Já passei por muitas situações difíceis ao longo da vida, mas achava que na faculdade fosse ser melhor, esperava mais consciência dos meus colegas de curso. Por que digo isso? Tive um pequeno problema, problema esse que se desenvolveu sem que eu fizesse a menor ideia de que estava acontecendo até estar diante dos meus olhos.
Pietro, do terceiro período de Publicidade, foi um dos primeiros a vir falar comigo. Eu já teria afastado ele se o cara não tivesse sido esperto. Logo na primeira frase que troquei com ele, citei Will e deixei o anel de noivado em sua vista, mas não de uma forma que parecesse grosseria. Pietro assentiu e logo falou o nome de uma garota que namorava.
Logicamente, ele estava mentindo ao dizer que era compromissado. Inventava coisas sobre o namoro e a garota para manter a farsa. Acreditei em suas palavras. Eu estava focado em estudar e tirar boas notas do que perceber que estava sendo paquerado. Pietro era sutil, sorrateiro como uma cobra. Conquistou minha confiança antes de demonstrar interesse, este sempre aos poucos.
Dizia coisas com duplo sentido, que eu só fui entender quando suas intenções ficaram claras pra mim. Eu sei que já lidei com pessoas como ele antes, mas, na segunda série, éramos crianças e Max nunca escondeu de mim que desejava o meu corpo, eu só não sabia o que fazer. Pietro era ardiloso.
Como descobri? Não descobri, na verdade. O naja que decidiu mostrar as presas, achando que ia conseguir dar o bote. Fazia uma semana que o suposto namoro dele tinha chegado ao seu fim quando me chamou pra "dar uma passeada" de última hora. Aceitei ir porque Will estava fazendo um trabalho da faculdade e precisava se concentrar.
一 Sole, vou sair com um colega. 一 Avisei, pegando minhas chaves no porta-chaves.
O loiro me lançou um beijo, ao qual peguei no ar.
一 Ok, babe. Se cuida e se divirta.
一 Difícil sem você, mas vou tentar.
O sorriso que se espalhou pelo seu rosto me aqueceu o peito. Eu daria os deuses e o mundo pra ter ficado em casa, ouvindo-o revisar o texto sobre morte assistida mil e uma vezes antes de enviar para a professora. Gosto de ver o quanto sua expressão série e concentrada é sexy, mas ele mal consegue ficar sério perto de mim e nem eu perto dele.
Encontro Pietro na praça de alimentação do shopping e ele já tinha comprado lanches para nós no Burger King. Tento explicar que comi em casa, que estou sem um pingo de apetite e que não curto Burger King, mas ele faz pouco caso e praticamente me obriga a comer. Engulo frases mórbidas sobre seu gosto pessoal de roupas e só como, pensando em como ele é tóxico e sua ex teve sorte de escapar.
A companhia dele se torna desagradável e fico na defensiva o tempo todo. Não acho que a víbora tenha interpretado direito minha falta de assunto e o motivo de não responder suas perguntas. O pouco de tempo em que fiquei lá já me deu vontade de evaporar ou me diluir em sombras. Eu o queria longe de mim. Já queria cortar qualquer laço que ele achava que tínhamos e isso só aumentou.
Finalizamos nosso "agradável" passeio andando por aí. A única coisa que perguntei foi se ele tentaria voltar com a ex dele. Pietro me disse que terminaram porque ele passou a sentir coisas mais fortes por outra pessoa. Deixei o assunto morrer. Um tempo depois, a cobra cascavel tentou pegar na minha mão. Estranhei e desviei de seu toque, mas ele era insistente.
Até que... Bem...
一 Sabe de uma coisa? 一 Ergui a sobrancelha para ele. 一 Nunca achei que fosse me corresponder.
Franzi o cenho.
一 Corresponder o que? O quant...
Ele pegou meu rosto nas mãos e me beijou, mas rápido demais. Não me deixou terminar a frase na qual ia deixar mais do que claro o meu desinteresse. Além de tudo, seu toque era violento. Empurrei-o para longe de mim no instante seguinte, totalmente alerta e um pouco assustado. Senti um gosto metálico nos lábios e notei que ele havia cortado o dele. Limpei a boca com as costas da mão.
一 Você ficou louco?!?
Pietro me olhou com frieza.
一 Ainda mantêm a pose? Sério, Neecks?
一 NÃO ME CHAME ASSIM!!! VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO NEM AQUI NEM NO TÁRTARO!
A naja fez cara feia.
一 Ok, Nico. Mas eu... Achei que nós...
一 Você não achou nada porque você não pensa. E não existe um nós. 一 Rebati. 一 Por que me beijou, seu idiota? Eu tenho noivo!
一 Achei que tivesse inventado esse babaca para se fazer de difícil. Não achei que fosse real.
一 O único babaca nessa história é você!
Eu estava transtornado. Estava revivendo dois momentos da minha vida que achei ter esquecido: Percy tentando me beijar e Max, ambos quando eu tinha doze anos. A tentativa do Per de ficar comigo eu superei, chegando a achar engraçado, mas ainda pensava se ele havia achado que eu tinha inventado um crush depois que o rejeitei. Porém Max...
Peguei meus pertences e fui embora, tentando pôr a cabeça no lugar. Entretanto, refleti sobre as conversas que já tinha tido com Pietro e percebi seus flertes. Me xinguei mentalmente, e em voz alta, por nunca ter entendido suas intenções. Liguei para Will no caminho, mas dava como desligado. Recordei-me de Max, seu toque violento, o olhar frio e o sorriso.
Ao chegar no apartamento, fui recepcionado pelo meu sol, que parecia preocupado.
一 My ghost, desculpa não atender. Meu celular descarregou e só agora vi a chamada perdida. 一 Disse assim que me viu.
Eu só assenti, abalado por dentro. Senti que ia chorar, mas me segurei.
一 Aliás, já terminei o trabalho. Não enviei ainda porque quero lê-lo para você antes. 一 Sorriu. 一 Ei, babe? Que carinha é essa, mio angelo?
Trouxe-o para perto. Esqueça, esqueça, esqueça. O loiro repousou as mãos em minha cintura. Concentrei-me em seu toque, puxando-o pela nuca para um beijo. E mesmo quando parecia confuso e preocupado, Andrew correspondeu. O ósculo não foi inocente. Eu não queria que fosse. Esqueça, esqueça, esqueça.
一 Niccolò Di Angelo. 一 Solace me chamou, segurando o meu rosto. 一 O que aconteceu?
Impotente, contei tudo desde o princípio. Cada detalhe de como ocorreu e como eu estava me sentindo. Era doloroso admitir o quanto ele me lembrava de Max. Minha garganta doía ao pronunciar as palavras que descrevessem aquele momento. William ouviu tudo enquanto me abraçava e me acariciava a bochecha, compreensivo.
Acima de qualquer outra coisa, Will sempre foi e sempre será o meu melhor amigo. Escondi dele os meus sentimentos românticos por medo de que pudessem arruinar nossa relação e que ele pudesse se afastar de mim. Meu maior medo sempre foi perdê-lo. Amo-o demais para me imaginar sem o loiro, mas nunca o prendi a mim ou o forcei a estar perto o tempo todo.
"Se você ama algo, deixe-a ir. Se ela voltar, é tão sua quanto você é dela"
Ao fim do meu relato, Sunshine me beijou a testa. Peguei sua mão na minha e entrelacei nossos dedos. Esqueça, esqueça, esqueça. Eu precisava esquecer aquilo para fazer a voz da minha mãe parar de repetir aquilo. Aninhei o rosto no pescoço do meu sol, deixando um beijo molhado no local. Mordisquei-lhe a pele, vendo-o ter um arrepio.
一 Sei bem qual é a sua intenção, angel, mas não vai rolar. 一 Ele me tirou do seu ombro. 一 Não vou foder você para se esquecer disso. Vou te ajudar a encarar isso de frente.
Fiz bico, praticamente implorando.
一 Nananinanão, senhor Di Angelo.
Percebi que ele falava sério.
一 Vou te levar em um circo que está tendo na cidade, vamos nos divertir, depois vamos tomar banho e ver One Punch Man outra vez. 一 Listou ele, sorrindo. 一 Fale com a psicóloga da faculdade na segunda-feira, se isso ainda te incomodar.
一 Tá... 一 Revirei os olhos.
Ele me deu um selinho e um olhar reconfortante, me enxotando para o quarto para que eu me arrumasse. Consegui sorrir, agradecendo aos deuses pela pessoa maravilhosa com quem eu estava. Agradecendo aos deuses pela pessoa incrível e admirável com quem eu passaria o resto da vida.
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