2 de fevereiro de 2011
As aulas voltariam na semana seguinte, no dia 7. Enquanto ainda tínhamos um tempo livre, eu e Will passamos basicamente todo esse restinho de férias no meu quarto. Passamos cerca de dois dias após meu aniversário comendo o que sobrou do bolo e, depois, uma semana só comendo doces que Hazel fazia, pois cozinhar se tornou seu hobby de férias.
Ganhei muitos livros novos de presente dos meus amigos e geralmente eu os lia em voz alta para Will, que permanecia deitado em meu colo nesses momentos. Também jogávamos com meu Nintendo Switch, dividindo o console em turnos. Ás vezes só reassistíamos aos filmes e as séries que mais gostamos, repetindo falas e rindo feito idiotas.
Se eu e Will não fôssemos melhores amigos ou se eu sequer o conhecesse, passaria essa última semana livre adiantando conteúdo e separando meus materiais escolares, pesquisando as assuntos na internet e assistindo a vídeo-aulas.
Com Will ao meu lado, isso nem passou pela minha cabeça. Se fosse qualquer outra pessoa (exceto Reyna, Leo, Haz e Jason), eu ficaria me martirizando pela maneira como gastei minha última semana de férias. Se fosse qualquer outra pessoa, eu acharia perda de tempo não me preparar para as aulas. Mas com Will ao meu lado, não me martirizo nem por um milésimo de segundo.
Tenho focado nas coisas boas que tenho ao meu redor nessa última semana. Meu aniversário mexeu com meu lado sentimental, fazendo-o florescer mais ainda. Pensei bastante até agora sobre minhas amizades e o quanto elas me fazem feliz. Pensei também sobre a sorte que tenho de ter encontrado alguém para amar tão cedo.
Indo por essa vertente, Will parece cada vez mais pensativo, meio aéreo e disperso do mundo ao seu redor. Está ansioso, preocupado com o que não pode controlar e com aquilo que não pode constatar por si só. O término repentino lhe deixou questões das quais as respostas nunca virão e isso o atormenta. Ele não admite, mas eu sei que o atormenta.
一 Pipoca? 一 O loiro me oferece, estendendo a vasilha para que eu a pegue antes que ele se sente ao meu lado. Encaro a vasilha e depois seu rosto, acusador.
一 Você não fez com manteiga dessa vez, né? 一 Digo, pegando a vasilha com certa relutância.
一 Claro que não. 一 Sua voz soa enfática. 一 Não depois da poça de vômito que eu tive que limpar.
一 Sou enjoado com comida. Não posso evitar. 一 Dou de ombros.
一 Não deveria evitar, na verdade. Ser, pelo menos um pouco, crítico com comida deveria ser o mínimo. Não entendo essas pessoas que comem até reboco.
Will se acomoda a minha esquerda, passando um braço por minha cintura e me trazendo mais pra perto deles. Nossas pernas estão coladas por causa desse movimento. Escolhemos assistir o primeiro filme de Star Wars outra vez, a sexta vez nessa semana, e Solace disse que um bom filme merecia uma boa pipoca.
Experimento um pouco da vasilha em meu colo. Sem manteiga, obrigado, Deus. Honestamente, não consigo focar no filme. Não consigo focar quando a mão dele se encaixa perfeitamente em minha cintura e sua expressão se torna tão contemplativa enquanto revê seu filme favorito. Não consigo focar quando esse calor se espalha por meu peito dessa maneira.
Inspiro pelo nariz e expiro pela boca discretamente, tentando acalmar as batidas do meu coração. Eu sou paciente, sei esperar melhor do que ninguém, posso controlar meus pensamentos, posso conter minhas vontades, posso manter meus sentimentos sob controle enquanto Will toma o tempo que precisa. Mas é difícil.
É díficil pra caralho. Hard as fuck, como dizem em inglês, eu acho. Claro, ninguém disse que seria fácil. Mas faz a porra de sete meses que eu tenho esperado e parece que eu vou enlouquecer. "Ah, desiste dele, uai!". Como se fosse simples...
Will Solace é... Não vou dizer que é perfeito porque ninguém é perfeito e eu consigo ver os defeitos dele, mas Will é a pessoa mais doce, parceira, dedicada e engraçada que eu já conheci. Ele tem um humor negro sensacional. Toda vez que ele conta alguma piada, eu quase perco o ar de tanto rir. Ele é atencioso, observador, meio sarcástico e absolutamente lindo.
Eu acho que muitas frases perderam a força de seus significados, como "eu te amo" e "você é lindo". Sou do tipo de pessoa que usa as palavras com o peso que elas têm, mas os outros não entendem a intensidade do que estou querendo dizer. Aí eu acabo usando ênfase pra tudo, na intenção de tentar ser compreendido. E preciso de todas as ênfases do mundo pra falar de Will.
Sinto que posso perder a cabeça. Sinto que já estou perdendo a cabeça, na verdade. Estar apaixonado assim é um pouco assustador. Amá-lo nessa intensidade é... formidoloso (não pergunte de onde caralhos eu tirei essa palavra). Amá-lo nessa intensidade também é mirífico (outra palavra que não irás perguntar onde eu achei).
Há uma ambiguidade profunda no que sinto, um desejo muito grande e uma sensação de que não posso respirar sem ter certeza de que ele está bem com isso. Não tenho essa sensação de estar pisando em ovos o tempo todo, apenas quando penso demais no quanto o amo e no quanto quero que ele tome uma atitude.
Bem... Ele inesperadamente pausa o filme, o que conta como uma atitude. Gelo até a alma, tendo total consciência dos pensamentos que remoí nesse período em que fiquei aéreo. Aparentemente, fui notado no meio de meus devaneios.
一 Nico... 一 Sussurra, um pouco rouco, e pigarreia. 一 Eu sei que não é a melhor hora, mas eu queria falar sobre minhas inseguranças... sobre o meu antigo relacionamento.
Agora?, penso.
一 Sei que está careca de tanto ouvir que eu não tô pronto e tals, mas... Chega. Eu cansei de ficar revivendo o passado na esperança de entender o que eu possa ter feito de errado. A realidade é que eu não fiz nada de errado. Cansei de examinar cada pequeno momento que vivemos tentando entender o porquê de ter acabado, mas não vale a pena.
Ponho uma mão em seu joelho como forma de apoio. Em resposta, ele deita a cabeça em meu ombro.
一 Ela era ruim pra mim, nunca estava satisfeita e raramente fazia algo por mim enquanto eu fazia de tudo por ela. Os anos em que namoramos foram legais, mas... me fizeram mal. Fizeram mal para minha autoestima. Fizeram mal pra minha individualidade. Eu mascarei esses momentos ruins, fingi que não era nada e me convenci de que tava tudo bem. 一 Sinto-o apertar minha cintura, como se estivesse se ancorando a alguma coisa boa. 一 Camille não merece que eu sofra por ela, nem por um segundinho que for.
Encosto minha cabeça na dele, o coração disparado dentro do peito.
一 Fico feliz que tenha chegado a essa conclusão sozinho, meu sol. Ela realmente não te fez nada bem.
一 Ela fez com que eu tivesse medo de amar, Nico. Não perdi esse medo por completo, mas estou quase lá. Eu preciso de ajuda. Pra superar isso, pra tirar da minha mente tudo o que ela já disse.
一 Sabe que estou aqui pra isso também, né?
一 Eu sei... e é isso que eu quero falar.
Engulo em seco, sem saber o que pensar.
一 Eu... quero namorar com você. 一 Diz, respirando fundo antes de complementar: 一 Se eu esperar até estar pronto, nunca vou estar pronto. Preciso criar novas lembranças, me arriscar no amor e descansar meu coração ao mesmo tempo. Com você... eu sei que posso ser quem eu realmente sou e ser plenamente amado.
Desencosto minha cabeça da dele, o que o faz se erguer também. Há uma expressão esperançosa em seu rosto e meu coração está batendo mais rápido do que o de qualquer outro ser vivo que possa existir no universo. Mal posso acreditar no que acabou de sair da boca dele.
一 Eu... nem sei o que dizer. 一 Sopro um riso nervoso, a felicidade me inundando a medida que a ficha cai. 一 Isso é maravilhoso, Will. Eu...
一 Permita-me perguntar formalmente.
Assinto e me ajeito, ficando de frente ao Solace. Ele pigarreia.
一 Nico, me daria a honra de ser seu namorado? 一 Sussurra, suavemente, enquanto segura meu rosto, acariciando minha bochecha.
Com um sorriso satisfeito e feliz, ponho minha mão por cima da dele.
一 A honra é toda minha.
Lágrimas brotam no brilho de seus olhos e um sorriso de orelha a orelha preenche seu rosto. Ele deita a cabeça no meu ombro, chorando silenciosamente de felicidade. Acaricio seus cachos em meus dedos, dizendo baixinho o quanto ele foi corajoso e o quanto eu o amo. Há uma sensação belíssima de completude em meu peito e sei que Will sente o mesmo que eu.
Deixo-o extravasar seus sentimentos através do choro, confortando-o e estando ali como eu disse a ele que estaria. Will é a pessoa mais preciosa que já conheci e já é tarde demais para prometer amá-lo com a minha alma. Porque eu já o amo como minha existência neste universo dependesse disso.
Comentários
Postar um comentário