Não foi a minha intenção explodir daquele jeito no meio do refeitório, mas eles chamaram Nico de viado esquisito e eu não respondi mais por mim. Quando percebi que estava apenas xingando-os pra todo mundo ouvir, resolvi explanar tudo o que sabia e embasar minhas acusações. Botei a boca no trombone e falei tudo o que tinha e ao que não tinha direito.
Sendo honesto, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito naquela situação. Saí do grupo com a consciência limpa. Depois do ocorrido, vi muitos vídeos da minha explosão circulando por aí. Eu não ligava, na verdade. Minha única preocupação era se eu finalmente conseguiria ser próximo de Nico sem aqueles idiotas por perto.
Quando o ônibus escolar chega, não vejo Nico no grupo que se aglomera para entrar no veículo e sinto pânico. Procuro ao redor com o olhar das portas prestes a se abrirem, indo até uma garota loira lendo.
一 Você viu Nico?
一 Nico Di Angelo?
一 Ele mesmo.
一 Ele foi a pé.
一 Quando? 一 Meu desespero se derrama em minha voz e taco o foda-se pra isso.
一 Faz uns dez minutos.
一 Por onde ele foi?
A garota me aponta e saio correndo naquela direção. Depois de um minuto de corrida, meus pulmões ardem e mal consigo respirar. Depois de cinco minutos, estou prestes a desistir quando o vejo virar uma rua e faço um último esforço para alcançá-lo.
Toco seu ombro e ele dá um pulinho de susto. Não o chamei porque estou ofegando e só murmuro um "Graças a Deus" enquanto me apoio em meus joelhos e respiro. Minhas pernas doem, meus pulmões estão queimando e eu vou morrer sem ar, mas o alcancei.
Por que ele parece intrigado?
一 Para quem tem pernas curtas, você anda muito rápido. 一 Brinquei.
A ruga entre suas sobrancelhas se aprofundam. Ele está intrigado.
一 Eu sou o Will. 一 Apresento-me para quebrar um pouco desse gelo. 一 Will Solace.
Ele me olha de cima a baixo e juro pelos deuses que há algo em seus olhos que me faz querer abraçá-lo, mas me contenho.
一 Me chamo Nico. 一 Diz, agressivo.
Como se eu não soubesse quem você é.
一 O que quer? 一 Completa, cuspindo as palavras como se fosse difícil dizê-las.
Sua agressividade me deixa mais curioso. Tenho a sensação de que Nico é muito mais do que um mistério a ser desvendado.
一 Sua amizade. 一 Respondo simplesmente, franzindo a testa quando ele ri.
一 Nem fudendo. 一 Murmura entre risos.
Meu coração se aperta em meu peito.
一 Como assim? Eu só quero ser seu amigo.
一 Não vê que esse é exatamente o problema?
Problema? Ele está batendo bem?
一 Problema? Há algum problema nisso?
一 Há! Pior que há, sim. 一 Exclama e percebo que ele está com raiva. Muita raiva.
Analiso seu olhar, sua linguagem corporal e suas palavras. Ele está irritado comigo. Com minha presença e minha insistência. Acho que quebrei o padrão de seus dias, a comodidade de sua rotina, e isso o irritou. Mas sinto que ele precisa disso. Ele precisa de uma companhia constante. E eu estou aqui.
一 Você não enxerga? É sempre assim?
一 Assim? De que jeito?
一 Você é sempre tão aéreo ao risco que corre?
一 Você é um perigo?
Fumaça parece sair de suas orelhas. É fofo até e me controlo para não sorrir.
一 Pare de me responder com outra pergunta!
Puxa, desse jeito não vou convencê-lo.
Assinto devagar.
一 Quero ser seu amigo porque te acho legal e quero saber mais sobre você. O que há de mal nisso?
Ele bufa, sem me dar uma resposta.
一 Quer saber? Você parece ser difícil, mas eu sempre amei um desafio.
Ele dá de ombros, dúvida em sua expressão.
一 Faz o que quiser, novato.
一 Ótimo. Se não terei pedindo, vou conquistar sua amizade e seu respeito, mesmo que aos poucos. 一 Decretei, cada célula do meu ser energizada com determinação.
一 Tanto faz.
Ele se virou e foi embora. Não corri atrás dele, mas tive vontade. Fui para casa com uma meta estabelecida: ser amigo de Nico Di Angelo, a todo custo.
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