Chuvinha -- Capítulo Três

 



 Encontrei Nico na sala de música, que, por sinal, estava vazia e silenciosa demais pra uma sala de música. Estranhei porque Lou Ellen, minha amiga, gosta de praticar teclado antes das aulas. Fora isso, eu estava nervoso. Lá estava ele, perfeito e bonito como sempre. O sorriso que surgiu em seu rosto ao me ver foi o mais bonito que eu já vi.

 Comecei a não me achar merecedor de toda aquela alegria que ele demonstrava apenas porque eu havia chegado. O moreno veio até mim, pegando uma das minhas mãos na sua enquanto me olhava nos olhos. Os dele brilhavam. Me vi hipnotizado pelo tanto que Nico é perfeito.


一 Oi... 一 Sussurrou, tirando minha mochila dos meus ombros e jogando delicadamente em um canto qualquer.


一 Oi...


 Eu não conseguia quebrar o contato visual. 


一 Estava querendo falar com você.


 Corei, tendo uma ideia do que poderia se tratar.


一 Sobre o que seria?


一 Nossa relação. 一 Sorriu, pondo as mãos em meu pescoço e ficando na ponta dos pés para que sua boca ficasse mais perto da minha. 一 Eu não quero uma simples amizade, não mais depois do que houve entre nós.


 Contive um suspiro e repousei uma das mãos em sua cintura.


一 O que sugere?


一 Que namoremos. 一 Decretou, receoso. Sorri internamente ao perceber que ele não tinha certeza se eu queria a mesma coisa e que ele tem medo disso. 一 Tudo bem pra você?


 Rocei seus lábios nos meus e o beijei, devagar para causar-lhe mais expectativa. Eu podia sentir seu coração acelerado contra o meu, a energia ansiosa transparecida em seu olhar e maneira como me beijou, tudo demonstrando o quanto ele queria aquilo. Apertei sua cintura e guiei a outra mão até sua nuca, puxando de leve seu cabelo para o lado. Ouvi-o murmurar baixinho em aprovação, aprofundando o ósculo rapidamente.

 Me sinto na porra de uma montanha-russa. Numa hora eu tô só o pó da rabiola, mal pra um cacete, me achando a pior pessoa da face desta imensa terra e lembrando o motivo de não ter muitos amigos além dos que já tenho. Noutra eu tô me sentindo o rei da cocada preta, bonito, inteligente e uma pessoa digna do amor de Nico. Essa desgraça tá me deixando bem confuso.

 Dadas as circunstâncias, querido universo, se decida, cara. Ou eu tô querendo me jogar da ponte, ou eu tô me sentindo capaz de andar pelas Muralhas da China. Os dois se intercalarem de um minuto pro outro não dá. Sério mesmo. É confuso, é estressante, é angustiante e só me gera mais dor. Não tem como tirar no cara ou coroa o meu humor pelo resto da semana?

 Sinto um arrepio disparar pelo meu corpo quando as mãos gélidas de Nico me tocam por baixo da camisa. Ele arranhou levemente o meu peitoral, sugando minha língua em sua boca. Paramos pela urgência de respirar e ficamos nos encarando por alguns segundos, apenas o ruído constante de nossas respirações descompassadas cortando o silêncio da sala. Sorri.


一 Se você quisesse, já teríamos casado, Neecks.


 Seu rosto está vermelho. Os olhos se prendem nos meus imediatamente depois que terminei de falar, como se ele não acreditasse que aquilo tinha sido pronunciado por mim. Dou-lhe um selinho no canto dos lábios e me afasto, deixando-o meio atordoado. Jason bate na porta e entra antes que Nico possa formular uma frase coerente e dizê-la.


一 Se acertaram? 一 Ele questiona, com expectativa.


 Abro um sorriso para o Grace, que olha para o Di Angelo ainda meio em choque e mudo.


一 Aparentemente, sim. 一 Diz, nos chamando para fora da sala após olhar o corredor.


 Puxo o moreno pela mão e saímos da sala de música. Ele me olha com admiração, me para no meio do corredor e fica na ponta dos pés para beijar-me a bochecha afetuosamente, sorrindo ao se afastar e continuar andando. Gosto de como ele parece bobamente feliz pelo que aconteceu. E também estou feliz, irremediavelmente feliz. Estamos namorando afinal. Namorando. Deuses... Sou o namorado de Nico Di Angelo.



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 Percy, primo de Nico e um de seus amigos mais importantes, vem até mim na hora do almoço, para na minha mesa e me faz uma série de perguntas constrangedoras. Coro, reviro os olhos e respondo-as mesmo que as respostas tenham me dado vontade de vomitar. Sinceramente, eu já esperava e achava que estava até demorando pra isso acontecer.

 Annabeth, namorada de Percy, e o próprio Nico vieram em meu socorro depois de duas dúzias de perguntas. Meu, agora, namorado se desculpou pela impulsividade de Jackson, dizendo que ele é muito idiota por se meter assim. Ri e disse que era normal, acrescentando que meus irmãos e irmãs fariam o mesmo com ele quando tivessem a oportunidade.

 Ele riu e me aproximei levemente dele, não conseguindo resistir a tentação de beijá-lo outra vez. Di Angelo me correspondeu suavemente, mas não nos demoramos fazendo isso porque eu sabia que Jay e Per, apelidos que Nico usa com eles, estavam observando de longe.

 "Nossa, você está lidando bem com isso!". Não, caro leitor, não estou. Reprimi minhas inseguranças o dia todo porque é óbvio que Nico notaria meu desconforto e ficaria preocupado comigo. Já basta meus irmãos. Não quero ser um fardo emocional para ele, justamente agora que estamos nos dando tão bem como nunca.

 E... isso é estranho pra caralho e maravilhoso ao mesmo tempo. Eu amo ele, mesmo, mas essa reaproximação repentina é inevitavelmente esquisita. Antes eu fugia dele e de todos aqueles que o conhecem bem o bastante para atualizá-lo da minha situação nas aulas que já não tivéssemos juntos. Agora eu estou namorando com aquele que eu sentia o dever de evitar a qualquer custo sob a circunstância da probabilidade de ser rejeitado.

 Não sei se ele pensa o mesmo que eu. Claro, eu senti falta dele, mas o medo por não ser correspondido me atormentou durante anos e simplesmente acabou. Eu gosto dele e ele gosta de mim da mesma forma e intensidade. Não temos porque nos manter afastados e muito menos mantermos uma amizade. Então estamos namorando. Tipo, pra valer. Caralho...


一 Willie, você tá legal? 一 A voz de Nico me tirou de meus devaneios.


 Olhei-o nos olhos, percebendo que ele estava me observando brincar com a comida de um lado para o outro com o garfo. Assenti rapidamente, desviando o olhar.


一 Eu... estava pensando... 


 Eu precisava de uma mentira para não preocupá-lo.


一 ...se você não quer ir lá em casa depois da aula.


 Seus olhos escuros se iluminaram e meu olhar recaiu sobre o piercing se curvando a medida que seu sorriso crescia. Porra, ele é totalmente irresistível.


一 Seria ótimo. 一 Concorda ele. 一 Tô com dificuldade em ciências e física, então você podia me ajudar. Mas e depois?


一 Parece perfeito. Você pode dormir lá e... nós teremos um tempinho só nós dois. Podemos pôr o papo em dia e se atualizar da vida um do outro. 


 Ele soprou um sorriso e desviou o olhar para a própria refeição.


一 Realmente, parece perfeito.


 Sorri, pondo a mão em sua coxa por baixo da mesa enquanto o encarava.


一 Combinado?


 Ele ergueu o rosto para me encarar de volta. Estava um pouco corado pelo toque.


一 Combinado. 一 Assentiu.


 Insira todos os palavrões possíveis aqui. Eu ia levar Nico em casa. Eu ia levar o meu namorado na minha casa. Não era só o nervosismo por causa do tanto de tempo que já se passou desde a última vez, mas também porque eu iria ter que apresentá-lo para meu pai dessa forma e meus irmãos logicamente fariam perguntas. Dadas as circunstâncias, eu estava totalmente e irremediavelmente fodido.





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