Liberdade Para Amar




 Nico Di Angelo é um garoto introvertido que seguia regras restritas sobre com quem e como ele deveria namorar. Sua mãe o vigiava bem na pré-adolescência, de olho em tudo que o filho fizesse e em todos com quem ele conversasse. Todo dia após a escola lhe era feito um interrogatório infernal sobre o que aconteceu e etc.

 Apenas após Maria Di Angelo perder a guarda do filho por causa do suicídio de Bianca, ele teve algum tipo de paz e liberdade. O pai, Hades, é mais compreensível e muito menos controlador. Deixa que o menino viva sua adolescência da melhor forma que pode e não o controla como Maria fazia.

 De início, estranhou a sensação de liberdade e a falta de pressão psicológica, mas foi rápido para se acostumar com algo tão bom quanto um pouco de autonomia e responsabilidade. E, claro, essa nova etapa da sua vida chegou acompanhada por descobertas intrigantes e que fizeram Nico repensar muito a maneira que agia.

 A principal descoberta foi a de sua sexualidade. Não sentia um pingo de atração por garotas e isso o assustou no começo, quando ainda não conseguia digerir a informação muito bem. Aos poucos foi se aceitando e passou a prestar atenção naquilo que lhe atraía fisicamente e sexualmente. Hades observava de longe, sempre pronto para apoiá-lo.

 É nesse exato ponto que Will Solace surge nessa história. Um garoto alegre, extrovertido e atencioso que ficara afim de Nico quando o vira em uma das aulas. O loiro pensou que fosse uma atração boba e que logo isso iria se dissipar. Nico era um garoto bonito em todos os aspectos e possuía uma timidez adorável. Will não sabia como se aproximar.

 Até que Jason, melhor amigo do Di Angelo, percebeu a situação e teve que agir. Encorajou Will e mandou indiretas sobre alguém interessado a Nico, mas o moreno fingia não entender e seguia sua vida, incrédulo de que alguém pudesse gostar dele. 

 Contudo, perto de março, Solace sentiu a onda de coragem que precisava pra chamar Nico para sair. Trocaram números, conversavam como se fosse casual, mas era mais do que nítido em seus corações que nutriam algo um pelo outro.

 O ápice da valentia do louro foi chamar seu interesse romântico para a festa LGBT que Leo Valdez estaria proporcionando em sua casa, em junho, mês do Orgulho. Nico nunca teria ido se outra pessoa tivesse o convidado, mas aquele era Will o chamando, então era óbvio que iria sem nem pensar duas vezes a respeito.

 Falou com o pai sobre isso e sobre seus sentimentos pelo garoto que o havia convidado. Hades reagiu bem e disse que tinha total permissão de ir, podendo voltar a hora que quisesse. Di Angelo realmente não esperava por aquilo. Maria jamais permitiria, mas seu pai deixou e era isso o que importava. Maria não era mais responsável por ele.

 Na festa, Will foi atencioso e ficou do seu lado o tempo todo, mesmo que dezenas de pessoas que o moreno não reconhecia o chamando pra dançar e curtir. Nico se sentia bem com ele. O clima ficava mais leve e tudo parecia mais mágico. Ali estava nosso querido introvertido, no meio de pessoas parecidas com ele, da mesma causa, e acompanhado pela pessoa que gostava.

 Solace o admirava em silêncio, contente pela clara felicidade em seu rosto. Haveria alguém que mais valia a pena estar ao lado do que Nico Di Angelo? E ainda tinha aquela vontade irresistível de beijá-lo e admitir toda essa paixão avassaladora por ele. Não podia ser impulsivo ou o assustaria. Tentou pensar numa forma mais mansa de expôr seus sentimentos.


一 Neecks... 一 Chamou-o pelo apelido carinhoso que vinham usando fazia algumas semanas e que soava melhor da sua boca. 一 Eu queria falar uma coisa importante com você.


 Nico o encarou, olho no olho. Preto no azul. 


一 Claro. 一 Concordou após um breve instante. 


 Conduziu-o até um canto mais reservado e onde tinha certeza de que não seriam interrompidos em momentos inoportunos. Will demonstrava nervosismo e hesitação em cada gesto ou simples movimento que fazia, seja estes com as mãos ou com a cabeça. Os olhos lindamente azuis estavam inquietos, buscando olhar para qualquer lugar a fim de reunir coragem para se fixar no moreno outra vez.

 Di Angelo, por outro lado, observava o ambiente que os cercava e tentava não pensar muito no que o nervosismo aparente do Solace podia significar. Era péssimo em dedução e não queria deduzir errado o que provavelmente seu amigo já ia lhe contar. 

 Will suspirou.


一 Vou tentar ser direto e bem claro para que não fique uma segunda interpretação. 一 Disse, por fim. 一 Eu gosto de você e não como um amigo gostaria de outro. Quando eu digo que gosto de você, me refiro a gostar romanticamente de você.


 O moreno não sabia bem o que reagir. Seus batimentos cardíacos pulsavam fortemente em seu ouvido. O coração martelava sua caixa torácica como se quisesse se libertar de lá. O rosto ficou terrivelmente quente. Sua mente se esvaziou naquele mesmo instante. Desviou o olhar, constrangido e surpreendido. Esperava qualquer coisa, menos aquilo.


一 Willie, eu...


 E de todos os momentos menos oportunos para se interromper uma conversa da maneira mais esquisita possível, aquele levava o primeiro lugar. As sirenes da polícia tocavam mais alto do que a música e batidas na porta foram ouvidas quando Leo abaixou o volume para dar uma espiada na visita inesperada que acabara de chegar.

 Will puxou Nico pelo pulso e pulou a janela. Como eram os fundos da casa, a polícia não os viu e nem ouviu. O loiro colocou o indicador sobre os lábios como um pedido para que não falasse nada. Juntos, eles correram silenciosamente por uma floresta pouco densa da região. Solace sabia o que estava fazendo, mas Nico não, então tinha que guiá-lo pela mata.

 Correram até estarem longe da casa do Valdez e de toda aquela confusão. Pararam quando perceberam que logo chegariam em outro bairro naquela correria. Os pulmões de ambos pareciam que iam explodir do tanto que se forçaram a continuar naquele ritmo. A rua estava deserta e silenciosa, exceto por aqueles dois adolescentes ofegantes.

 Will se sentou no chão, rindo enquanto tentava recuperar o fôlego. Tinham mesmo corrido tanto por causa de uma visita da polícia que provavelmente era por causa do barulho excessivo da festa? Nico mal podia acreditar. Se apoiava nos próprios joelhos, aspirando o ar rapidamente como se isso fosse acelerar o processo.


一 Will, na festa...


 Os olhos azuis do garoto se fixaram nele imediatamente e o sorriso lhe deixou o rosto sardento, dando espaço para o rubor em suas bochechas.


一 Eu ia dizer que... 一 Ofegou uma última vez, voltando a respirar normalmente. 一 Eu também gosto de você romanticamente. Eu só... não sabia como te dizer.


 O rosto do Solace se iluminou de alegria. Ele se levantou rápido e puxou a cintura do moreno, trazendo-o para mais perto. Nunca tinha feito isso antes, mas a sensação era boa. 


一 Eu gosto de você, Nico Di Angelo.


 E, ali, soube que era verdade. Sua vida toda, Nico teve a mãe no pé do ouvido, lhe dizendo o que fazer e dando bronca toda vez que fazia algo que ela considerava errado ou não gostava. Mas lá estava ele, gostando de outro garoto e se sentindo livre para isso. Maria não aprovaria aquele beijo, não aprovaria aquele sentimento, não aprovaria aquele relacionamento desde o princípio. Mas quem se importa? Nico era livre para amar o seu loirinho o quanto quisesse.


一 Eu também gosto de você, William Andrew Solace.


 Will fez cara feia.


一 Ei! Nome todo não vale, Niccolò Di Angelo!


一 Vale sim!


一 Não, não mesmo!




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