaram, eu acho. Não ouvi gritos e ninguém jogou nada nele, o que já é melhor do que eu esperava, mas nem a breve noção disso me tranquiliza.
Meus olhos ardem e minha garganta se fecha mais. Estou prestes a chorar. Por quê? Eu não quero chorar. Eu estava bem hoje na escola. O que caralhos há de errado comigo?
一 Céus, William. 一 Ouço o arrastar de uma cadeira e sinto Gracie verificar se estou com febre com as costas da mão em meu pescoço. 一 Está me deixando preocupada. O que há com você?
A ardência fica mais forte. Não quero preocupá-la. A última coisa que quero é ser um fardo para alguém além de mim mesmo. Tento dizer a ela que estou bem, que provavelmente preciso de uma soneca e que só estou pensando demais em tudo. Mas não consigo. As palavras permanecem apenas na minha cabeça. Nada é dito.
Austin vem até mim, puxa minha cadeira e praticamente me ergue dela. Tenho a sensação de que ele está me fazendo perguntas ou que está dizendo alguma coisa. Seu tom é parte preocupação e parte carinho. Ele me conduz calmamente até o quarto que eu dividia com Lee e Michael, mas para na porta e muda de ideia.
Me deixo ser levado para o quarto de que ele, Yan e Jerry dividem. Me deixo ser conduzido até a cama dele e sento assim que ele me vira na posição que torna o movimento fácil. Austin ainda está dizendo algo do qual sou incapaz de ouvir. Tudo é ruído. Tudo é apenas murmúrio. Não entendo nada. Sou incapaz de processar qualquer palavra que ele pronuncia.
Meu coração bate forte no meu peito, como marteladas dolorosas. Meu coração martela fortemente minha caixa torácica, implorando para ser livre. Livre de quê? A única coisa que venho sentindo nos últimos tempos é medo e cansaço. Claro, tem os sentimentos fortes de desejo e amor por Nico, mas isso já é normal para ele.
Alguém liga um ventilador e o aponta pra mim. Sinto um frio no rosto e percebo que estou chorando. O frio no rosto é o caminho das lágrimas que não param de cair. Pisco e cubro os olhos, tentando fazer parar. Merda. Eu chorei antes de me tirarem de lá?
Não quero preocupar meus irmãos. Não quero preocupar meu pai. Não quero preocupar Nico. Mas eu não tô bem. Eu me sinto uma fraude, um fracasso, um tapa-buraco, um idiota. Eu engoli tudo isso por tempo demais, ignorei meus sentimentos, varri tudo pra debaixo do tapete porque eu tinha responsabilidades. Não expus mais do que achei necessário.
E agora eu tô um caquinho.
Não sei o que pensar. Não sei o que sentir. Estou colapsando. Uma represa foi construída por mim mesmo ao meu redor pra enviar que tudo vazasse, mas Nico fez uma rachadura e tudo está ruindo. Todos os esforços que eu fiz pra manter a calma e seguir em frente foram em vão.
Eu tô morrendo?
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