15 Coisas que eu amo em você -- 1º: Comportamento

 



 Querido, Nico


 Primeira das 11 coisas que eu amo em você: Comportamento. Sim, comportamento... Dá pra parar de me julgar? Eu sei que é estranho que eu gosto do modo como você se porta, mas eu gosto. Se tu ligar pra um manicômio, eu me suicido e volto pra te buscar. Guarde bem essas palavras, Di Angelo.

 Não, eu não te acho arrogante, como outras pessoas que te conhecem de vista sussurram por aí. Acho que deve ser apenas um mecanismo de defesa. Um jeito que você encontrou para conseguir se manter sozinho, mas ser respeitado como merece.

 Você não é "maria vai com as outras". Você tem uma opinião própria. Por exemplo, você não gosta de Percy Jackson, o líder do clube de natação da escola. Todo mundo nesse fim de mundo gosta dele ou tem algo de bom pra elogiar, mas você é o único que não. E não é só não gostar. Você fala mal, cospe quando ele passa e ainda maltrata quando ele se dirige a você. O que é uma pena, pois ele faz o último item com frequência.

 Não sei se te admiro por sua coragem de rejeitá-lo, ou se temo que isso possa acontecer comigo se eu me aproximar. Hoje eu sentei na sua frente na aula de física e, quando eu menos esperava, senti um cutucão.

 Olhei pra trás e vi você. Do mesmo jeito de sempre. O mesmo comportamento de sempre. Esperei que você me desse a língua ou me xingasse, mas você não fez isso. Ao invés de me desprezar, você sussurrou meio trêmulo:


一 Você tem um casaco sobrando?


 Fiquei pensando na pergunta por um momento. Sua voz soara cautelosa, receosa. Então percebi que você tremia de frio. Mirei o ar-condicionado. Estava frio mesmo. Vasculhei minha mochila e encontrei um outro moletom amarelo-sol.


一 Tenho. 一 Sussurrei de volta. 一 Mas não é... er... preto ou de um tom escuro.


一 Não tem problema. Pode me emprestar?


 Entreguei o moletom e vi você vesti-lo. Corei e virei-me para frente antes que pudesse agradecer. Não queria que percebesse meu embaraço. Mesmo eu não "prestando atenção", aspas porque eu estava prestando sim, você murmurou um "obrigado". Um calor aconchegante percorreu o meu corpo no mesmo instante.

 Sei que não devia dar muito valor a algo tão simples, mas... Foi inevitável. Vinha de você. O "obrigado" tinha saído da sua boca. Como eu podia ignorar? Como ignorar algo tão lindo soando de você?

 Desculpe-me. Sei que é constrangedor ler isto. Imagine escrever. Deuses. As vezes penso que sou muito idiota por pensar nisso dessa forma. Quero dizer, as cartas. Você nem vai ler. Não pretendo colocá-las nas suas mãos, pelo menos não por hora.

 Provavelmente você vai ler quando eu, talvez, publicar o livro da minha paixão platônica. Você vai ver na livraria que frequenta, ver que fui eu que escrevi, vai comprar por puro interesse, vai ler e vai me zoar toda vez que me ver, porque, como eu já disse, meu amor é só meu, você não me corresponde. Provavelmente.

 Só de pensar que um dia você terá mil e um motivos para tirar sarro da minha cara pelo resto da vida, fico desanimado em escrever-lhe isso. Eu quero, quero mesmo, colocar no papel coisinha por coisinha que eu amo em você. Quero contar cada coisa mínima que você fermenta em mim. Entretanto, há 99,9 por cento de chance de você me zoar pra sempre.

 Eu sei que você não me enxerga além de o líder do clube de música do colégio. Eu sei que você não vê nada demais em mim. Eu sei que você ri da minha cara com os poucos amigos que tem. Eu sei que conta para as irmãs que eu sou um bobalhão. Eu sei que você não me ama.

 Mas dói. Dói saber de tudo isso. Dói ter certeza absoluta de tudo isso. Não é sua culpa. Você é incrível e eu sou apenas mais um na lista de possíveis pessoas que gostam de você. Mas essa é a questão. A grande questão. Eu não gosto de você. Eu amo você. Amo mesmo. Amo com todo o meu coração. Amo com toda a minha alma. Eu morreria por você, Nico. Será que consegue enxergar isso?

 Eu sei que sou apenas mais um. Não significo muita coisa. Nunca fiz muito por você. Pelo menos não que você tenha visto, mas eu fiz. Eu sei. Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei! Eu só queria que você me notasse. Eu só queria que você me enxergasse como eu sou. Eu só queria significar alguma coisa. Eu só queria... que você me amasse. Eu só queria que você me amasse tanto quanto eu amo você.

 Talvez eu seja louco por pensar algo assim. Talvez eu seja louco por desejar algo assim. Talvez eu seja louco por continuar te amando. Talvez eu seja louco por continuar lutando por você. Talvez eu seja louco por não ter desistido de você, mesmo sabendo os riscos de prosseguir amando você. Talvez eu seja louco por continuar desejando você.

 Talvez. Há uma grande probabilidade. Imensa probabilidade. Mas eu continuo lutando, continuo te amando, continuo discutindo com meus pais por sua causa, continuo pensando em coisas que te envolvam, continuo desejando que você se apaixone por mim, continuo barganhando com os deuses por você.

 Eu poderia desistir, mas não o faço. Eu nunca, desde que descobri esse sentimento, abri mão dele e nem de você. Meus irmãos me julgam por isso. Meus pais me reprovam por isso. Meus amigos me dão as costas por isso. Mas eu não me importo. Quer dizer, me importo, mas não deixo minha tristeza transparecer.

 Por você.

 Droga. Droga. Droga. Droga. Droga. Droga. Droga!

 Por que eu continuo tentando? Por que eu ainda corro atrás de você? Por que eu ainda desejo o impossível? Por que eu não desisti? Eu deveria ter feito isso antes que se tornasse impraticável voltar atrás. Eu deveria. Eu deveria. Eu deveria. Eu deveria...

 Porra! O que eu faço agora? Bem, acho que isso não se resolve escrevendo uma carta. Isso não vai se resolver dizendo para a causa de tanta angustia o que eu sinto. Ou melhor, escrevendo.

 Minha mão dói, Di Angelo. Não sei se por ter escrito várias vezes as mesmas coisas, não sei se por continuar escrevendo. Eu não me importo. Que se foda meus irmãos, que se foda meus pais, que se foda meus amigos, que se foda você. Vão todos se foder.

 Eu não me importo com essa merda. Eu não me importo. Do mesmo jeito que meus irmãos não verdadeiramente se preocupam. Da mesma forma que meus pais me reprovam. Do mesmo jeito que meus amigos me abandonam. Do mesmo jeito que você não se importa.

 Eu. Não. Me. Importo. Eu não me importo. Eu não me importo. Eu não me importo. Eu não me importo. Eu não me importo!

 Simples assim. Fácil assim. Prático assim.

 Eu não poderia me importar menos com essa merda.

 Mas, no fundo, eu me importo. Isso me incomoda. Meus irmãos não ligam pro que eu sinto. Meus pais me negligenciam. Meus amigos me deixam ao pó. Você não faz ideia de quem eu sou. Por que eu não me importaria? Esta carta é apenas o desabafo de um adolescente frustrado, cansado, maltratado, amargurado.

 Eu estou tão cansado, Di Angelo. Tão cansado. Eu só queria um pouco de apoio. Eu só... Quero um pouco de carinho. Um pouco de preocupação. Um pouco de cuidado. Um pouco de amor... É só disso que eu preciso. Mas eu estou tão cansado quanto sozinho nessa.

 Acho que eu deveria parar de escrever sobre o quanto eu estou frustrado e falar de você. Do que eu amo em você e não do quanto eu te odeio por me rejeitar desse jeito. Inconscientemente, mas é rejeição de um jeito ou de outro. E você sabe disso. Eu sei que sabe.




☀  ✲  




 Depois das aulas, você desfilou pelo corredor usando meu moletom. Eu devo dizer: Amarelo cai muito bem em você. A calça preta jeans, rasgada nos joelhos, te dava um ar rebelde, mas o moletom amarelo-sol te deixou com um ar tão adorável que quase derrubei meus livros de ciências quando você passou.

 Fiquei lhe encarando, parecendo um bobão. Você não parecia mais estar com frio, mas mesmo assim usava meu moletom, como se fosse aquela peça de roupa que a gente gosta tanto que mesmo quando o clima não é apropriado, nós usamos.

 O sinal tocou, mas você continuou na porta do laboratório de informática, conversando com Leo em um tom cansado, mas foi ficando mais entusiasmado a medida que você contava algo para ele. Não pude identificar pela distância, mas parecia importante.

 Valdez balançou a cabeça e colocou os dedos na estrutura do próprio nariz, como se não acreditasse que você continuava com um assunto como aquele. Ele lhe interrompeu, dizendo alguma coisa que parecia uma reclamação. Mas isso não te abalou. Você continuou falando, mas feliz do que antes.

 E ali estava eu, observando sua alegria quando deveria estar na aula de geografia. Não me leve a mal. Você é lindo. Foi difícil seguir o fluxo de alunos até a sala quando você estava a poucos metros de mim, sendo você de uma forma tão genuína que me enfeitiçou.

 Foi aí que você fez algo que me fez estremecer nas bases. Você ajeitou as mangas de meu moletom e levou o tecido ao nariz, aspirando meu perfume ali contido. Seu rosto transmitiu uma paz tão grande que eu perdi o chão. Seu tom se tornou suave ao falar e eu descobri uma reação sua que jamais imaginei que existisse: Êxtase. Por causa do meu cheiro.

 Talvez houvesse esperança para mim afinal. Talvez você tivesse ao menos uma queda por mim. Tenho quase certeza que a gente não cheira roupas de alguém que gostemos. Talvez os deuses tenham me ouvido. Talvez eu tenha conseguido fazer você gostar de mim, mas... como? Se você gosta de mim, por que mal olha na minha cara?

 Fui pra aula seguinte, me sentindo nas nuvens. Talvez você goste de mim. Um talvez bem grande, em letras garrafais, mas não é essa a parte em que quero focar agora. Pelo menos uma quedinha por mim você tem. Nossa... Nico Di Angelo? Gostando de mim?

 Acho que vou acabar derretendo nesse suéter, mas... Obrigado. Obrigado pelas esperanças que você me renovou. Precisarei de minha determinação para te conquistar. Sim, é exatamente isso que pretendo fazer. Com ajuda ou não. Não me importo. Apenas tenho uma pequena certeza de que posso me aproximar de você sem levar um fora imediato.

 Não sou Percy, admito, mas é exatamente por não ser ele que tenha a confiança necessária de chegar junto e não levar bronca sua ou receber olhares esquisitos. Se você me despachar, não vai ser de imediato, pelo menos. Eu espero... Mas me aguarde, Di Angelo! Me aguarde.



, com amor e determinação

William Andrew Solace <3





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