Mesmo depois de ter passado por uma hipotermia, e ter sobrevivido, que mãe deixaria o filho ir para a escola no dia seguinte? Annabeth Chase, com certeza deixou. Ela não era uma dessas mães. Enxotou-o da cama assim que os primeiros raios da manhã caíram sobre o balcão da cozinha, balcão ao qual em pouco tempo se sentou em frente, para tomar café.
Piper foi mais amorosa e sorriu, dizendo um bom dia longo e amistoso enquanto passava manteiga em algumas torradas. Arthur passou por ali, se escondendo da matriarca. Esticou a mãozinha e tateou a mesa à procura do pote de pão. Achou algo com uma textura melhor e encheu os dedos, pegando uns seis ou sete cookies e sumindo pela porta da frente.
一 Pois bem. Como dormiu, querido? 一 Murmurou a McLean hesitante, não tendo certeza do que havia de errado.
Mikaella pegou um pão, enfiou na boca, vestiu uma luva de cozinha e tirou uma fornada de cookies fresquinha do, adivinha, forno. Ela mastigava devagar e era nojento, mas não parecia se importar. Pipes parecia finalmente notar que algo realmente estava errado, ou melhor, faltando em uma das tijelas.
一 O que que...?
一 Arthur roubou meia dúzia de cookies, se é isso que quer saber. 一 Dedurou a garota, raspando os biscoitos grudados na forma com uma espatula de madeira.
Annabeth, mesmo do outro lado da casa, pareceu ter ouvido e veio a passos rápidos.
一 Arthurus Isaque McLean Chase!
Rafael e Piper se entreolharam, prevendo o óbvio: Annie procuraria, mas não encontraria o pequeno. Parecia ter uma habilidade especial para se esconder. Também ficaram intrigados pelo uso do nome do meio. Ela geralmente corta o nome do meio e um pouco do primeiro, ficando apenas "Arthur McLean Chase". Era uma raridade ela usar tudo.
Mika riu e mordeu um cookie, misturando com o pão na boca. O garoto torceu o nariz pra ela, resmungando um "nojento" enquanto se levantava. Ver a irmã mais velha comer feito porca daquele jeito tirava seu apetite.
Annie logo chegou, derrotada. Para compensar não ter disciplinado um filho, fez com o outro, puxando a orelha da garota com força por seus modos nada apropriados mesmo dentro de casa. Pipes segurou o riso, observando a cena. Rafael prontamente lembrou de Nico, na noite anterior.
Olhou a hora e como já estava pronto, colocou a mochila nas costas, se despediu de suas mães e foi até a garagem. Lá, pegou sua bicicleta, mas parou ao ouvir o som de algo se partindo. Conferiu a corrente da bike, mas não havia nada de errado com ela. O som se repetiu. Era crocante.
一 Foi aí que você se escondeu! 一 Sussurrou Rafael, olhando para debaixo da mesa de escritório ali no canto.
Arthur nada disse, apenas comeu um cookie e fitou o nada. O garoto mais velho se sentou ao seu lado,
一 Não vai dar um para o seu irmão?
一 Toma...
一 Obrigado.
Comeram em silêncio.
Rafael tentou seguir o olhar do menino, mas ele fitava o chão. Acabou se distraindo com seus olhos. Um cinzento e outro azul-esverdeado-dourado. Mudavam constantemente de intensidade a medida que a iluminação também variava. Não podia deixar de se admirar com a profundidade deles. Todos que conhecia tinham olhos impressionantes, até mesmo Linch, que dizia ter olhos sem graça. Como se castanho-avermelhado fosse "sem graça".
一 No que está pensando? 一 Perguntou para quebrar o silêncio.
一 Sobre ontem...
一 Ah. O que quer saber?
一 Você ficou com medo?
Franziu o cenho.
一 De que?
一 Morrer...
Não respondeu. Não que não esperasse pela pergunta, apenas não estava preparado para ouvi-la sair da boca do irmão. Arthur o encarou, aguardando.
一 Sim, eu tive. 一 Confessou. 一 Eu tive medo de morrer.
Em resposta, ele sorriu. Rafael conferiu a hora em um relógio e se levantou. Precisava ir para a escola afinal. Pegou a bicicleta e colocou a mochila para frente, ajustando as alças para que não ficasse muito apertado. Subiu e deu uma pedalada.
一 "O medo é o pai da moralidade.", Friedrich Nietzsche.
Parou um pouco, subitamente surpreso.
一 Onde?
一 O que?
一 Onde leu isso?
O sorriso de Arthur foi de uma orelha a outra, tornando-se ainda mais doce.
一 Gosto das suas anotações.
Rafael sorriu também, sem saber se o repreendia ou se ficava orgulhoso. Respirou fundo, acenou com a cabeça e foi embora, pedalando para bem longe da ferinha que podia considerar seu aprendiz.
✉ ✲ ✉
As aulas em si não eram muito interessantes. Os professores repetiam matérias na tentativa de fazer os alunos decorarem, não passavam nada muito relevante e reclamavam quando os discentes não "aprendiam como deveriam". O mais chocante era que a responsabilidade sobre o conteúdo é completamente deles.
Nathan não havia comparecido, deixando ele e Jasper sozinhos. Jasper, por sua vez, ficava a maior parte do tempo com um garoto que gosta, Khristyan. O último citado tem longos cabelos em um tom loiro pálido, olhos pale blue, pele clara, traços delicados, voz baixa e sempre carrega um livro por aí.
Jasper é filho de Frank Zhang e Hazel Levesque, tem olhos e cabelos cor de bronze, traços fortes, personalidade dócil e é uma pessoa caridosa. Puxou a Frank em muitos aspectos físicos e de caráter, mas em questão de tomar atitudes e se preocupar, Hazel teve uma grande influência.
Comentários
Postar um comentário