P&UV -- XXIV -- "Meu" primeiro apartamento

 



 Aquele espaço era inteiramente meu, mas era como eu me referia. "Para onde você vai? Pra minha casa", "Tô precisando disso na minha casa" ou "A minha casa é arrumada". Eu gostava de pensar naquele lugar como um canto só meu e do meu sol, sem que mais ninguém atrapalhasse nossos momentos e ficasse enchendo o saco.

 Depois que passei a morar com o meu sol, descobrimos algo incrível: Privacidade! Se a gente fazia comida ou não, ninguém precisava saber. Se a gente limpava a casa ou não, ninguém tinha nada a ver com isso. Se a gente transava na pia da cozinha ou não, ninguém ficava sabendo. A melhor parte era justamente o fato de estarmos a sós o tempo todo.

 Lembro de um dia que Will voltou do mercado e eu estava lendo no quarto. O loiro guardou tudo o que comprou em silêncio, indo para o banho em seguida. Eu não disse uma palavra e não me movi um centímetro. O livro estava bom demais até para que tivesse tempo de fazer análise psicológica dos personagens enquanto lia. Uma verdadeira obra-prima.

 Por cima da broda do livro, vi Solace entrar no quarto, uma toalha amarrada na cintura. Ele se secou, vestiu uma cueca e arrumou os cachos. Fingi não me importar, continuando a ler. Senti um peso na cama, mas não me movi, já que estava no meio dela. Andrew afastou minhas coxas e deitou no meu colo, manhoso.


一 Oi pra você também, Sunshine.


 Ele sorriu enquanto eu lhe fazia cafuné.


一 Oi, my angel. 一 Disse, sonolento. 一 Como você está? Fez algo legal?


 Passei a página antes de responder.


一 Estou bem. Fiz o jantar e lavei roupa. E você, my sun? Como você está?


一 Com saudade de ficar agarradinho com você...


 Sorri, não desviando os olhos do livro.


一 Como agora?


一 Não...


 Fechei o livro, William saindo do meu colo e começando a me beijar o pescoço. Passei a mão por sua nuca, apertando seus cachos entre os dedos. Se eu dissesse que não sentia o mesmo, estaria mentindo e muito. O loiro fez uma trilha de selinhos até a minha boca. Sempre tentando me provocar...


一 Eu amo você. 一 Sussurrou.


 Empurrei-o, sentando em seu colo e tomando seus lábios nos meus. Sinto suas mãos em minha cintura, por dentro da minha camisa. Gosto de seu toque ávido pelo meu corpo, gosto de como olha pra mim, gosto da sensação de sua boca perfeitamente encaixada na minha, gosto de como ele se derrete todo quando rebolo em cima de seu membro.

 Beijo-o com mais intensidade, murmurando algo sobre ele parecer estar com sono antes. Ele replicou que me foder é muito melhor que dormir e preferia que eu me deitasse, agora. Ri, mas o fiz. Quando Andrew fica com vontade, eu apenas obedeço e quando que eu fico com vontade, escolho a posição. Esse foi um consenso mudo. Rolou e concordamos que seria assim.

 Will se posicionou entre minhas pernas, levantando minha camisa para me marcar o abdome. Com uma ansiedade lasciva, ele se livrou de suas roupas e das minhas, tomando o cuidado de pôr meu livro na escrivaninha para não sujar. A parte boa de tudo? Era fim de semana, portanto não precisamos nos preocupar com o dia seguinte.



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 Percebi que Will estava meio triste. Não quis ir a uma festa da faculdade, não quis sair, não quis conversar, não quis transar, não quis me beijar. Achei estranho e abordei esse assunto no jantar. Fazia mais de uma semana que ele não falava direito comigo, então estava preocupado. Ele não queria dizer e ficou bravo comigo por tentar conversar com ele sobre isso.

 Saí da mesa para lavar a louça, magoado e irritado com sua reação. Eu só tentei conversar, mas ele não precisava gritar comigo. No fundo, estava mais magoado do que irritado. Ele estava na defensiva e nem falava nada que me desse uma pista do porquê. Depois de um tempo, sinto seu corpo se colar ao meu, suas mãos na minha barriga e o queixo apoiado no meu ombro.


一 Desculpa... 一 Ele diz.


 Tento esconder minha mágoa para que ele não fique se sentindo mais culpado.


一 Tenho agido como uma criança birrenta e você só está sendo a coisa mais perfeita da minha vida. My angel, o que eu faria sem você?


 Sua voz, carregada de sentimento, me arrepia. Ponho minhas mãos por cima das suas.


一 Você também é um ser humano, my sun. Chora, ri, ama, sofre e erra. Faz parte, mas estou aqui para todos os momentos. Precisando ou não, continuo aqui porque não sei viver sem você.


 Solace para, talvez processando o que eu disse ou pensando na minha declaração. Eu queria muito que ele falasse algo. Sentia como se devesse dizer mais, mas ia parecer um idiota. Will manteve as mãos na minha barriga, mas deslizou o nariz pelo meu pescoço, aspirando de leve.


一 Meus pais... 一 Sussurrou.


一 O que?


一 Eles vão se divorciar. 一 Me virei de frente pra ele. 一 Meus pais sempre foram meu maior exemplo de relacionamento romântico e... Porra, eu não deveria ficar tão abalado com isso.


 Deixei um beijo em sua testa.


一 Meu sol, isso é algo sério. Você preza muito por seus pais e levava a relação deles como exemplo. É totalmente normal que fique sem chão com essa notícia.


 O loiro me abraça, escondendo o rosto e os olhos marejados no meu ombro.


一 Obrigado, my moon...


 Faço-lhe um cafuné.


一 Obrigado a você por me contar, Sunshine.



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 Dei um abraço forte em Jason assim que a dança se encerrou. Percy estava do outro lado do salão, cumprimentando a mãe e uma amiga da escola. Deuses do Olimpo! Tinha sido algo incrível e eu estava super feliz. O Grace, Grace-Jackson agora, disse que estava muito contente por eu ter aceitado ser seu padrinho.


一 Foi um prazer enorme. 一 Respondi-lhe, com um sorriso gigante no rosto.


 Hazel e Leo dançavam juntos, rindo, enquanto Frank conversava com Thalia. A irmã do meu primo, o que faz dela minha prima também, havia sido a "padre" no casamento de Bia e Reyna, observando-as assinar o papel. Lembro que foi apenas uma festa de comemoração e que Ray entregou as alianças, todo feliz.

 Apesar de estar realmente orgulhoso pelo matrimônio de Jay e Per, eu escondia uma preocupação com um dos meus bens mais preciosos: O meu anel de caveira que ganhei no meu aniversário de quinze anos. Ele tinha desaparecido já fazia uns dois dias. O meu anel de sol continuava no lugar, mas ainda estava apreensivo pelo outro.

 Uma morena bonita veio falar com Jason. Era uma colega da escola antiga, então os deixei a vontade porque não a conhecia. Avistei Will conversando com Reyna e me aproximei. Rá-Rá me lancou um sorriso de quem tá tramando algo, mas não dei importância. Cumprimentei-a e perguntei do meu sobrinho antes de dar um selinho no loiro.


一 Ray está dormindo agora. 一 Ela sorriu. 一 Brincou muito com o tio Will.


 Tentei sorrir, mas não consegui.


一 Algo errado, my angel?


 Suspirei e assenti.


一 Você por acaso viu meu anel de caveira?


 ReyRey soprou um riso.


一 Não, eu não...


 Pelo canto do olho, vislumbrei algo vindo diretamente na minha direção e peguei por impulso. Era o buquê do Percy. Olhei pra frente, vendo um grupo amontoado. O próprio dono do buquê e seu marido me olhavam. Corei, sentindo a mão do Solace na minha cintura.


一 Caramba, cunhadinho. 一 Reyna riu.


 Will fez o mesmo e relaxei um pouco.


一 Hey, Haz! 一 Chamei. 一 Nem pense em casar antes de mim, viu?


 Ela riu e disse que jamais faria essa injustiça comigo. Por um momento, voltei a ficar completamente e plenamente feliz. Todos retornaram a comemorar, então, sem plateia mais, puxei William para um beijo. Ele correspondeu, pondo a mão no meu rosto e aprofundando o ósculo.




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