Aviso: Contém gatilhos, depressão, muita melancolia e comunidade ABO. Essa é a segunda parte e a primeira se chama Mesmo Que... e está disponível pra leitura aqui no Blog. Se não quiser ler e não aguentar os gatilhos, tudo bem. Dê chance para outras fic's que temos por aqui. Obrigada! Leia sempre! Boa leitura!
Ray tinha tentado criar coragem pra dizer o que lhe perturbava, mas a voz em sua cabeça continuava lhe insultando e falando que Norman não iria acreditar nele ou que não o apoiaria contra sua depressão. O moreno já tinha sucumbido ao desespero. Não sabia mais o que fazer.
Com o tempo, a dor foi se intensificando. Se jogassem toneladas de ácido em cima dele, teria o mesmo efeito. A cada dia, se sentia pior. Em consequência, começou a adoecer bastante também, já que o psicológico influencia muito o resto do corpo quanto a essas coisas. Norman tentava ajudar, mas isso só tornava tudo ainda mais difícil.
Foi de péssimo a incorrigível depois de Ray e o albino terem completado por volta dos quatro anos de namoro.
As crises de pânico aumentaram, a ansiedade cresceu cada vez mais, os pesadelos se tornaram ainda mais reais e assustadores, a dor era insuportavelmente indescritível. Todas as noites, o moreno acordava chorando, tremendo, soluçando e com muito frio. Além de uma dor angustiante. Era uma agonia irracionalmente devastadora.
Ray começava a ter ataques em público com mais frequência do que antes. As suas idas constantes ao psicólogo não estavam ajudando em nada mais. Foi ficando cada vez mais difícil esconder isso do namorado, mas então... Teve uma ideia brilhante. Uma ideia que, ao seu ver, era muito, muito boa.
Escreveu uma carta para Norman, explicando tudo o que estava passando e foi até os correios, para pôr a carta lá. Iria demorar para chegar na casa dele, com sorte, quando tudo estivesse mais calmo, talvez. O moreno tinha pedido perdão por tudo o que tinha feito ou que tinha deixado de fazer, programou e-mails automáticos para o dia seguinte e deixado a sua casa inteira limpa e organizada antes de sair.
Após ter levado a carta, por volta de meio-dia, apenas esperou o momento perfeito. Bum! Apenas uma bela de uma pancada extinguiu sua vida. A última coisa que se lembrava era de gritos, muito choro a sua volta e a sirene de uma ambulância antes de apagar de vez. Seu sangue banhou a rua e todos os carros pararam abruptamente. Pedestres em choque tentavam se acalmar depois do que viram: Um jovem tirando a própria vida ao se jogar na frente de um ônibus escolar.
Norman foi imediatamente contactado após o ocorrido, já que era a única pessoa realmente próxima à Ray. Foi o albino que planejou o enterro, foi ele quem verificou redes sociais, e-mails, cartas, diários e qualquer outra coisa. O detetive acabou vendo os boletos para o pagamento das consultas psiquiátricas e viu o histórico do antigo orfanato onde moravam depois que Norman tinha sido adotado.
A carta com todas as informações sobre chegou mais de um mês pós-funeral. Quando a ficha finalmente caiu e a verdade mais pura e amarga foi exposta, o de madeixas brancas não sabia o que pensar. Saber que ele estava passando por problemas psicológicos tão grandes não estava lhe ajudando.
A memória do corpo imóvel, o rosto sereno, a respiração inexistente, o sangue escorrendo lentamente. Aquela memória não o deixava dormir.
Boatos estranhos sobre o falecido autor que publicou um livro muito bem escrito na primavera começaram a se espalhar. Mensagens subliminares sobre sua depressão entre os parágrafos e os capítulos. Insinuações de sua dor e sua angustia diária em cada uma das páginas. Até mesmo Norman foi reler o romance. Uma das mensagens mais ousadas estava entre os sete parágrafos do capítulo sete: A palavra "SOCORRO" na vertical, a inicial de cada primeira palavra do parágrafo.
Uma das frases que mais ecoavam na mente conturbada do albino após a morte de seu amado era a seguinte:
"Ei, está tudo bem. OK? Eu vou ficar bem, se é que já não estou. Minha morte tem uma razão: Eu não fui forte o bastante pra enfrentar isso 'do jeito certo' e, por isso e muito mais, eu lhe devo desculpas. Mas... você é muito mais do que eu poderia sonhar em ser. Você é muito mais, muito melhor do que eu jamais seria. Você vai continuar firme e forte, como sempre. Sua força não é por minha causa, eu sou um peso morto, literalmente agora. Você é forte, apesar de mim. Você é forte, com ou sem mim..."
Cada pequena palavra fazia Norman entrar em prantos. O que porra era aquele raciocínio? Ele escondia seu humor mórbido todo esse tempo? Ele fingia estar bem quando estava tão mal consigo mesmo quanto essas palavras podem expressar? Por que diabos ele não lhe contou que estava passando por um momento tão difícil?
"Apesar de mim..."
Agora, Norman pensa se fez a coisa certa em não pressioná-lo a lhe contar quando teve a chance. Talvez o ômega estivesse ali, do seu lado, melhor emocionalmente e verdadeiramente feliz. Ou talvez... Não. Pensar em como as coisas poderiam ter sido não estava ajudando. Nunca ajudava.
O albino suspirou, seu hálito se condensando no frio. Na mão, violetas roxas com leves camadas de gelo nas pétalas.
一 E eu amo você 一 Sussurrou ele, a voz falhando pelo choro contínuo durante as madrugadas intermináveis 一 Você se achando forte ou não, eu amo você.
"Obrigado por tudo... Norman"
Muito profundo. Amei a fic!
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