Não importa quantas vezes eu me lembre, a dor é a mesma. As memórias me assobram sempre que me atrevo a tentar desvendar um pouco mais delas. Faz tempo que desisti de correr atrás de um relacionamento saudável com meu pai. Ele já não era constante na minha vida antes, então por que seria mais presente agora?
Quanto mais eu me esforçar pelas pessoas ao meu redor mais eles me machucavam apenas para que eu associasse isso a falta delas. É cruel, eu sei. Ao perceber a manipulação, me afastei e convenci a mim mesmo que todos eram iguais. Todos na escola querem me ferir e se aproveitar da minha lealdade quando a tiverem.
Por ter me fechado para o mundo, nunca namorei ou beijei alguém. Nem de selinho. Pois é. Minha vida amoroda acumulou tanta poeira ao longo dos anos que nem o maior espanador do universo conseguiria limpar. Mas também não há um jeito de evitar que minha vida amorosa seja completamente estagnada. Ninguém, jamais, se interessaria por mim. Nunca. Isso é um fato.
Não sou nem de perto bonito como o único outro homosexual da minha turma ou tão interessante e carismático como Leo Valdez. Nem tão atraente e alegre como Percy Jackson. Ou inteligente e bonito como Jason Grace. Ou imponente e sexy como Frank Zhang e Reyna Ramírez. Ou sorridente, dedicado e talentoso como Will.
— Anda. — O loiro estende a mão. — Me dê.
— Dar o quê?
— Me empreste seu celular.
— O quê? Pra quê?
Ele suspira e sorri.
— Quero fazer uma coisa. É rápido, prometo.
Só cedi após un olhar pidão e um biquinho, revirando os olhos pelo drama ao entregar-lhe meu celular. Por causa das milhares de vezes que já me viu desbloqueando, sabe a senha de cor e salteado. Tomo meu refrigerante sem olhar para o que ele faz. Os únicos contatos são do meu pai, de fast-food e da minha turma, então não tem o que ele zoar e nem jogos nos quais mexer.
Aí ele pegou o próprio telefone e alternava o olhar entre um e outro. Ele me entregou meu aparelho, mexendo no dele com um sorriso no rosto. Estranhei a empolgação sem sentido, mas guardei minhas estranheza pra mim e fiquei quieto. O resto do dia foi bem normal. Peguei o ônibus e fui banhar assim que cheguei.
À noite, peguei meu celular na mochila pra pesquisar na internet as questões da atividade que eu não soubesse responder e vejo que há uma notificação a mais do que o comum. Abro-a e constato que é uma mensagem. O contato está denominado "melhor amigo". Um sorriso surge em meu rosto.
𝚃𝚎𝚗𝚑𝚊 𝚞𝚖𝚊 𝚋𝚘𝚊 𝚗𝚘𝚒𝚝𝚎, 𝚏𝚊𝚗𝚝𝚊𝚜𝚖𝚒𝚗𝚑𝚊
Comentários
Postar um comentário