Corpo

 



 Nico se esgueirou até o chalé de Apolo no meio da noite, receoso de que alguém o visse indo até lá ou que fosse pego pelas harpias da patrulha noturna. Por sorte, nada disso ocorreu e adentrou o chalé dos filhos do deus do sol sem muitos problemas. Uma música leve tocava, ajudando no sono de alguns campistas, mas aquilo só deixava o moreno mais tenso por ter que acordar seu namorado, Will, ainda que fosse por causa de uma emergência.

 Andou na ponta dos pés a fim de fazer o mínimo de barulho possível. Reconheceu os cachos dourados e bagunçados do Solace e ficou na beirada da cama, paralisado por um momento enquanto o admirava em seu sono. Tão lindo... Realmente parecia um anjo. Mas não pôde se prender a vontade de apenas observá-lo, teria que interromper os sonhos dele para obter ajuda.


一 Will... 一 Sussurrou num filete de voz, quase inaudível. 


 Nenhum movimento sequer. O loiro continuou imóvel.


一 Will. 一 Sussurrou com mais força, se dando conta de que ele não acordaria daquele jeito.


 Solace roncou brevemente, começando a parecer perturbado pela respiração fria em seu rosto, esta pertencente a Nico.


一 Will. 一 Disse um pouco mais energicamente enquanto o cutucava. 一 Preciso de você.


 O filho de Apolo apenas resmungou durante o sono e se virou de barriga pra cima. Di Angelo pensou em sentar em cima dele e tirar os cachos de sua testa para que ele despertasse, mas corou logo em seguida, se repreendendo pela ideia. Última alternativa:


一 Willy Wonka!


 O sussurro mais forte, acompanhado de um empurrão no ombro, foi o suficiente para que William Solace caísse ruidosamente da cama, um gritinho de susto entalado na garganta.


一 Nico! 一 Sussurrou, exasperado, ao vê-lo no chalé. 一 O que você tá fazendo aqui?


 O moreno mordeu o lábio inferior, receoso.


一 Eu preciso de ajuda.


一 Com?


 Ele respirou fundo antes de falar.


一 Com um corpo, na porta da minha cabana.


 Will parou de respirar por alguns segundos, sem saber como reagir.


一 O que?!?


一 Eu matei Sherman Yang quando ele jogou uma bombinha de festa junina do Paolo dentro do chalé. Ele tá lá apoiado no batente da porta, imóvel e meio que sangrando.


一 Meio que?


一 Hãn... é.


 Solace sentou em sua cama, respirou profundamente e pôs os dedos indicador e polegar na estrutura do nariz. Não era possível que até no meio da madrugada o filho de Ares não desse sossego até a um filho de Hades. Deuses do Olimpo. Agora teria que lidar com um possível corpo. Nico estava mudo, a cabeça baixa como se ele estivesse se sentindo muito mal por todo aquele transtorno. Segurou a mão do outro na sua.


一 Do que precisa que eu faça, Lorde das Trevas?


 Nico ignorou o apelido.


一 Preciso que veja se ele está bem e tente ajudá-lo a se recuperar. 一 Disse com calma. 一 Ou, se não tiver jeito, me ajude a me livrar do corpo.


 William riu brevemente, coçando os olhos em seguida. Se levantou e se espreguiçou.


一 Vamos passar na enfermaria pra pegar algumas coisas e olhamos isso, tá bem?


一 Tá...


 Sorriu ao vê-lo meio constrangido por tê-lo acordado e se inclinou para frente na cama, alcançando seus lábios rosados e deixando-lhe um beijo calmo neles. Olhou-o nos olhos ao se afastar, sorrindo para tranquilizá-lo.


一 Desculpe por te meter nessa.


 Will revirou os olhos, ainda sorrindo bobo.


一 Que isso. É sempre ótimo se aventurar pela madrugada com Nico Di Angelo.


 Se levantou.


一 Agora, venha, meu assistente. Temos um campista pra examinar.


 Nico riu baixinho, acompanhando-o.


一 Sim, senhor, doutor Solace.




Comentários